domingo, 14 de maio de 2023

A CASA DAS SETE MORTES – O casarão assombrado em Salvador!

 

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Localização e características

 

A “Casa das Sete Mortes”, também conhecida como “Casa das Sete Facadas”, é uma centenária edificação presente no centro histórico de Salvador - BA. Construída por volta do século XVII, ela foi erguida na antiga Rua do Passo, onde atualmente é chamada de Rua Ribeiro dos Santos, número 24. Não se sabe quem foi o responsável pela sua construção, mas inicialmente ela foi usada como um imóvel residencial. Apesar de ninguém também saber ao certo o ano da sua construção, acredita-se que ela seja um dos casarões mais antigos do Brasil, uma vez que registros e mapas muito antigos já indicavam sua presença.

 

A arquitetura da casa mistura elementos característicos da arquitetura espanhola, portuguesa e árabe. A casa é composta por dois andares (três portas no térreo e quatro janelas e balcões no andar superior). A estrutura externa é de alvenaria revestida por azulejos azuis. Internamente a casa apresenta um pátio revestido de azulejos azuis e chão de mármore. Chama atenção também a presença de banheira incrustrada de conchas. Uma das provas do quão antigo é o casarão está na presença de azulejos portugueses azuis e amarelos, que de acordo com o pesquisador e ceramista Udo Knoff, são datados do século XVII.

 

Existem registros sobre alguns dos antigos residentes da casa, como o padre Manuel de Almeida (1756), Dona Catarina de Senna da Silva Marinho (1795) e Joaquim Esteves dos Santos (1881). Em 1936, o imóvel foi doado a Escola Técnica Casa Pia e Colégio dos Órfãs de São Joaquim.

 

Em 23 de março de 1943 a casa foi tombada como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A casa já foi reformada e restaurada diversas vezes, inclusive após o desabamento ocorrido em seus fundos em 1947. A última grande restauração foi feita em 2010 pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), sob coordenação do arquiteto Adolfo Roriz. Atualmente nela ainda funciona a Escola Técnica da Casa Pia, onde são ministradas aulas de música, canto e pintura.

 



 

Lenda

 


Em 1756 quatro pessoas perderam a vida na casa: o padre Manuel de Almeida, dois escravos e um trabalhador liberto. De acordo com registros do Arquivo Público da Bahia, alguém cometeu essas atrocidades usando uma faca, entretanto a autoria nunca pode ser determinada. A identidade do responsável por isso sempre foi um grande mistério.

 

Mais três mortes ocorreram no local posteriormente. Existem várias versões sobre como elas teriam acontecido. A hipótese mais aceita diz que uma escrava, cansada dos mal tratos que recebia, envenenou o casal de patrões e a filha. Também relatam que uma mãe viúva e duas filhas foram encontradas sem vidas já em avançado estado de deterioração. Suspeita-se que o autor do crime pudesse ser um português que namorava uma das filhas e não era bem aceito pela viúva. Entretanto essa hipótese nunca foi provada e o incidente nunca foi solucionado. Contam também que no meado do século XVII, houve desentendimento do proprietário do imóvel com o ajudante de ordens do Vice-Rei. Em retaliação, o ajudante teria mandado trucidar toda a família. Uma mulata que trabalhava na casa tentou se esconder adentrando ao forno, que ainda estava quente.

 

Independentemente da versão, o certo é que ao todo sete indivíduos perderam a vida naquele recinto, fazendo com que ele ganhasse fama como “A Casa das Sete Mortes”.

 

Após esses trágicos incidentes, os residentes do casarão começaram a presenciar algumas ocorrências estranhas no local. Chamou a atenção os barulhos que ecoavam dos cômodos no meio da noite, principalmente os sons de corrente. Muitas testemunhas afirmaram também ouvir passos mesmo quando a casa estava vazia. Portas e janelas se abrindo e fechando sozinhas também foi um fenômeno observado, inclusive por muitos operários que trabalharam na reforma feita em 2010. Também já foi relatada a presença de vários vultos e névoas estranhas percorrendo o local.

 

 

A assombração é uma fraude?

 

Alguns moradores dos arredores da Casa das Sete Mortes alegam nunca ter presenciado tais fenômenos e alguns nem mesmo sabiam que o local tinha fama de ser mal assombrado. Segundo Antônio Paulo, funcionário de um estacionamento localizado em frente à casa, a respeito das manifestações que ocorrem na casa ele relata: “Ouviu dizer não é exatidão”.

 

Danilo Junior, um morador do centro histórico de salvador e funcionário da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos afirma que o que aconteceu naquela casa virou apenas histórias contadas através do tempo: “Aqui têm lugares cheio de história, e eu aprendi muito porque meus tios, que cresceram aqui, me falam. Mas isso acaba sumindo, essa memória está sendo realmente perdida”.

 

A costureira Adélia de Jesus que trabalha no recinto ao lado do casarão relata nunca ter ouvido nada de incomum vindo do local. Por outro lado, ela afirma que algumas estruturas de madeira antigas podem estalar com o tempo e o ar ao passar entre frestas pode gerar um som parecido com gemidos. Apesar do ceticismo, Adélia não nega que o mundo espiritual possa existir: “Essas coisas do mundo espiritual acontecem, a gente não pode dizer que não existem. Pelourinho é lugar de sofrimento né?”.

 

Tais afirmações levantam o seguinte ponto: seriam as assombrações verdadeiras ou um elemento inventado para explorar turisticamente o imóvel?

 



 

Visite o casarão

 

Logo após a última grande reforma feita em 2010, se iniciou um projeto de visitas guiadas à Casa das Sete Mortes. O local funciona de segunda à sexta, de 14 às 17h.

 

 

Referências

365 motivos para amar Salvador à https://bit.ly/3kcfWhF

Aventuras na História à https://bit.ly/3AXnuMb

Casa Pia à https://bit.ly/3zjdpZG

Ipatrimônio à https://bit.ly/3D3lRhM

Raposa Comunicações à https://bit.ly/3y7DUQ0

Super Interessante à https://bit.ly/3k9THsM

Wikipedia à https://bit.ly/3z5T35P

domingo, 2 de abril de 2023

LOUISA COPPIN (Little Weesy) – O fantasma que localizou navios perdidos!

 

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  Expedição de Franklin

 

Em 19 de maio de 1845, o famoso explorador inglês John Franklin saiu em uma grande expedição. Comandando dois navios, o HMS Terror e o HMS Erebus, Franklin liderou uma missão para explorar o Ártico e mapear a Passagem Noroeste (via marítima entre o Canadá e as geleiras do Ártico). Franklin era um distinto oficial da marinha que tinha experiências com viagens até essa região.


A expedição tinha uma previsão de durar cerca de um ano, mas no ano seguinte à partida algo parecia ter saído da normalidade. Toda tentativa de comunicação com os tripulantes era mal sucedida. Desde então não se teve mais notícias da expedição, o que se tornou um dos temas mais comentados no mundo à época. Sem maiores informações, Jane Franklin, esposa de John, começou a investigar por conta própria o que poderia ter acontecido com a expedição.

 




  Família Coppin

 

A família Coppin era residente da cidade norte-irlandesa de Derry (Ivy House, 34 Strand Road).  Ela era composta por William e Dora Coppin, que juntos tiveram cinco filhos.  Louisa Coppin, apelidada de “Little Weesy” nasceu em 7 de setembro de 1845, como terceira filha dos cinco que o casal concebeu. William era um construtor naval bem reconhecido, e por isso era bastante disputado pelos navegadores que planejam longas expedições.

 

 

Fantasma de Weesy

 

Com apenas 3 anos de idade Little Weesy sofreu um febre gástrica e acabou morrendo no dia 27 de maio de 1849. Entretanto, cinco meses após sua morte ela teria feito uma aparição para seus irmãos, na forma de uma esfera luminosa azulada que era vista principalmente pela irmã Anne.

 

As aparições de Weesy ficavam cada vez mais constantes. Os Coppin até mesmo começaram a reservar um lugar para ela na mesa durante as refeições. Mas em uma noite, Weesy começou a mostrar alguns poderes clarividentes. Anne estava em seu quarto quando viu Weesy projetar um brilho que formava as seguintes palavras na parede: “Sr. Mackay está morto”. Anne rapidamente relatou o ocorrido à tia, mas ela não conseguiu ver as palavras, por algum motivo apenas Anne era capaz de enxerga-las. No dia seguinte, chegou a notícia que um banqueiro amigo da família tinha morrido durante a noite. Seu nome era justamente Sr. Mackay.

 

Diante disso, a tia sugeriu a Anne perguntar ao fantasma de Weesy sobre o paradeiro da expedição de Franklin, já que esse era um dos maiores mistérios que cercava o mundo naquele momento. Em resposta, Weesy teria projetado algumas iluminações espectrais que novamente apenas Anne conseguia enxergar. As projeções mostravam uma espécie de mapa ártico com dois navios em meio a montanhas de neve e canais estreitos. Ela também mostrou um homem de rosto arredondado que subia o mastro e acenava com seu chapéu. Quando Weesy foi questionada sobre a localização exata de Franklin, ela projetou as seguintes letras: “P.RI” e “BS”. Anne repassou todas essas informações a um papel e mostrou a seu pai quando ele chegou de uma viagem.

 

 

Seguindo as pistas do fantasma

 

Devido à ocupação de William (construtor naval), ele tinha certo conhecimento sobre navegação. Então ele sabia que aquelas letras eram abreviações de Prince Regent Inlet (P.RI) e Barrow’s Strait (BS), que são dois estreitos na região ártica. William Coppin ficou impressionado com aquelas informações e diante do desespero público de Jane Franklin (a esposa do desparecido navegador John Franklin) em ter informações sobre o marido, ele decidiu enviar uma carta a ela relatando o ocorrido.

 

Apesar das autoridades sempre demonstrem ceticismo quanto a essas informações, Jane teria se sentindo influenciada e contou com o apoio de comerciantes e banqueiros para fazer buscas na área revelada pelo fantasma. A expedição liderada por McClintock partiu para essa região e em 1859 obteve uma resposta definitiva na Ilha King William, uma ilha que fica ao sul de ambos os estreitos (Prince Regent Inlet e Barrow’s Strait). McClintock encontrou um barco com esqueletos e uma nota que explicava que Franklin havia morrido em junho de 1847. A nota também informava que parte da tripulação havia abandonado os navios em abril de 1848 e se perderam nas geleiras, onde nunca foram encontrados.

