Tsug
✞Introdução✞
Grýla, também conhecida como
Grýlur, Grýlu-Brandr ou Bruxa do Natal, é um dos mais antigos personagens do
folclore islandês. Ela age no período natalino raptando crianças com mau
comportamento para se alimentar delas.
✞Origem✞
O nome “Grýla” é normalmente
traduzido como “aquela que aterroriza”, mas também pode ter se originado da
palavra norueguesa “gryle” que significa “rosnado”. Até o século XIII “grýla”
era usado como um sinônimo da criatura monstruosa conhecida como troll, mas
posteriormente a palavra foi usada para nomear a bruxa que comia crianças no
Natal. Grýla é originalmente citada como um troll em um livro da mitologia
nórdica chamado “Prose Edda” ou “Snorra Edda”, datado do século XIII.
Inicialmente ela foi descrita como uma mulher gigante e de aparência repulsiva, provavelmente sendo um híbrido de humano com troll. A descrição da sua aparência varia desde uma velha cadavérica, magra e pavorosa, até um ser grotesco com chifres, cascos fendidos, presas animalescas e apodrecidas, e olhos vermelhos ou amarelos brilhantes.
Em 1570 um poema do padre Guðmundur
Erlendsson também descreveu Grýla como um troll de pele cinzenta que comia crianças,
partindo seus ossos para sugar o tutano. Ainda no século XVI ela foi descrita como uma
velha magra que está sempre salivando e apressada.
No compilado de estórias
islandesas chamado “Saga de Sturlunga” organizado no século XV, Grýla é
referida como uma gigante ou uma ogra que causa terror e perigo. Também é
citado que ela possui de 15 a 40 caudas e que carregava 100 sacos, cada um com
uma capacidade de comportar 20 crianças. Outras descrições de Grýla dizem que
ela tinha 300 cabeças e 3 olhos em cada uma delas. Outro relato afirma que ela
tem unhas podres, olhos atrás da cabeça, chifres de cabra, as orelhas
penduradas até os ombros e presas ao nariz. Seu queixo é barbudo e seus dentes são
escuros como carvão.
Em meados dos séculos XVII a XIX
começaram a ligar a figura de Grýla com o Natal. Poemas a descreviam
como uma mendiga que vivia em cabanas ou cavernas bem isoladas nos campos de
lava de Dimmuborgir, Islândia. A partir do século XX Grýla deixou completamente
de ser descrita como uma criatura monstruosa para adotar a aparência de uma
bruxa clássica, obesa, com nariz fino e comprido.
No livro “Stafrófskver” escrito
por Jónas Sveinsson em 1873, Grýla é citada como uma bruxa corcunda, de cabelos
compridos e grisalhos, vestido preto e sapatos com bicos pontiagudos, unhas
vermelhas, pele escamosa, orelhas de abano, olhos de gatos e dentes acavalados
que não permitem com que sua boca se fechasse. Por onde andava ela espalhava
gotas de sangue que pingavam dos pedaços de crianças que carregava.
✞Características✞
Grýla possui a capacidade de
reconhecer as crianças de mau comportamento. Através do faro, a bruxa do natal
é capaz de identificar crianças que mente para os pais, que bate nos irmãos e
que não se portam adequadamente. Durante o Natal, ela sai dos campos de larva em
direção às cidades para raptar as crianças desobedientes. Ela bate à porta das
casas pouco antes da ceia para pedir comida e assim descobrir se existem
crianças vivendo ali. Com um saco gigante ela carrega as crianças e volta para
sua cabana, onde ela prepara um guisado com elas. Isso mesmo, Grýla devora as
crianças com um apetite insaciável.
Ela também pode agir atraindo
crianças com até um celeiro, prometendo dar doces ou presentes. Mas ao chegar
ao celeiro, ela coloca a criança em um saco e foge para sua cabana. Por causa
disso, existe uma crença na Islândia que facas são objetos de bom agouro, pois
com elas é possível cortar o saco e escapar das garras de Grýla.
Em algumas versões da lenda, Grýla não rapta crianças desobedientes no Natal
para devorá-las, mas sim vai atrás de crianças que tenham comido carne durante
a quaresma. Já nos poemas do escritor islandês Jóhannes Kötlum, Grýla é uma
velha que vive com seus filhos e gato. Nessa narrativa, ela recorre ao
canibalismo não com o intuito de penalizar crianças desobedientes, mas sim para
não morrer de fome.
