sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

GRÝLA – A bruxa do Natal!

 

Tsug

 

Introdução

 

Grýla, também conhecida como Grýlur, Grýlu-Brandr ou Bruxa do Natal, é um dos mais antigos personagens do folclore islandês. Ela age no período natalino raptando crianças com mau comportamento para se alimentar delas.

 



 

Origem

 

O nome “Grýla” é normalmente traduzido como “aquela que aterroriza”, mas também pode ter se originado da palavra norueguesa “gryle” que significa “rosnado”. Até o século XIII “grýla” era usado como um sinônimo da criatura monstruosa conhecida como troll, mas posteriormente a palavra foi usada para nomear a bruxa que comia crianças no Natal. Grýla é originalmente citada como um troll em um livro da mitologia nórdica chamado “Prose Edda” ou “Snorra Edda”, datado do século XIII.

 

 

Aparência

 


Inicialmente ela foi descrita como uma mulher gigante e de aparência repulsiva, provavelmente sendo um híbrido de humano com troll.  A descrição da sua aparência varia desde uma velha cadavérica, magra e pavorosa, até um ser grotesco com chifres, cascos fendidos, presas animalescas e apodrecidas, e olhos vermelhos ou amarelos brilhantes.

 

Em 1570 um poema do padre Guðmundur Erlendsson também descreveu Grýla como um troll de pele cinzenta que comia crianças, partindo seus ossos para sugar o tutano.  Ainda no século XVI ela foi descrita como uma velha magra que está sempre salivando e apressada.

 

No compilado de estórias islandesas chamado “Saga de Sturlunga” organizado no século XV, Grýla é referida como uma gigante ou uma ogra que causa terror e perigo. Também é citado que ela possui de 15 a 40 caudas e que carregava 100 sacos, cada um com uma capacidade de comportar 20 crianças. Outras descrições de Grýla dizem que ela tinha 300 cabeças e 3 olhos em cada uma delas. Outro relato afirma que ela tem unhas podres, olhos atrás da cabeça, chifres de cabra, as orelhas penduradas até os ombros e presas ao nariz. Seu queixo é barbudo e seus dentes são escuros como carvão.

 

Em meados dos séculos XVII a XIX começaram a ligar a figura de Grýla com o Natal. Poemas a descreviam como uma mendiga que vivia em cabanas ou cavernas bem isoladas nos campos de lava de Dimmuborgir, Islândia. A partir do século XX Grýla deixou completamente de ser descrita como uma criatura monstruosa para adotar a aparência de uma bruxa clássica, obesa, com nariz fino e comprido.

 

No livro “Stafrófskver” escrito por Jónas Sveinsson em 1873, Grýla é citada como uma bruxa corcunda, de cabelos compridos e grisalhos, vestido preto e sapatos com bicos pontiagudos, unhas vermelhas, pele escamosa, orelhas de abano, olhos de gatos e dentes acavalados que não permitem com que sua boca se fechasse. Por onde andava ela espalhava gotas de sangue que pingavam dos pedaços de crianças que carregava.

 



 

Características

 

Grýla possui a capacidade de reconhecer as crianças de mau comportamento. Através do faro, a bruxa do natal é capaz de identificar crianças que mente para os pais, que bate nos irmãos e que não se portam adequadamente. Durante o Natal, ela sai dos campos de larva em direção às cidades para raptar as crianças desobedientes. Ela bate à porta das casas pouco antes da ceia para pedir comida e assim descobrir se existem crianças vivendo ali. Com um saco gigante ela carrega as crianças e volta para sua cabana, onde ela prepara um guisado com elas. Isso mesmo, Grýla devora as crianças com um apetite insaciável.

 

Ela também pode agir atraindo crianças com até um celeiro, prometendo dar doces ou presentes. Mas ao chegar ao celeiro, ela coloca a criança em um saco e foge para sua cabana. Por causa disso, existe uma crença na Islândia que facas são objetos de bom agouro, pois com elas é possível cortar o saco e escapar das garras de Grýla.



Em algumas versões da lenda, Grýla não rapta crianças desobedientes no Natal para devorá-las, mas sim vai atrás de crianças que tenham comido carne durante a quaresma. Já nos poemas do escritor islandês Jóhannes Kötlum, Grýla é uma velha que vive com seus filhos e gato. Nessa narrativa, ela recorre ao canibalismo não com o intuito de penalizar crianças desobedientes, mas sim para não morrer de fome.