 

Jane Franklin e McClintock jamais assumiram ter seguido o conselho paranormal, tanto que essa estória só veio à tona após a morte de Jane. Acredita-se que eles temiam se tornar motivo de chacota pública ao seguir uma pista dada por um fantasma. Mas coincidentemente as buscas só foram feitas na região após William Coppin enviar a carta. Antes disso as pesquisa se focavam nas ilhas e estreitos mais ao norte do Ártico.

 




Registros

 

A história do fantasma de Coppin foi publicada em 1889 no livro “Sir John Franklin: o verdadeiro segredo da descoberta de seu destino” de Joseph Henry Skewes. A história de Little Weesy foi o tema do romance “A despedida do emigrante de Liam Browne” (2006). Também foi tema de um romance infantil “Chasing Ghosts - An Arctic Adventure”, de Nicola Pierce (2020).

 

O livro de Skewes alegou que as direções originais de Weesy eram muito mais claras do que algumas iniciais enigmáticas. Segundo ele, ela projetou as seguintes palavras “Erebus e Terror. Sir John Franklin, Lancaster Sound, Prince Regent Inlet, Point Victory, Victoria Channel”. De acordo com a versão do livro, as palavras projetadas por Weesy diziam respeito às duas embarcações de Franklin (Erebus e Terror), ao nome do capitão (John Franklin) e a pontos geográficos em volta da Ilha King William, onde eles foram encontrados (Lancaster Sound, Prince Regent Inlet, Point Victory, Victoria Channel). Entretanto o livro de Skewes sempre foi acusado de ser muito fantasioso e exagerado, o que faz com que essa versão não tenha tanta credibilidade.

 

 

Fraude?

 

Muitos acusam a estória envolvendo o fantasma de Weesy de ser uma fraude. Após o lançamento do livro de Skewes, o capitão McClintock (responsável por encontrar a expedição e Franklin) negou veementemente ter seguido orientações de um fantasma. Além disso, o historiador Russel Potter afirma que as alegações fantasmagóricas de Weesy se verdadeiras não foram tão precisas como se imagina. Não há evidências de que o Terror ou o Erebus realmente tenham passado pelo Prince Regent Inlet, já que existem outras rotas marítimas até a Ilha King William. Além disso, quando Weesy revelou a visão de um Franklin saudável balançando o chapéu do topo do mastro, ele já estava morto há mais de dois anos.

 

Sendo verdade ou fraude, a história do fantasma de Little Weesy ganhou notoriedade e é sempre citado ao se lembrar da expedição de vitimou Franklin.

 

 

Referências

Mental Floss à https://bit.ly/3xLQiFd

Neatorama à https://bit.ly/3CNo68P

The Spectral Presence of the Franklin Expedition in Contemporary Fiction à https://bit.ly/3lZLYA9

Wikipedia à https://bit.ly/37KWanD

sábado, 18 de março de 2023

A CARRUAGEM DE ANA JANSEN – A assombração de uma perversa mulher!

 

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A vida de Ana Jansen

 

Ana Jansen

Ana Joaquina Jansen Pereira, também conhecida como Donana, nasceu em 1787 na cidade de São Luís - MA. Era filha de Vicente Gomes de Lemos Albuquerque e Rosa Maria Jansen Müller, descendentes da nobreza europeia que imigraram para São Luís. Ainda solteira, Donana engravidou de um homem desconhecido, nunca mencionado em nenhum tipo de registro. Á época, ela foi considerada uma mulher duplamente desonrada por ter relações antes do casamento e ser mãe solteira. A consequência disso foi a expulsão de casa, por ordem do próprio pai.

 

Sozinha no mundo e passando muitas dificuldades, ela conheceu o coronel Isidoro Rodrigues Pereira, na época, o homem mais rico da província. Logo ela se transformou em sua amante e foi morar, junto com seu filho, em uma casa cedida por ele. Apesar da sua condição de vida melhorar, ela continuou sendo mal vista pela sociedade. Existia até mesmo uma mulher que personificava toda perseguição que a sociedade tinha com Ana. Seu nome era Rosalina Ribeiro. Quando Vicência, esposa de Isidoro, morreu, ele assumiu sua relação com Ana e se casou com ela. Até a morte de Isidoro, eles permaneceram juntos por 15 anos e tiveram 6 filhos juntos.

 

Ana passou a conduzir os negócios de Isidoro aos 38 anos de idade. Ele gerenciou a produção cana-de-açúcar e algodão na Fazenda Santo Antônio e foi capaz de triplicar a fortuna de seu falecido marido. Ana mantinha um grande número de escravos e exercia grande influência política na região. Ela chegou a se relacionar com o “Partido Liberal Bem-te-Vi” e “Partido Conservador”, sendo muito ativa no financiamento de campanhas de algumas revoltas ocorridas no nordeste, como a “Revolta da Balaiada”. Ela também montou uma central de destruição de água no município. Esses fatos fizeram que ela fosse vista de forma mais respeitada e recebesse o apelido de “Rainha do Maranhão”.

 

Ela chegou a ter mais 4 filhos após a morte de Isidoro, com um amante, o Desembargador Francisco Vieira de Melo. Aos 60 anos ela se separou do amante e se casou oficialmente pela segunda vez, com comerciante paraense Antônio Xavier. Em 1869 Ana morreu aos 82 anos de idade, por causa naturais.

 

Dada a importância que Ana Jansen teve na sociedade maranhense, em São Luís, existem ruas com o seu nome e uma lagoa em sua homenagem. A Lagoa da Jansen é considerada um dos principais pontos de lazer da capital.

 

Lagoa da Jansen - São Luís-MA


 

O lado perverso de Ana Jansen

 

Todo sucesso e prosperidade de Ana também despertava inveja às pessoas. O fato de uma mulher ter um papel de liderança ainda era visto com muito preconceito á época, ainda mais considerando uma mulher com todo histórico de Ana Jansen: impura, mãe solteira e amante. Então logo começaram a surgir várias histórias que tentavam manchar sua imagem. Os principais boatos diziam respeito da forma dura e autoritária na qual ela conduzia seus funcionários e escravos. Dizem que ela chegava até tortura-los e mutila-los quando não concordava com alguma conduta. Há relatos que ela pendurava os escravos de cabeça para baixo e os descia até o fundo de poços. Ela também já os usou algumas vezes como tapete, para não sujar seus sapatos franceses no chão. 

 

Em entrevista concedida ao portal O Estado do Maranhão, o historiador Rodrigo do Norte conta que essas histórias não passam de boatos para difamar Ana: “Ela maltratava escravo assim como toda a sociedade brasileira maltratava, não era exclusividade dela”.




  

O lado sobrenatural de Ana Jansen

 

Após a morte de Ana, começaram a surgir boatos de que seu casarão era assombrado pelas almas dos escravos vitimados por ela. 


Entretanto, a lenda mais famosa sobre Ana Jansen diz respeito a sua carruagem. Dizem que por todas as maldades feitas em vida, ela foi condenada a passar a eternidade vagando nas ruas com sua carruagem. De acordo com os relatos, nas madrugadas de quinta para sexta-feira de lua cheia, seu veículo perambula pela cidade, tendo ponto de partida o cemitério do Gavião. A carruagem é conduzida por um esqueleto de escravo decapitado, coberto de sangue. O veículo não é puxado por cavalos normais. Nos lugar deles, há cavalos também decapitados. Também já foram vistos até mesmo mulas-sem-cabeça puxando sua carruagem. Por onde passa, a carruagem emite horripilantes sons que misturam a lamentação dos escravos e o atrito de velhas ferragens sendo arrastadas pelas ruas.

 

Dizem que quando uma pessoa se depara com essa manifestação, o fantasma de Ana Jansen sai do interior da carruagem e lhe concede uma vela acesa. Quando a escuridão da noite vai embora e os primeiros raios de sol começam a surgir, as vítimas conseguem ver que na verdade aquela vela é um osso de defunto.

 

Acredita-se que a lenda da carruagem de Ana Jansen lenda sido inspirada em contos relacionados a outros personagens reais da aristocracia de uma localidade, também envolvidos com atrocidades em vida, como é o caso de o Vlad, o Empalador na Romênia (o verdadeiro Drácula), Gilles de Rais na França e Isabel Bathory na Hungria.

 



 

Referências

 

Academia Maranhense à https://cutt.ly/TjAlwG8

Aventuras na História à https://cutt.ly/JjTrPGl

Info Escola à https://cutt.ly/RjAlQKK

Lendas do Maranhão à https://cutt.ly/QjUFPr5

O Redescobrimento das Américas à https://cutt.ly/ijOvPNP

Wikipedia à https://cutt.ly/JjYtuuM

domingo, 12 de fevereiro de 2023

CHUVA DE ANIMAIS – Um fenômeno mais comum do que se imagina!

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O fenômeno

 

A “Chuva de Animais” foi um fenômeno caracterizado pela queda de peixes, sapos e aves do céu, que acontecia em algumas cidades ao longo da história. A maioria dos animais se apresentavam mortos congelados, envoltos em blocos de gelo ou apenas em pedaços. Em alguns casos, principalmente os peixes, se apresentam vivos e sobrevivam à queda.




 

 

Relatos

 

Um dos primeiros relatos acerca da ‘Chuva de Animais’ data do antigo Egito. Em registros de um papiro egípcio (precursor do papel usado para a escrita dessa civilização) indicava a ocorrência de queda de peixes e pássaros do céu. Na Bíblia, mais especificamente Êxodo 8:5,6, há o relato da precipitação de rãs, como uma das 10 pragas do Egito. No século IV a.C. o autor grego Ateneu mencionou a ocorrência de uma chuva de peixes que durou três dias na região de Queronea na península de Peloponeso. No século I, o escritor e naturalista romano Plínio descreveu uma chuva de pedaços de carne e pedaços de animais, sangue e rãs. Na Idade Média esse fenômeno era tão recorrente que muitas culturas começaram a crer que peixes nasciam no céu e só então caiam no mar.