✞Família✞
Grýla e sua família vivem nos
campos de lava da região de Dimmuborgir, Islândia. Dizem que ela teve três
maridos e dezenas de filhos (estima-se um número aproximando de 72). Muitos
desses filhos morreram ainda bebês, mas ela continuou os mantendo no berço como
se fossem crianças normais. Treze de seus filhos são conhecidos como “Yule
Lads” ou “Yulemen”. Eles representam a versão islandesa do Papai-Noel, já que
eles tem o habito de presentear crianças comportadas durante as 13 noites que
antecedem o Natal. Entretanto, quando os “Yule Lads” se deparavam com uma
criança desobediente eles a presenteiam com um pedaço de carvão. Além disso os
“Yule Lads” denunciam essas crianças desobediente para Grýla, que na mesma
noite sai à procura delas. A partir do século XX com a representação do
Papai-Noel norte-americano se popularizando na Europa, os “Yule Lads” começaram
a ser representados cada vez menos parecidos com trolls e mais parecidos com o
bom velhinho. Cada um dos “Yule Lads” tem características e comportamento
próprios, mas isso é tema para outro artigo de terror natalino.
Seus dois primeiros maridos
chamavam Gustur e Boli. Eles eram canibais preguiçosos que ficavam deitados o
dia todo, esperando que Grýla tratassem deles. Quando Grýla se entediou com
essa situação, eles também foram alvos do seu voraz apetite. Seu terceiro
marido é Leppalúði, um ogro ou troll gigante também relacionado ao folclore
natalino da Islândia, sendo esse o pai dos 13 “Yule Lads”.
Grýla também possui um gato
chamado “Yule Cat” ou “Jólakötturinn”. Ele é descrito como um gigante gato
preto, com presas afiadíssimas e olhos cor de fogo, que come pessoas que não
estão usando roupas novas no Natal. Ele
protege a caverna onde Grýla vive e não permite que ninguém a adentre. As vezes
Grýla precisa colocar o “Yule Cat” para fora da caverna, pois ele ameaça comer até
mesmo os filhos da bruxa. Por outro lado, quando “Yule Cat” trás uma criança
desobediente para a caverna, ele é presenteado com algumas fatias de carne.
✞Como
evitar✞
Existem algumas formas de evitar com
que Grýla adentre as casas e leve a crianças desobedientes com ela. Por meio de
orações e músicas natalinas, é possível afugentar a bruxa e assim prevenir que
ela se aproxime de uma moradia.
Além disso, caso a criança se
arrependa e assuma o erro junto aos pais, ela perde o cheiro característico que
Grýla consegue detectar. Ao invés disso, a criança começa a emanar um odor
desagradável ao faro de Grýla, que por sua vez não é mais capaz de devorá-la.
Mesmo quando Grýla captura uma
criança existe uma forma de escapar. Conforme abordado anteriormente, facas são
considerados objetos de sorte na Islândia justamente pelo fato de possibilitar
que as crianças raptadas por Grýla consiga rasgar o saco e escapar.
✞Proibição✞
Muitos pais usaram a lenda da
Grýla para, por meio do medo, tentar disciplinar as crianças. Diante disso,
muitas crianças começaram a ficar traumatizadas temendo serem levados por ela.
Além disso, devido à posição geográfica da Islândia, praticamente não há sol na
época de Natal. A escuridão paira ao longo de todo o dia, contribuindo para que
as crianças tenham ainda mais medo das criaturas místicas como a Grýla. De
acordo com Brian Pilkington, funcionário do Museu Nacional da Islândia “as
crianças têm muito medo de Grýla (...), visitei escolas infantis para demonstrar
habilidades de desenho e, se desenho Grýla, duas ou três crianças apavoradas
têm que sair da sala porque é muito forte para elas. Isso é folclore vivo.”
Para contornar tal problema, na
Islândia foi publicado um Decreto Público em 1746 proibindo que a lenda da
Grýla fosse contada às crianças.
✞Outros
países✞
Fora do território islandês existem lendas que remetem a personagens com vários aspectos semelhantes à Grýla, considerando sua aparência e/ou comportamento. São exemplos disso o Ketthontla na Finlândia, Kit Huntlin na Escócia, Bertha na Alemanha e a Cuca no Brasil.
✞Cultura
Popular✞
Grýla e seus filhos apareceram no
especial de Natal em 2018 da série “O Mundo Sombrio de Sabrina”, da Netflix. Entretanto,
nessa ocasião ela aparece como uma bruxa poderosa que protege crianças
maltratadas, não um monstro que tem a intenção de devorá-las. No seriado “Extra
Mythology” ela, seus filhos e seu gato também fazem uma participação.
Comumente Grýla é usada como
decoração natalina na Islândia. Em vários locais são colocadas estátuas de
Grýla com seu caldeirão, onde os turistas adentram para tirar fotos.
✞Referências✞
Guide to Iceland à https://bit.ly/3oTfcCn
Mental Floss à https://bit.ly/3mAisja
Mundo Tentacular à https://bit.ly/3A0kxtm
Portal dos Mitos à https://bit.ly/3D4X6Rn
Smithsonian à https://bit.ly/3Dp3djA
Wikipedia à https://bit.ly/3uqGG2S