 



 

Família

 

Grýla e sua família vivem nos campos de lava da região de Dimmuborgir, Islândia. Dizem que ela teve três maridos e dezenas de filhos (estima-se um número aproximando de 72). Muitos desses filhos morreram ainda bebês, mas ela continuou os mantendo no berço como se fossem crianças normais. Treze de seus filhos são conhecidos como “Yule Lads” ou “Yulemen”. Eles representam a versão islandesa do Papai-Noel, já que eles tem o habito de presentear crianças comportadas durante as 13 noites que antecedem o Natal. Entretanto, quando os “Yule Lads” se deparavam com uma criança desobediente eles a presenteiam com um pedaço de carvão. Além disso os “Yule Lads” denunciam essas crianças desobediente para Grýla, que na mesma noite sai à procura delas. A partir do século XX com a representação do Papai-Noel norte-americano se popularizando na Europa, os “Yule Lads” começaram a ser representados cada vez menos parecidos com trolls e mais parecidos com o bom velhinho. Cada um dos “Yule Lads” tem características e comportamento próprios, mas isso é tema para outro artigo de terror natalino.

 

Seus dois primeiros maridos chamavam Gustur e Boli. Eles eram canibais preguiçosos que ficavam deitados o dia todo, esperando que Grýla tratassem deles. Quando Grýla se entediou com essa situação, eles também foram alvos do seu voraz apetite. Seu terceiro marido é Leppalúði, um ogro ou troll gigante também relacionado ao folclore natalino da Islândia, sendo esse o pai dos 13 “Yule Lads”.

 


Grýla também possui um gato chamado “Yule Cat” ou “Jólakötturinn”. Ele é descrito como um gigante gato preto, com presas afiadíssimas e olhos cor de fogo, que come pessoas que não estão usando roupas novas no Natal.  Ele protege a caverna onde Grýla vive e não permite que ninguém a adentre. As vezes Grýla precisa colocar o “Yule Cat” para fora da caverna, pois ele ameaça comer até mesmo os filhos da bruxa. Por outro lado, quando “Yule Cat” trás uma criança desobediente para a caverna, ele é presenteado com algumas fatias de carne.


  


Como evitar

 

Existem algumas formas de evitar com que Grýla adentre as casas e leve a crianças desobedientes com ela. Por meio de orações e músicas natalinas, é possível afugentar a bruxa e assim prevenir que ela se aproxime de uma moradia.

 

Além disso, caso a criança se arrependa e assuma o erro junto aos pais, ela perde o cheiro característico que Grýla consegue detectar. Ao invés disso, a criança começa a emanar um odor desagradável ao faro de Grýla, que por sua vez não é mais capaz de devorá-la.

 

Mesmo quando Grýla captura uma criança existe uma forma de escapar. Conforme abordado anteriormente, facas são considerados objetos de sorte na Islândia justamente pelo fato de possibilitar que as crianças raptadas por Grýla consiga rasgar o saco e escapar.

 



 

Proibição

 

Muitos pais usaram a lenda da Grýla para, por meio do medo, tentar disciplinar as crianças. Diante disso, muitas crianças começaram a ficar traumatizadas temendo serem levados por ela. Além disso, devido à posição geográfica da Islândia, praticamente não há sol na época de Natal. A escuridão paira ao longo de todo o dia, contribuindo para que as crianças tenham ainda mais medo das criaturas místicas como a Grýla. De acordo com Brian Pilkington, funcionário do Museu Nacional da Islândia “as crianças têm muito medo de Grýla (...), visitei escolas infantis para demonstrar habilidades de desenho e, se desenho Grýla, duas ou três crianças apavoradas têm que sair da sala porque é muito forte para elas. Isso é folclore vivo.”

 

Para contornar tal problema, na Islândia foi publicado um Decreto Público em 1746 proibindo que a lenda da Grýla fosse contada às crianças.

 

 


Outros países

 

Fora do território islandês existem lendas que remetem a personagens com vários aspectos semelhantes à Grýla, considerando sua aparência e/ou comportamento. São exemplos disso o Ketthontla na Finlândia, Kit Huntlin na Escócia, Bertha na Alemanha e a Cuca no Brasil.


 

Cultura Popular

 

Grýla e seus filhos apareceram no especial de Natal em 2018 da série “O Mundo Sombrio de Sabrina”, da Netflix. Entretanto, nessa ocasião ela aparece como uma bruxa poderosa que protege crianças maltratadas, não um monstro que tem a intenção de devorá-las. No seriado “Extra Mythology” ela, seus filhos e seu gato também fazem uma participação.

 

Comumente Grýla é usada como decoração natalina na Islândia. Em vários locais são colocadas estátuas de Grýla com seu caldeirão, onde os turistas adentram para tirar fotos.

 



 

Referências

 

Guide to Iceland à https://bit.ly/3oTfcCn

Mental Floss à https://bit.ly/3mAisja

Mundo Tentacular à https://bit.ly/3A0kxtm

Portal dos Mitos à https://bit.ly/3D4X6Rn

Smithsonian à https://bit.ly/3Dp3djA

Wikipedia à https://bit.ly/3uqGG2S

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