 

Na era moderna também existem diversos relatos sobre a ocorrência da ‘Chuva de Animais’. Em 1578 na cidade norueguesa de Bergen, grandes ratos amarelos caíram do céu. Em uma carta datada de 11 de julho de 1836, um professor relata à Academia de Ciências Francesa que presenciou uma chuva de sapos na cidade francesa de Cahors. Em 16 de fevereiro de 1861 a cidade de Singapura foi acometida por terremotos e chuvas. Em muitos locais em que se acumulou água foram encontrados peixes, que de acordo com algumas testemunhas, caíram junto ao dilúvio. A revista Scientific American registrou um fenômeno parecido, no qual foram encontradas serpentes em poças de acúmulo de chuva na cidade de Memphis, em 15 de janeiro de 1877. Considerando apenas os Estados Unidos, houve o registro de mais de quinze eventos de chuvas de animais apenas no século XIX. Em junho de 1880 Valência foi assolada por uma chuva de codornas. Em 1978 houve uma chuva de caranguejos no estado australiano de Nova Gales do Sul. Em 2007, foi registrada a queda de minhocas do céu na cidade de Jennings, em Louisiana. No estado da Dakota do Norte, Estados Unidos, testemunhas afirmaram que encontram várias minhocas na aba de seu chapéu após tomarem chuva. Até mesmo animais marinhos como águas-vivas, polvos, estrelas-do-mar e ostras caíram do céu em Bath (Inglaterra) no ano de 1894 e em Qingdao (China) em 2018.

 

Chuvas de sapos e rãs também foram registradas em Leicester (Massachusetts, Estados Unidos) em 7 de setembro de 1953, em Birmingham (Inglaterra) em 1954, em El Rebolledo (Espanha) em 2007, em Ràkòczifalva (Hungria) em 2010 e em Acle (Norfolk, Inglaterra). Em Ishikawa (Japão) foi observada a chuva de girinos em 2010. Relatos de chuvas de aves foram obtidos em St. Mary's City (Maryland, Estados Unidos) no ano de 1969, em Schenectady (Nova York, Estados Unidos) em 2006 e em Beebe (Arkansas, Estados Unidos) em 2011. Chuvas de peixes foram registradas na cidade de Essex (Inglaterra), em Korona (Grécia) no ano de 2002 e em Lajamanu (Austrália) em 2010, no qual muitos animais ainda estavam vivos.

 

Em um relato de 1947, AD Bajkov, um biólogo do Departamento de Vida Selvagem da Louisiana afirmou que em uma chuva de peixes “havia locais na Main Street, nas proximidades do banco (a meia quadra do restaurante), com média de um peixe por metro quadrado. Automóveis e caminhões os atropelavam. Peixes também caíam nos telhados das casas ... Eu pessoalmente coletei na Main Street e em vários metros da Monroe Street, um grande frasco de espécimes perfeitos e os conservei em formal, a fim de distribuí-los entre vários museus”.

 

O jornalista norte-americano Charles Hoy Fort foi uma das pessoas que mais documentou o fenômeno. Na Biblioteca Nacional de Nova Iorque há cerca de 60 mil fichas desse autor sobre a chuva de animais.

 

No Brasil, há um relato de chuva de carne e sangue em 1968. Em 2013 foi registrada uma chuva de aranhas em Santo Antonio da Platina, Paraná.

 



 

Explicações

 

A primeira tentativa de explicação do fenômeno data do século V, quando o filósofo grego Teofrasto afirmou que os sapos não caiam junto à chuva. Para ele, a chuva encharcava o solo e isso fazia com que os sapos saíssem de seus esconderijos subterrâneos, fazendo com que houvesse a falsa ligação de um acontecimento com o outro. Já no século XVI o inglês Reginald Scot se baseou na teoria da abiogênese (origem da vida a partir de matéria não viva) para explicar como surgiam animais em meio às chuvas. De acordo com outra teoria surgida no século XIX, quando a água de lagos ou rios evaporavam, o vapor arrastava junto ovos de rãs que haviam sido colocados ali. Nas nuvens esses ovos eclodiam e os animais caíam na terra junto com a chuva. Em 1859, após uma chuva de peixes em Mountain Ash, País de Gales, muitos chegaram a acreditar que o fenômeno foi armado por pessoas que esvaziaram baldes com peixes fazendo testemunhas acreditarem que eles caíram do céu.

 

O físico francês André-Marie Ampère foi o primeiro a tentar explicar cientificamente o fenômeno da “Chuva de Animais”. De acordo com ele, a densidade populacional de sapos e rãs segue uma sazonalidade. Nas épocas do ano de maior contingente, fortes tornados podem capturar e dispersar os anfíbios a grandes distâncias. O fato desses anfíbios se locomoverem por meio de pulos faz com que eles sejam alvos fáceis para tornados. Esse fenômeno climático, que consiste em arrastar objetos do solo por um vórtex de ventos, é conhecido como corrente ascendente e a força desses ventos pode alcançar cerca de 100 km/h. Caso o tornado atravessasse um bando de aves em pleno voo, essas também seriam envolvidas no fenômeno. Existem dados de um instituto meteorológico do Texas, chamado National Weather Service, mostrando que um grupo de morcegos foi alvo de um tornado, sendo arrastados por ele durante todo seu percurso. Esse achado confirma que esse fenômeno poder ser replicado na prática. Embora a teoria seja bem fundamentada, ela não explica o envolvimento de outros animais no fenômeno, como os peixes.

 


Nesse sentido, surgiu a teoria do envolvimento de trombas marinhas. Tornados que se originam em um corpo d’água formam as chamadas “trombas”, que também são capazes de arrastar a água e tudo nela contida, incluindo os peixes.  Algumas evidências sugerem que esses tornados são capazes de até mesmo secar um pequeno lago, dada a grande quantidade de água que podem carrear. De acordo com Ernest Agee, professor da Universidade Purdue (Estados Unidos), ele viu “pequenos lagos literalmente serem esvaziados por um tornado que passou. Portanto, não seria irracional que sapos (ou outros seres vivos) 'chovessem' dos céus”. As trombas d'água podem girar até 160 km/h, exercendo assim um efeito de arraste pelo vácuo criado em seu interior. Conforme as trombas d'água ascendentes se movem sobre a terra, elas perdem sua energia turbulenta, então todas as partículas arrastadas por ela começam a cair. Essa teoria é reforçada pelo fato de que, com frequência, a chuva de animais é precedida de uma grande tempestade associada a fortes ventanias.  

 

Uma explicação diferente foi dada no caso da chuva de aves que ocorreu em Arkansas em 2011. O incidente ocorreu coincidentemente no Reveillon pouco depois da meia-noite. Levantou-se a possível hipótese de que fogos de artifício tenham causado a mortalidade de pássaros no céu, fazendo com que eles caíssem aos montes no solo.

 

Muitos céticos não creem na ocorrência da chuva de animais. De acordo com o naturalista francês Francis de Laporte, a ocorrências de peixes em poças d’água (como o incidente de Singapura em 1861) foram em virtudes da capacidade de alguns peixes migrarem pelo solo (como por exemplo, os peixes-gato, os lúcios e as enguias que são capazes de percorrer quilômetros em solo úmido). Além disso, as tempestades preenchem tocas de minhocas e larvas, além de derrubarem pássaros das árvores e telhados, dando a falsa impressão que eles caíram junto com a água.

 

Existem também as explicações com apelo sobrenatural. As explicações de natureza religiosa são centradas na crença que a chuva de animais é um castigo divino como o que ocorreu contra o exército amorita no Antigo Testamento. Nas hipóteses ufológicas, acreditam que alienígenas abduzem uma grande quantidade de espécies para estuda-las. A chuva de animais nada mais seria que um descarte de espécies sem interesse por parte deles. O jornalista Charles Hoy Fort chegou a propor que a existência de diferentes dimensões e planos espaço-temporais podem explicar o aparecimento repentino de animais no céu.

 

Apesar das várias teorias, alguns aspectos do fenômeno seguem sem uma explicação lógica. Por que na Chuva de Animais há o envolvimento de apenas uma espécie animal de cada vez? Por que alguns animais permanecem vivos e em perfeito estado após a queda? A primeira questão é, em parte, respondida. Na natureza, os animais tendem a competir muito entre si, seja por alimento e/ou território. Isso faz com que uma área em específico seja mais concentrada quanto a uma única espécie. Portanto, essa área ao ser alvo de um tornado, este acabaria arrastando predominantemente a espécie mais estabelecida no local. Além disso, espécies diferentes têm densidades e aerodinâmicas também muito diferentes o que faria com que, caso fossem capturadas juntas por tornados ou trombas d’águas, caíssem em pontos diferentes. É o que afirma o professor da Universidade de Washington, William Hayden Smith: objetos de tamanho e peso semelhantes seriam naturalmente depositados juntos. À medida que os ventos perdem sua energia, os objetos mais pesados ​​caem primeiro e os menores caem depois.




 

 

Cultura popular

 

Existe uma famosa expressão na língua inglesa que faz menção a esse fenômeno: “It's raining cats and dogs” (está chovendo cães e gatos). A primeira citação foi na obra de Jonathan Swift, intitulada “A Complete Collection of Polite and Ingenious Conversation”, de 1738. A expressão é popularmente utilizada para descrever uma chuva muito forte.

 

No filme “Magnolina” (1999) há a representação de uma chuva de sapos, enquanto que no filme “Le Dernier Combat” (1983) é representado uma chuva de peixes.

 

No livro “Sido”, a autora Colette escreve “Ao passarem as nuvens, tomei um banho sentada, Antoine molhado, e a capa cheia de água, uma água quente, uma água a dezoito ou vinte graus. E quando Antoine quis virar a capa, o que encontramos? Rãs minúsculas, vivas, pelo menos trinta trazidas pelos ares por um capricho do Sul, por uma tromba de água quente, um desses tornados que em espiral reúne e leva a cem lugares um penacho de areia, sementes, insectos…”.

 

Já em “Le Capitaine Pamphile”, Alexandre Dumas escreve “[…] lembrava-se de ter lido, alguns dias antes, sobre o episódio de Valenciennes, que esta cidade fora local de um fenómeno fortemente singular: uma chuva de sapos caíra com trovoada e relâmpagos, e em tal quantidade, que as ruas da cidade e os tectos das casas estavam cobertos. Imediatamente depois, o céu, que duas horas antes era cor de cinza, era agora azul indigo. O contratado do Constitutionnel olha para cima, e, vendo o céu negro como tinta e Tom no seu jardim, sem saber o modo como ele tinha entrado, começou a acreditar que um fenómeno parecido com o de Valenciennes estava a ponto de se repetir, com a única diferença de que em vez de sapos, choveria ursos. Um não era mais surpreendente que outro; o granizo era mais grosso e perigoso: e é tudo.”

 

A chuva de peixes também é descrita na literatura japonesa, em Kafka à beira-mar, do autor  Haruki Murakami.

 



 

Referências

 

Brasil Escola à https://cutt.ly/4zFuVt7 e https://cutt.ly/hzVMQHN

G1 à https://cutt.ly/HzKtIIK

Library of Congress à https://cutt.ly/pxf6Z7b

National Geographic à https://cutt.ly/IxeK006

Showers of Organic Matter à https://cutt.ly/6xUSI55

Wikipedia à https://cutt.ly/vzjWsTW

domingo, 1 de janeiro de 2023

D. B. COOPER – O sequestrador de avião que sumiu no ar!

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Resumo do caso

 

D. B. Cooper é um nome fictício usado para se referir a um homem desconhecido que sequestrou um Boeing 727-100 da empresa “Northwest Orient Airlines”. O suspeito utilizou o falso nome “Dan Cooper” para comprar a passagem, mas devido uma falha de comunicação da mídia durante a cobertura do caso, ele ficou conhecido como D. B. Cooper.

 

O sequestro aconteceu no espaço aéreo entre os estados norte-americanos do Oregon e Washington, no dia 24 de novembro de 1971. Durante sua ação, D. B. Cooper ameaçou explodir o avião com bombas que estava em sua bolsa e pediu um resgate de 200 mil dólares,. Para escapar ileso, ele pulou do avião usando um paraquedas que também pediu no resgate e desde então nunca mais foi visto. Mesmo com várias perseguições e com uma investigação minuciosa do FBI, ele nunca pode ser localizado nem mesmo identificado. Apesar do FBI desistir do caso é investigado até nos dias de hoje por amadores e autônomos. Mesmo com várias pistas investigadas, ele ainda é considerado o único sequestro aéreo sem solução na história da aviação dos Estados Unidos.



 

O sequestro

 

Todo esse caso se iniciou na cidade de Portland, estado de Oregon, Estados Unidos. Era uma tarde do dia 24 de novembro de 1971, véspera do dia de Ação de Graças, um dos principais feriados norte-americanos. Um homem portando uma mala preta se dirigiu até o guichê da Northwest Orient Airlines e comprou uma passagem para o voo 305, com destino a Seattle, no estado de Washington. O homem se identificou como Dan Cooper e comprou o bilhete referente ao assento 18 C (ou 18 E ou 15 D, de acordo com outros relatos), custando US $ 20,00.

 

Depois de comprar a passagem, Dan Cooper embarcou no Boeing 727-100 (registro N467US) e sentou em seu respectivo assento, onde fumou um cigarro e pediu um uísque Bourbon e refrigerante enquanto a decolagem não iniciava. O voo estava apenas com um terço de sua capacidade (36 passageiros), mas alguns tripulantes testemunharam posteriormente que Dan Cooper aparentava ter cerca de 40 anos, altura variando de 1,78 m a 1,83 m e vestia capa de chuva preta, um terno escuro, mocassins, uma camisa de colarinho branco bem passada, uma gravata preta e um alfinete de gravata de madrepérola.


O voo decolou pontualmente as 14 h 50 min. Após a decolagem, Dan chamou a comissária Florence Schaffner que estava em um assento auxiliar próximo a porta da escada traseira, e a entregou um bilhete. Pensando em se tratar apenas de uma cantada, a comissária colocou o bilhete no bolso e nem se deu ao trabalho de verificar seu conteúdo. Foi então que Cooper se aproximou dela e sussurrou:

 

“Srta., é melhor você olhar aquele bilhete. Eu tenho uma bomba”.

 

Só então Schaffner abriu o bilhete para ler seu conteúdo. Nele, estava escrito em letras maiúsculas feitas com caneta hidrográfica:

 

“Tenho uma bomba na minha maleta. Vou usá-la se necessário. Quero que você sente-se ao meu lado. Você está sendo sequestrada”.

 

Receosa, Schaffner decidiu acatar a ordem ao sentar-se ao lado de Cooper, mas solicitou que ele mostrasse a bomba. Foi então que Cooper abriu sua maleta preta e dentro dela foi possível ver 8 cilindros vermelhos presos com fios junto a uma bateria cilíndrica. Depois disso, Cooper exigiu 200 mil em "moeda americana negociável", quatro paraquedas (dois primários e dois de reserva), e um caminhão de combustível no aeroporto de Seattle para reabastecer a aeronave.

 

A comissária foi até a cabine de comando relatar o ocorrido. Nesse momento Cooper começou a usar óculos escuro. O copiloto Bill Rataczak durante entrevista ao programa Witness History, da BBC, afirmou que “uma outra aeromoça, Tina Mucklow, teve de ficar sentada ao lado dele durante o voo. Ele ficava sempre com uma mão dentro da pasta, indicando estar pronto para acionar a bomba”. Rataczak também afirmou que Cooper tinha planejado e arquitetado tudo muito bem. O fato de pedir 4 paraquedas foi algo muito bem pensado pelo sequestrador, pois “quando faz um pedido por quatro paraquedas, dá a entender que poderiam ser para membros da tripulação. Assim ele sabe que os quatro estariam funcionando, que não receberia um paraquedas adulterado”.

 

Após ser comunicado de todo ocorrido, o piloto William Scott contatou o controle de tráfego aéreo no Aeroporto Internacional de Seattle-Tacoma que por sua vez comunicou as autoridades locais e federais. Durante o trajeto, a aeronave fez movimentos circulares para atrasar a chegada em aproximadamente 2 horas. Cabe ressaltar que uma viagem normal entre esses dois destinos demora cerca de 50 minutos. Esse atraso permitiu que a polícia de Seattle e o FBI conseguissem reunir o dinheiro e os paraquedas para Cooper. Para evitar pânico, os demais tripulantes foram avisados que a chegada a Seattle seria atrasada por conta de uma pequena dificuldade técnica. O presidente da companhia aérea, Donald Nyrop, autorizou o pagamento do resgate e passou instrução para que todos os funcionários cooperassem com Cooper.

 

A comissária Mucklow conta que a todo o momento Cooper reconhecia com precisão as cidades (como Tacoma) e algumas estruturas (como a Base Aérea McChord) vistas durante o voo e dizia com precisão o tempo que restaria até chegar ao destino final, deixando transparecer que ele conhecia bem a região e o trajeto do voo.  Ela ainda afirmou que ele era calmo, educado e bem letrado, bem diferente do arquétipo de sequestradores aéreos na época, que geralmente eram enfurecidos. De acordo com palavras de Mucklow “ele não estava nervoso, ele parecia bastante agradável. Nunca foi cruel ou mau. Ele ficou pensativo e calmo o tempo todo”.

 

Enquanto a aeronave fazia o trajeto, os agentes do FBI reuniram dinheiro de vários bancos da região de Seattle. No total obtiveram 10 mil notas de vinte dólares. A maioria delas tinha o número de série começando com a letra “L”, indicando que as notas foram impressas pelo Banco Central Federal de São Francisco. A maioria também carregava a designação “Série 1969-C”. Os agentes também conseguiram fotografias em microfilme de cada uma das 10 mil fotos. Cooper detalhou que não aceitaria paraquedas militares, inicialmente oferecidos. Ele exigiu paraquedas civis com cordas de abertura operadas manualmente. Depois de procurar muito, a polícia de Seattle os conseguiu encontrar em uma escola de paraquedismo local.

 

Cooper pediu mais um uísque e água enquanto a força tarefa reunia o dinheiro e os paraquedas. O mais curioso é que ele pagou a conta e insistiu para que Mucklow ficasse com o troco.

 

 

O pouso

 

Cooper foi comunicado às 17h24min que todas suas exigências estavam asseguradas, então ele permitiu que a aeronave pousasse. Então às 17h39min a aeronave pousou no Aeroporto de Seattle-Tacoma. Depois do pouso, ele orientou Scott a taxiar o avião até uma área isolada e iluminada do aeroporto. Ele ordenou que fossem apagadas todas as luzes internas da cabine e fechadas as cortinas, para evitar a ação de atiradores de elite. Durante a parada, ele pediu refeições para todos da tripulação. Após o avião parar com as manobras, o gerente de operações de Northwest em Seattle chamado Al Lee se aproximou. Ele trajava roupas normais para evitar que Cooper confundisse o uniforme da empresa com a farda de policiais. Consigo ele levava uma mochila com o dinheiro e os paraquedas. Os itens foram entregues diretamente para Mucklow pelas escadas traseiras, que em seguida os levou até Cooper.  Assim que a entrega foi finalizada, Cooper liberou todos os passageiros, a comissária Schaffner e a comissária sênior Alice Hancock. Na aeronave permaneceram apenas 5 pessoas: Cooper, o piloto Scott, a comissária Mucklow, o copiloto Rataczak e o engenheiro de voo Harold E. Anderson.

 

Após se reunir com esse grupo, Cooper detalhou seu plano de voo e ordenou que a nave fosse reabastecida. Seu plano era seguir a sudoeste, direção da Cidade do México, à 3 mil metros de altitude (10 mil pés) e na menor velocidade que fosse possível (185 km/h). Outros pontos também foram especificados por Cooper, como manter o trem de pouso baixado na posição de descolagem/aterrissagem, abaixar os flaps em 15°, deixar a cabine de passageiros despressurizada, realizar decolagem com a porta traseira abaixada e sua escada estendida. Depois de passar todas essas informações o copiloto William Rataczak informou a Cooper que a nave não teria autonomia para chegar até a Cidade do México nessas condições, sendo necessário uma escala para reabastecimento. Então Cooper concordou em parar em Reno, Nevada, para tal finalidade. O escritório da Northwest se opôs ao fato do avião decolar com a escada aberta, alegando falta de segurança. Mas Cooper inicialmente foi categórico e irredutível, afirmando que ele garantia a segurança e não mudaria suas ordens. Mas por fim, ele aceitou que a aeronave decolasse com a escada traseira recolhida.

 

Um oficial da Força Aérea Americana solicitou uma reunião com Cooper, mas o mesmo recusou. O único momento em que Cooper apresentou certo desconforto com a situação foi quando o caminhão de reabastecimento apresentou uma falha de obstrução de vapor na bomba. Então o caminhão foi substituído por um segundo e depois por um terceiro, até deixar o tanque completamente cheio.

 

 

A fuga

 

A aeronave decolou novamente as 19 h 40 min. Sem que Cooper percebesse, o avião foi seguido por dois caças Convair F-106 Delta Dart da Base Aérea McChord, um abaixo e outro acima do Boeing. Um Lockheed T-33, retirado de uma missão da Guarda Aérea Nacional, também participou da perseguição, mas teve que abortar a missão em certo ponto por falta de combustível.

 

De acordo com o copiloto Rataczak, logo após a decolagem a comissária Mucklow “estava na área dos passageiros com Dan Cooper — foi obrigada a sentar ao lado dele. Mas logo após a decolagem, ela veio para o cockpit, e ficou conosco. Ele queria ficar sozinho, com a porta trancada entre as cabines. Pouco depois, recebemos uma chamada pelo interfone. Era ele dizendo que não conseguia baixar a escada do avião.”

 

Cooper ordenou que toda tripulação ficassem na cabine com a porta fechada. Enquanto a comissária Mucklow se dirigia até a cabine, ela percebeu que Cooper amarrava algo em sua cintura. Conforme o relato do copiloto Rataczak, Cooper os contatou pelo intercomunicador para relatar que não conseguia acionar a escada traseira do avião. Os pilotos desconfiaram que a escada não descia por causa do vento forte e decidiram diminuir a velocidade do avião. Por volta das 20h a luz referente ao acionamento da escada traseira acendeu na cabine. Através do intercomunicador, eles perguntaram se Cooper precisava de ajuda, mas o sequestrador não aceitou e não respondeu mais nenhuma tentativa de comunicação.

 

Ainda sobre isso, o copiloto Rataczak afirmou que “Eu senti as escadas descerem. O avião deu uma sacolejada e nesse momento avisei o controle de tráfego aéreo que Dan Cooper podia ter deixado o avião e que era para eles marcarem a posição no radar. Isso poderia ajudar a encontrar o lugar em que ele desceu de paraquedas”.

 

Às 20 h 13 min, a seção da cauda do avião sofreu um súbito movimento ascendente que exigiu correção por parte dos pilotos. O avião pousou a 22 h 15 min no Aeroporto de Reno. A escada traseira ainda estava abaixada, mas isso não causou maiores problemas. Agentes dos FBI, policiais estaduais, agentes do xerife e a polícia de Reno estavam de prontidão para receber a aeronave. Foi só então que todos se deram conta que Cooper não estava mais na nave e que realmente havia pulado durante o trajeto. Nenhum dos tripulantes das aeronaves que perseguiram o Boing conseguiu ver Cooper saltando. Cabe lembrar que o sequestrador trajava roupas pretas e a fuga ocorreu em uma noite muito chuvosa, que pode ter comprometido a visão.  

 

 

Investigação e Descobertas

 

Os agentes do FBI encontraram algumas evidências de Cooper na aeronave, como 66 impressões digitais, a gravata preta e o alfinete de madrepérola, além de dois dos quatro paraquedas e oito bitucas de cigarro Raleigh com filtro. Várias testemunhas que interagiram com Cooper foram interrogadas e a partir de seus relatos foram construídos alguns retratos falados do sequestrador, que circulou o país inteiro. De uma forma geral, as testemunhas o descreveram como um homem provavelmente de boa formação, gentil, extremamente calmo e que parecia saber exatamente o que estava fazendo. As comissárias de bordo Mucklow e Schaffner, que foram as pessoas que tiveram contato direto por mais tempo com ele, prestaram depoimento em cidades diferentes e fizeram basicamente a mesma descrição física: um homem pardo, de 1,78 m de altura, 82 kg e olhos castanhos.




 

A área entre o sudeste de Washington e norte de Oregon foi delimitada como o provável ponto de pouso de Cooper. Soldados do exército, agentes do FBI e policiais de vários condados realizaram uma ampla varredura pela região, mas sem ter nenhum êxito em localizar o sequestrador. Para tentar delimitar o local do pouso com maior exatidão, o piloto Scott recriou experimentalmente as condições de voo daquela noite. Usando a mesma aeronave nas mesmas condições de voo estabelecidas por Cooper, os agentes do FBI empurraram um trenó de 91 kg pela escada traseira. Assim que ela foi lançada, sentiu-se no avião a mesma instabilidade observada as 20 h 13 min do dia do sequestro, comprovando que essa foi a hora exata da fuga. Pelo trajeto do trenó, determinou-se que o pouso poderia ter sido em algum local próximo ao Rio Lewis, ao Monte St. Helens ou ao Lago Merwin. Todas essas áreas foram verificadas, em expedições terrestres e por helicóptero, incluindo os corpos d’água, mas nenhum vestígio foi encontrado. O trajeto inteiro entre a decolagem e pouso da aeronave também foi investigado. Embora fossem encontrados várias copas de árvores quebradas e vários pedaços de plástico e outros objetos semelhantes a dosséis de paraquedas tenham, nada relevante para a investigação foi obtido. Posteriormente, estudos adicionais concluíram que Dan Cooper poderia ter pousado em um local mais afastado a sul-sudeste de onde se imaginava, próximo ao Rio Washougal. Apesar da nova hipótese, nenhuma prova foi encontrada.

 

Na primavera de 1972, quando ocorreu o degelo, cerca de 200 soldados do Exército de Fort Lewis, juntamente com homens da Força Aérea, Guardas Nacionais e voluntários civis fizeram uma busca terrestre completa nos condados dessa região. Até mesmo um submarino foi usado para fazer buscas no Lago Merwin. Novamente nenhuma evidência foi encontrada. Duas mulheres que moravam na região tropeçaram em uma ossada e logo comunicaram as autoridades. Aquela poderia ser a solução de todo mistério, mas após análise, foi determinado que os ossos pertenciam a uma jovem que estava desaparecida há semanas.

 

Outra linha de investigação buscou encontrar Cooper a partir do dinheiro do resgate. O FBI distribuiu a casinos, hipódromos e instituições financeiras nos Estados Unidos e outros países, uma lista com os números de série das cédulas entregues ao sequestrador. A mesma lista foi divulgada publicamente em 1972 pelo procurador-geral dos Estados Unidos, John N. Mitchell, informando que quem apresentasse tais notas seria recompensando com 15% do valor apresentado, até um máximo de US $ 25.000. No ano seguinte, o “The Oregon Journal” republicou os números de série e ofereceu US $ 1.000 a quem apresentasse essas cédulas ao jornal ou ao FBI. Em Seattle, o Post-Intelligencer fez uma oferta semelhante, com uma recompensa de US $ 5.000. Embora várias cédulas fossem apresentadas, todas elas eram falsas. Em 1972, dois homens usaram notas falsas para enganar Karl Fleming, repórter da Newsweek. Eles pediram US $ 30.000 em troca de uma entrevista com o Cooper, mas ao final isso foi apenas um golpe.

 


Informações sobre essas cédulas só seriam obtidas anos depois, em 1980. Uma família estava acampando na margem do Rio Columbia, quando um garoto chamado Brain Ingram encontrou três pacotes enterrados. Dentro dos pacotes havia várias notas de US $ 20 (290 cédulas), totalizando cerca de U$ 5.800. As cédulas estavam bastante desgastadas, como observadas na foto a seguir. A família entregou os pacotes à policia e após investigação do FBI ficou constatado que faziam parte do montante entregue à Cooper durante o sequestro. Apesar de ser uma evidência concreta, a descoberta das cédulas não responderam muitas dúvidas. Um hidrólogo do Corpo de Engenheiros do Exército observou que as notas haviam se desintegrado de forma "arredondada" e estavam emaranhadas, indicando que haviam sido depositadas por ação do rio, em vez de terem sido enterradas intencionalmente. O mais provável é que elas tenham chegado até lá flutuando e se depositado sob sedimentos. Algumas pesquisas comprovaram que as notas chegaram até aquele ponto bem depois da data do sequestro. Essa informação se fundamenta pelo padrão de algas fixadas aos pacotes e também pelas características das camadas de argila que cobriam a margem do rio.  Essa conclusão sugere que Cooper não tenha pousado próxima a região do Lago Merwin, mas sim a jusante do Rio Columbia. Entretanto, a hipótese da flutuação das notas não explica a falta de algumas notas em um pacote e nem como os três pacotes ficaram soterrados exatamente no mesmo ponto. Em outras palavras, a evidência física era incompatível com a evidência geológica. Muitas teorias sobre essa evidência vieram à tona, mas nenhuma delas nunca se confirmou. Chegou-se a levantar a hipótese de que alguém encontrou as notas em um local distante e as enterraram na margem do rio. O xerife do condado de Cowlitz propôs que Cooper deixou os pacotes cair acidentalmente durante o salto de paraquedas, fazendo com que elas chegassem até aquele ponto e nunca mais fosse reavida pelo sequestrador. Um editor de jornal local teorizou que Cooper, sabendo que nunca poderia gastar o dinheiro, jogou-o no rio ou enterrou em locais diferentes. Entretanto, nunca foram obtidas nenhuma resposta concreta.

 

Em 1986 o valor encontrado foi dividido igualmente entre a família Ingram e a seguradora da Northwest Orient, Global Indemnity Co., mas o FBI ainda manteve consigo 14 cédulas para realização de mais análises. Em 2008 a família Ingram leiloou 15 dessas cédulas recuperadas, levantando o montante de US $ 37.000. As outras 9.710 cédulas usadas no pagamento do resgate nunca foram encontradas.

 

Outra evidência foi encontrada em 1978. Um caçador estava explorando uma floresta que ficava ao norte do Lago Merwin, bem sob a rota de voo feita durante a fuga de Cooper. No local, o caçador encontrou um manual de instruções sobre como baixar a escada de um Boing 727. Logo foi associada à ideia de que aquele manual foi usado por Cooper para conseguir fugir da aeronave, mas novamente nada foi comprovado.

 

No ano de 2000, com o avanço das técnicas genéticas e moleculares, foi possível detectar vestígios de três amostras DNA na gravata encontrada na aeronave. No final de 2007 o FBI conseguiu determinar o perfil desse material, embora ele fosse inconclusivo e não permitia nenhum tipo de identificação.




 

A análise dos paraquedas também teve respostas interessantes. O fato de Cooper pedir 4 paraquedas foi algo muito bem pensado pelo sequestrador, pois de acordo com Rataczak, “quando faz um pedido por quatro paraquedas, dá a entender que poderiam ser para membros da tripulação. Assim ele sabe que os quatro estariam funcionando, que não receberia um paraquedas adulterado”. A investigação determinou que Cooper utilizou o paraquedas primário mais antigo disponibilizado a ele. Como paraquedas reserva, ele utilizou um paraquedas não funcional, que não estava com nenhum tipo de identificação nesse sentido. Ele era usado aulas teóricas de demonstração pela escola de paraquedismo de Seattle que disponibilizou os paraquedas. O FBI enfatizou que o fornecimento de um paraquedas falso foi acidental, uma vez que no dia do sequestro a coleta dos paraquedas foi feito as pressas na escola.

 

Em 2009 foi formada a “Cooper Research Team”, um grupo de populares liderados pelo paleontólogo Tom Kaye, pela ilustradora científica Carol Abraczinskas e pelo metalúrgico Alan Stone. O grupo tinha como objetivo investigar o caso de maneira autônoma. Embora tenham conseguido poucas informações adicionais, eles foram capazes de encontrar e analisar centenas de partículas minúsculas na gravata de Cooper usando microscopia eletrônica. A gravata é uma peça de roupa quase nunca lavada e, por causa disso, está mais sujeita a acumular partículas ao longo do tempo. Dentre as mais de 100 mil partículas encontradas, destacam-se as de licopódio (provavelmente de um produto farmacêutico), fragmentos de bismuto, alumínio, cério, sulfeto de estrôncio e titânio puro. Os resultados sugeriram que Cooper provavelmente frequentava ambientes relacionados à metalurgia ou à química. O titânio era um metal muito raro na década de 70, sendo encontrado mais comumente somente nesse tipo de local. Já o cério e o sulfeto de estrôncio eram usados nas construções de Boings, o que reforçou a hipótese de que Cooper era um grande conhecedor de aviação. Outras fontes possíveis desses materiais incluem fábricas de tubos de raios catódicos, como as empresas Teledyne e Tektronix.

 

Várias agências oficiais e amadoras se debruçaram sobre o caso para tentar buscar respostas concretas. Entre 1976 e 2016, mais de 1000 suspeitos foram investigados, mas o sequestrador nunca foi encontrado. Surgiram alguns indivíduos que confessaram ser Cooper, mas no fundo eram apenas populares em busca de fama. Após mais de 4 décadas de investigação o FBI não encontrava mais informações relevantes sobre o caso e decidiu encerrá-lo em 2016, para concentrar e dar prioridades em trabalhos que fossem mais frutíferos e urgentes. O arquivo do caso possui 60 volumes compilados. No site do FBI há várias informações sobre o caso, sendo todas evidências abertas à consulta pública.

 

Apesar do FBI ter encerrado suas pesquisas, vários investigadores autônomos e amadores continuaram a se debruçar sobre o caso. Em 2017 um desses grupos encontrou uma tira de paraquedas com décadas de idade e um pedaço de espuma ao noroeste do Pacífico. Eles acreditavam que esses materiais pertenciam a mochila usada por Cooper. Entretanto nenhuma prova mais contundente foi encontrada. 




Cooper hoje (2023) teria cerca de 90 anos. Vivo ou morto, o que sabemos é que ele nunca foi identificado. E talvez nunca seja.

 

 

Teorias

 

Alguns investigadores do FBI insistem na tese de que Cooper morreu durante seu salto. As condições climáticas na hora do salto eram muito desfavoráveis, devido à ventania, frio (- 9 °C), altitude (3.000 m) e chuva. Além disso, ele não estava trajado vestimenta adequada e nem tinha solicitado um capacete, que é um item de proteção básica para esse procedimento. Entretanto, nenhum corpo foi encontrado na região, mesmo após exaustiva varredura. De acordo com o agente especial da FBI Larry Carr, “mergulhando em uma floresta sem um plano, sem o equipamento certo, em condições tão terríveis, ele provavelmente nunca conseguiu abrir seu paraquedas”. Mesmo que ele tenha conseguido abrir o paraquedas e descido normalmente, o pouso poderia ser fatal dada a topografia, cobertura vegetal e condições climáticas daquela região. Para tudo ter dado certo, o salto precisaria ter sido criteriosamente planejado de forma cronometrada, e ele também teria que ser um profissional experiente em paraquedismo.

 

Nesse sentido, devido ao grande conhecimento que Cooper demonstrou sobre a região do voo e sobre o funcionamento de uma aeronave (visto seus comentários com as comissárias de bordo e instruções passadas aos pilotos), alguns investigadores acreditaram que ele podia ser um veterano da Força Aérea com experiência em paraquedismo. O Boing 727-100 é considerado uma das aeronaves comerciais mais seguras para se realizar um salto de paraquedas, devido a abertura na parte traseira e a possibilidade de voar lentamente em baixa altitude sem sofrer muita instabilidade. A aeronave também tinha uma tecnologia bastante inovadora na época que era o abastecimento de ponto único. Não era necessário encher diferentes tanques, o que agilizou o procedimento. Isso tudo reforça a ideia de que Cooper tinha um conhecimento técnico sobre o tema e essa não foi uma escolha ao acaso.

 

Surgiu também a hipótese de que Cooper era apenas um “caçador de emoções” ou alguém que queria “provar que aquilo era possível”. Entretanto, o mais provável é que a motivação dele era decorrente uma situação financeira desesperadora e urgente.

 

Após o sequestro, a investigação se focou nas denuncias de desaparecimento para tentar identificar o sequestrador. Entretanto, nenhum desparecido tinha características em comum com Cooper, levando a crer que ele voltou a sua rotina normal após o incidente.

 

Os trajes elegantes que ele vestia também não foram escolhidos ao acaso. Para conseguir fugir após o pouso, o mais certo é que ele pediu carona a alguém. Conseguir uma carona é muito mais fácil quando se está vestido de modo formal como ele estava.

 

Outra vertente acreditava que o sequestrador tinha origem canadense, europeia ou já havia morado em algum local onde francês era idioma oficial. O motivo disso é que “Dan Cooper” era o nome do protagonista de uma HQ belga dos anos 50 que contava a estória de um piloto da Força Aérea Real Canadense. Coincidentemente ou não, em uma edição dessa HQ, a capa retratava o personagem saltando de paraquedas de uma aeronave. Essa HQ nunca foi pulicada nos EUA, mas era muito comum nos países de língua francesa. Outra razão para acreditar que ele não era americano foi o uso do termo “moeda americana negociável”, que não é comumente utilizado. Por outro lado, nenhuma testemunha que teve contato com ele relatou que ele tivesse algum sotaque distinguível.

 

 

Principais suspeitos

 

Com base em todas essas informações obtidas e teorizadas, alguns suspeitos foram encontrados, e outros até mesmo se apresentaram por livre vontade.  Entre 1971 e 2016, o FBI investigou mais de mil potenciais suspeitos. O primeiro deles foi um homem de Oregon, chamado D. B. Cooper, que tinha uma pequena ficha policial. Entretanto, sua ligação com o sequestro foi rapidamente descartado. A partir daí o sequestrador ficou conhecido popularmente por D. B. Cooper, já que o jornalista James Long confundiu o nome do suspeito (D. B. Cooper) com o pseudônimo usado pelo sequestrador (Dan Cooper). Vários outros veículos embarcaram nesse erro e ajudaram a popularizar esse nome, como foi o caso do jornalista Clyde Jabin da United Press International e Joe Frazier da Associated Press.

 

Retrato falado de D. B. Cooper (esquerda) e Jack Coffelt (direita)
Em 1972, Bryant "Jack" Coffelt alegou ser Cooper e tentou vender sua história para alguns cineastas. Ele disse que após o salto de paraquedas, teria pousado perto do Monte Hood, cerca de 80 km a sudeste de Ariel. Ele afirmou que se feriu durante e pouso e acabou perdendo o dinheiro do resgate no processo. Embora pareça ser mais velho, Coffelt tinha muitas características em comum com o retrato falado de Cooper. Coincidentemente ele conseguiu provar que estava em Portland no dia do sequestro, e sofreu ferimentos na perna nessa época, de acordo com ele, em virtude do salto de paraquedas. Após análise do FBI, foi determinado algumas inconsciências que faziam com que aquela história fosse algo inventado. Corroborando com isso, Coffelt tinha um passado que não lhe dava credibilidade, por se envolver em casos de estelionatos e ser ex-presidiário.


Em 2003, uma residente de Minnesota chamado Lyle Christiansen assistiu a um documentário de televisão sobre o sequestro e se convenceu de que seu falecido irmão, Kenneth Christiansen (1926–1994), era Cooper. Como FBI nunca deu bola para essa pista, Lyle contratou um investigador particular chamado Skipp Porteous, que posteriormente publicou um livro postulando que Kenneth era o sequestrador, transformado em documentário em 2011. Kenneth Christiansen era um soldado do exército, alistado em 1944, com treinamento em paraquedismo. Quando deixou o exército, ele passou a exercer a função de comissário de bordo. Apesar de ter algumas diferenças físicas (ele era mais baixo e mais magro), ele também era fumante, amante de Bourbon e canhoto (como suspeitava que Cooper fosse, devido o clipe de sua gravata estar preso do lado esquerdo). Ao ver a foto do suspeito, a comissária de bordo Schaffner afirmou que dentre todos suspeitos que lhe foram apresentados, aquele era o que mais se assemelhava com a memória que ela tinha de Cooper, mas que mesmo assim ela não conseguia cravar se era ele ou não. De acordo com o livro, Kenneth teria comprado uma casa com o dinheiro do resgate. Após sua morte em 1994, vítima de câncer, a família encontrou vários bens preciosos e uma conta bancária bem recheada. Um artefato curioso também foi encontrado: uma pasta com várias notícias sobre a Northwest Orient Airlines. Havia notícias sobre a companhia desde a década de 1950 e curiosamente os recortes terminavam justamente em 1971, ano do sequestro. Apesar da grande repercussão do filme e documentário, o FBI descarta a possibilidade de Kenneth ser Cooper devido às diferenças físicas entre ambos. Uma pesquisa feita posteriormente por detetives autônomos descobriu que na verdade Kenneth não comprou uma casa como a história relata, mas sim pagou uma hipoteca de 17 anos. A mesma pesquisa determinou que ele tinha vendido várias terras, o que explica a grande soma de dinheiro observada em sua conta no momento de sua morte.

 

Uma mulher chamada Marla Cooper propôs, em julho de 2011, que seu tio Lynn Doyle Cooper, ex-veterano da Guerra do Vietnã, era o sequestrador. Marla recorda que em 1971, quando tinha 8 anos de idade, seu tio planejava algo muito malicioso e misterioso na casa de sua avó, em Sisters, Oregon, a  240 km a sudeste de Portland. Coincidentemente, ela relata, no dia seguinte ocorreu o sequestro do Boing. Seu tio havia saído de casa com a justificativa de estar indo caçar perus. Conta Marla que quando ele voltou para casa, estava todo ensanguentado, dizendo ter sofrido um acidente de carro. Ela também afirmou que ele era fã da HQ de Dan Cooper. O FBI rapidamente descartou essa possibilidade ao comparar o DNA de Lynn com o DNA parcial obtido na investigação dos objetos encontrados na aeronave.

 

Certa vez um casal entusiasta de aviação, Pat e Ron Forman, levantaram a hipótese de que Cooper na verdade era uma mulher travestida de homem. Eles tinham amizade com uma pilota, chamada Barbara Dayton. Algum de seus comportamentos dava a entender que ela estava por trás da figura do sequestrador. Posteriormente foi descoberto que Barbara na verdade nasceu como um homem, em 1926, chamado Bobby Dayton. Apaixonado por aviação, Bobby tentou entrar na Força Aérea quando tinha 18 anos. Mas ele não passou no exame médico devido uma doença ocular. Então ele entrou para os fuzileiros navais e após o expediente se apresentava como travesti. Durante esse período, Bobby aprender habilidades de paraquedismo e manipulação de explosivos. Sempre brincava com os mais próximos que pensava em roubar um banco pra melhorar sua vida financeira. Em 1969 ele realizou um procedimento para mudança de sexo, e passou a se apresentar como Barbara. Ela sempre reclamava de sua situação financeira nas consultas rotineiras que tinha com seu cirurgião, mas coincidentemente, na primeira consulta após a data do sequestro ela estava estranhamente despreocupada e desinteressada em procurar emprego. Anos depois, Barbara fez amizade com o casal Formam. Certa vez, durante um jantar, surgiu o assunto “D. B. Cooper”. Ron brincou que Barbara pudesse ser o sequestrador, mas ela levou a piada muito a sério e pediu para que ela nunca mais fosse repetida. Com o passar do tempo, Barbara passou a confiar mais no casal e lhe contou dois segredos: que ela havia mudado de sexo e que ela realmente era Cooper. Foi então que o casal publicou o livro “The Legend of DB Cooper” no qual eles relatam todas essas informações. De acordo com o livro, Barbara sempre foi ressentida por não ter sido aprovada no exame de admissão as Forças Aéreas e isso foi determinante para a mudança de sexo e execução do sequestro. No livro ainda é relatado todos os detalhes de como ela se transvestiu novamente de homem e muito parecidos pontos em comum (como observado na foto de quando ela ainda era Bobby), Barbara e Cooper tinham uma diferença de altura bastante significativa: ela era cerca de 30 cm mais baixa (1,50 m). Então novamente a hipótese foi descartada pelas autoridades, sendo considerada só mais uma tentativa de monetizar com essa história.  


William Pratt Gossett foi um experiente militar que sempre mostrou uma obsessão pelo caso de Cooper, chegando a juntar uma coleção numerosa de informações sobre o sequestro. Pouco antes de morrer, em 2003, ele teria confessado a seus filhos que ele havia cometido o sequestro. Fotos de Gossett tiras em 1971 apresentavam grandes semelhanças com o retrato falado de Cooper. De acordo com Galen Cook, um advogado que investigou a vida de Gossett, o ex-militar teria dado a seus filhos uma chave de um cofre que ficava em Vancouver, Canadá, onde supostamente estava o dinheiro do resgate. Já o filho de Gossett afirma que se recorda do pai estar com maços de dinheiro no natal de 1971, mas que provavelmente ele perdeu tudo em decorrência de seu vício em casinos.  Em 1988, Gossett mudou seu nome para "Wolfgang" e se tornou um padre. Para Cook, essa foi uma estratégia para esconder sua identidade, visto a atenção que o FBI estava dando ao caso mesmo após tantos anos. Cook também afirmou, sem revelar os detalhes, que interrogou um passageiro da aeronave sequestrada chamado William Mitchell e obteve uma prova irrefutável: Cooper tinha certa característica física bastante incomum, que coincidentemente também estava presente em Gossett. Após o sequestro, umas supostas cartas do Cooper foram enviadas a alguns jornais. Nunca foi comprovado que elas eram verídicas, mas Cook diz ter evidências que elas partiram de Gossett. Apesar disso, o FBI nunca encontrou evidências plausíveis para considera-lo um potencial suspeito.

 

Robert Richard Lepsy era um gerente de mercearia que desapareceu em outubro de 1969. Três dias após o sumiço, seu veículo foi encontrado no estacionamento do aeroporto de Michigan, onde segundo investigação ele teria partido para o México. Após a divulgação do retrato falado de Cooper, a família afirmou que aquele era Robert. Inclusive, a vestimenta que Cooper utilizava era idêntica a que Robert usava na mercearia. O FBI nunca considerou essa hipótese.

 

John Emil List foi um contador e ex-combatente de guerra que assassinou esposa, filhos e mãe, 15 dias antes do sequestro. Antes de desaparecer, ele ainda sacou US $ 200 mil da conta de sua mãe. Ele chegou a ser considerado suspeito devido a várias semelhanças físicas e pelo fato dele não ter mais nada a perder. List foi capturado em 1989 e apesar de confessar os assassinatos, nunca assumiu a autoria do sequestro, o que fez o FBI desconsiderá-lo como suspeito.

 

Em 2006, dois pesquisadores amadores chamados Daniel Dvorak e Matthew Myers propuseram um novo suspeito. Tratava-se de Theodore Ernest Mayfield, um veterano de guerra e paraquedista profissional, que havia cumprido pena em 1994. O motivo: homicídio negligente, devido o paraquedas de alguns de seus alunos não se abrirem durante os saltos. Sua ficha criminal também registrava assalto à mão armada e transporte de aeronaves roubadas. Apesar das características que poderiam lhe enquadrar como Cooper, o FBI nunca considerou essa hipótese, pois Mayfield ligou para o agente federal Ralph Himmelsbach durante o sequestro para dar alguns conselhos voluntários sobre paraquedas. Entretanto, para os dois pesquisadores, a ligação foi apenas uma forma de ter um álibi e que o agente poderia estar envolvido e cooperando com o suspeito. Até sua morte, em 2015, Mayfield nunca assumiu a autoria do sequestro e o FBI sempre descartou seu envolvimento.

 

Richard Floyd McCoy Jr. também foi um ex-combatente do exército americano e paraquedista ávido que foi colocado sob suspeita. Em 1972, McCoy tentou um sequestrar um Boing 727 com escadas traseiras no Colorado, utilizando o mesmo modus operandi de Cooper. Ameaçando explodir a aeronave com granadas, ele exigiu 4 paraquedas e US $ 500 mil. Após o pouso no Aeroporto Internacional de San Francisco, suas exigências foram cumpridas e ele ordenou que a aeronave voltasse ao céu e saltou sobre Provo, Utah , deixando para trás suas instruções de sequestro manuscritas e suas impressões digitais em uma revista que estava lendo. Pela caligrafia, McCoy foi identificado e preso. Posteriormente ele conseguiu fugir da prisão, mas acabou sendo morto em confronto contra agentes federais. No livro lançado em 1991 pelo oficial de condicional Bernie Rhodes, intitulado “DB Cooper: The Real McCoy” é afirmado que McCoy era a identidade verdadeira de Cooper. Além da semelhança entre o modo de agir, a família de McCoy havia relatado que ele tinha uma gravata e clipe de madrepérola idênticos aos que Cooper deixou no Boing. No livro também é afirmado que o agente que atirou em McCoy falou que “quando atirei em Richard McCoy, atirei em DB Cooper ao mesmo tempo”. Apesar do FBI descrevê-lo nominalmente em seu site como principal suspeito até hoje, o próprio FBI descarta essa possibilidade, uma vez que McCoy e Cooper têm diferenças significativas de idade e de aparência. Além disso, McCoy tinha um nível de paraquedismo bem superior ao que Cooper demonstrou. Evidências confiáveis ​​afirmam que McCoy estava em Las Vegas no dia do sequestro e em sua casa, em Utah, no dia seguinte, jantando no Dia de Ação de Graças com sua família.


 Robert Wesley Rackstraw foi um piloto de helicóptero que serviu o exército na Guerra do Vietnã. Ele chamou a atenção durante a investigação sobre Cooper em 1978 quando foi preso no Irã por porte de explosivos e fraudes de cheques. Depois de pagar fiança, ele tentou forjar a própria morte transmitindo um falso telefonema de socorro, dizendo aos controladores que estava saltando um avião alugado. Esses motivos fizeram com que Rackstraw fosse colocado sob suspeita. Além disso, fisicamente ele tinha várias semelhanças com o retrato falado de Cooper, como observado na fotografia ao lado. Por outro lado, os comissários que tiveram contato com Cooper relataram que Rackstraw era muito diferente e, além disso, ele só tinha 28 anos na época do sequestro. O próprio Rackstraw nunca admitiu ter envolvimento com o sequestro. Devido à falta de evidências concretas, essa hipótese foi abandonada em 1979. Os entusiastas dessa teoria tem certeza que Rackstraw é Cooper. Para eles, o FBI não admite isso, pois seria vexaminoso o fato de investigadores amadores tenham desvendado o caso antes dos federais. 

 

Walter R. Reca, ex-militar e membro original da Equipe de Paraquedas de Michigan, teria confessado ser Cooper durante um telefonema ao seu amigo, Carl Laurin, em 2008. Carl Laurin gravou todos os telefonemas que ambos trocaram, com o consentimento de Reca, totalizando quase 3 horas de material. Nesses áduiso, Reca detalha todos acontecimentos sobre o sequestro. Entretanto, isso só foi divulgado após a morte de Reca, em 2014. Ele também teria confessado para sua sobrinha, Lisa Story. Além da gravação, Laurin também apresentou algumas supostas peças de roupas que Reca teria usado durante o sequestro. De acordo com o relato de Laurin, Reca teria pousado em Cle Elum, Washington. Um nativo dessa região, chamado Jeff Osiadacz, estava dirigindo seu caminhão na noite do sequestro, quando viu um homem andando na lateral da estrada. Ele parou em um café mais a frente, o Teanaway Junction Cafe, e pouco tempo depois esse andarilho também adentrou o estabelecimento. O homem teria sentado ao lado de Osiadacz e ligado para um amigo, dando instruções de como chegar até o café. Apesar do FBI nunca ter dado atenção a essa hipótese, um linguista forense chamado Joe Koenig avaliou todas as evidências e as julgou autênticas. Posteriormente, ele publicou um livro sobre Cooper, intitulado “Getting the Truth: I Am DB Cooper”.

 

Em novembro de 2018, o jornal ‘The Oregonian’ publicou um artigo que identificou o veterano da marinha da Segunda Guerra, William J. Smith, como suspeito. Na época do sequestro, ele tinha 43 anos, idade que coincidia com a que Cooper aparentava. Depois que saiu da marinha ele trabalhou em uma companhia ferroviária chamada Lehigh Valley Railroad, até falência da empresa em 1970. Sem emprego, Smith teria passado por dificuldades financeiras, que o motivou a realizar o sequestro. Coincidentemente, no anuário do colégio que Smith estudou havia um ‘Ira Cooper’. Acredita-se que esse colega tenha inspirado sua escolha de um falso nome. De acordo com essa hipótese, Smith teria ganhado experiência em aviação e paraquedismo enquanto serviu à marinha. Os minerais encontrados nos objetos que Cooper deixou na aeronave poderiam se originar das ferrovias que ele trabalhava, uma vez que minérios eram um dos principais materiais transportados em vagões de carga. O artigo também observou que um site dedicado à Lehigh Valley Railroad continha uma foto de Smith, e ele realmente é muito parecido com o retrato falado de Cooper. Quanto a essa teoria, o FBI apenas comentou que seria inapropriado comentar sobre suspeitos específicos.

 

Outro veterano da Segunda Guerra chamado Duane L. Weber também foi colocado sob suspeita. Entre 1945 e 1968 ele foi preso seis vezes por roubo e falsificações. Após ele morrer em 1995, sua viúva, Jo, disse que no leito de morte ele teria assumido ser Dan Cooper. Jo nem tinha conhecimento sobre esse incidente, então ela foi até a biblioteca onde encontrou um livro sobre Cooper para estudar mais sobre o caso. Nele havia várias anotações feitas com a caligráfica de seu falecido marido. Depois disso, Jo se recordou de alguns acontecimentos que poderiam ter relação com o sequestro. Certa madrugada, Weber acordou de um pesadelo, dizendo ter sonhado que pulou de um avião, mas que havia deixado impressões digitais na escada traseira. Weber também tinha uma importante lesão no joelho, que ele dizia ter adquirido em decorrência de um salto de um avião. Outra coincidência está no fato de que Weber tinha o hábito de fumar e beber Bourbon. Em 1979, Weber viajou até o Rio Columbia, onde ficou caminhando pela sua margem. Meses depois, Brian Ingram fez a descoberta do dinheiro do resgate na mesma região. O FBI comparou as impressões digitais de Weber com as encontradas no avião, mas elas não eram compatíveis. O DNA também não foi compatível, apesar da falta de integralidade do material genético colhido na aeronave. Por esses motivos, em 1998 o FBI descartou totalmente essa hipótese.

 


 

Consequências do sequestro

 

Após esse caso de sequestro bem sucedido, muitos aspectos de segurança da aviação comercial foram revisados. O monitoramento do conteúdo das bagagens que os passageiros levavam começou a ser feito de forma mais criteriosa. Além disso, Boing’s 727 foram adicionados de dispositivos de seguranças adicionais, como uma presilha externa que impedia que a escada ventral traseira pudesse ser baixada durante um voo. Popularmente esse dispositivo ficou conhecido como “Vane Cooper”. Outra modificação em aeronaves foi a instalação de olhos mágicos nas portas da cabine, permitindo que a tripulação fosse vigiada sem a necessidade de abrir a porta.

  

Em 1975 a Northwest Orient entrou na justiça para receber o dinheiro usado no resgate da seguradora Global Indemnity Co.. A Suprema Corte de Minnesota deu a causa ganha para a companhia aérea e a seguradora teve que pagar US $ 180.000.

 

A ação de Cooper inspirou que outros corajosos tentassem a mesma façanha. Antes mesmo de Cooper, em 1971, o canadense Paul Joseph Cini tentou sequestrar um avião. Entretanto, quando largou a espingarda para colocar o paraquedas, ele foi imobilizado pelos tripulantes. Em 1972 foram registrados 15 casos de tentativas de sequestro de aeronaves cujo sequestrador exigia paraquedas. Entretanto, nenhum deles foi bem sucedido.

 

Em janeiro de 1972, Garrett Brock Trapnell tentou sequestrar uma aeronave que se dirigia de Los Angeles para a cidade de Nova York. Ele exigiu US $ 306.800 em dinheiro, a libertação de Angela Davis (uma ativista política presa à época) e uma audiência com o presidente Richard Nixon. Mas quando o avião pousou ele foi baleado e preso pelos agentes do FBI. O veterano do exército Richard Charles LaPoint também tentou tal façanha. Após apresentar um pacote que alegava ser uma bomba, ele exigiu US $ 50.000, dois paraquedas e um capacete. Ele conseguiu fugir saltando de paraquedas, mas as autoridades o localizaram e prenderam horas depois. Conforme já abordado ao tratar dos principais suspeitos, Richard McCoy, Jr. sequestrou uma aeronave e pediu US $ 500.000 de resgate. Ele pousou em segurança, mas foi preso dois dias depois. Frederick Hahneman usou uma pistola para sequestrar um voo na Pensilvânia, em maio de 1972. Exigiu US $ 303.000 e acabou caindo de paraquedas em Honduras, seu país natal. Após o FBI ficar no seu encalço e colocar uma recompensa por ele de US $ 25.000, ele acabou se entregando na embaixada americana em Tegucigalpa. Robb Dolin Heady foi outro veterano do exército a tentar tal façanha. Após extorquir US $ 200.000 em um avião, ele pulou de paraquedas, mas a polícia durante inspeção da provável região de pouso encontrou seu carro (que tinha um adesivo da Associação de Paraquedas dos Estados Unidos). Então ele foi preso quando se dirigia até o veículo para fugir de lá. Martin McNally, um frentista desempregado, usou uma submetralhadora para sequestrar um avião e pedir US $ 500.000 em resgate. Durante o salto ele acabou perdendo o dinheiro e foi detido dias depois.

 

Anos depois, em 1980, também houve uma tentativa similar. Glenn K. Tripp sequestrou um voo, exigindo US $ 600.000, dois paraquedas e que seu chefe fosse assassinado. Durante o incidente, uma comissária batizou a bebida de Tripp com diazepam, o que diminuiu a atividade do sequestrador. Após 10 horas de negociação, ele se entregou após ter assegurando alguns benefícios. Em 1983 ele estava em liberdade condicional e sequestrou novamente um voo. Dessa vez, ele acabou sendo baleado e morto por agentes do FBI.

 

 

Cooper também era assassino?

 

A hipótese de que o sequestrador também cometeu homicídio surgiu em 2013, quando Earl J. Cossey foi encontrado morto em sua casa, em Seattle, com um trauma na cabeça. Mas quem seria esse cara? Earl J. Cossey nada mais era que o proprietário da escola de paraquedismo que forneceu os quatro paraquedas dados a Cooper. Logo após sua morte, começou a se especular que Cooper poderia estar envolvido com isso, como forma de eliminar alguma evidência. Entretanto, nunca foi descoberto nenhum tipo de conexão. Além disso, posteriormente os funcionários de Cossey alegaram que um roubo a sua casa tenha motivado esse incidente.

 

 

Cooper na cultura popular

 

Pelo seu comportamento paradoxal de ser um sequestrador ousado e um cavalheiro ao mesmo tempo, Cooper virou uma espécie de fora da lei cult e inspirou várias obras. O personagem é citado ou aparece em série de TV, como The Blackist, Prison Break e Numb3rs. O protagonista da série Twin Peaks dos anos 80 recebeu o nome Dale Bartholomew Cooper em alusão ao sequestrador. Até mesmo em “Loki”, minissérie da Disney + ambientada no Universo Cinematográfico Marvel, Loki é visto disfarçado de D. B. Cooper antes de pular de um Boeing 727.

 

Loki (Marvel)

Em vários boliches do noroeste dos EUA são promovidos eventos temáticos sobre o incidente e a venda de souvenires em alusão ao caso.

 

Existe uma celebração chamada “D. B. Cooper Days” na cidade de Ariel, Washington no quarto sábado do mês de novembro. Essa cidade foi usada como base pelo FBI durante a investigação em 1971. Os moradores acreditam que Cooper tenha pousado de paraquedas perto do Lago Merwin, a poucas milhas a sudoeste de Ariel. Para celebrar o acontecimento, no D. B. Cooper Days a taberna onde o FBI instalou seu escritório serve comida e cerveja durante todo o dia aos visitantes, muitos deles fantasiados Cooper.

 

Diversos livros e documentários sobre o caso (como os citados ao longo do texto), explorando as possíveis e novas hipóteses continuam sendo lançados até nos dias de hoje.

 

 

Referências

 

BBC à https://cutt.ly/QhEjYsU

FBI à https://cutt.ly/bjpwc7b

Mental Floss à https://cutt.ly/ZhMtd62

Sábado à https://cutt.ly/njiDIX7

Wikipedia à https://cutt.ly/JhIsqiR