sexta-feira, 13 de setembro de 2019

RANCHO SKINWALKER – A fazenda paranormal!

Gustavo Valente


O rancho Sherman e a lenda indígena do skinwalker

Resultado de imagem para skinwalker ranch nidsNo condado norte-americano de Uintah (estado de Utah) existe uma fazenda de aproximadamente 480 hectares onde, segundo relatos, ocorrem diversas atividades paranormais. Esse é o famoso Rancho Sherman, mais conhecido como Rancho Skinwalker. A propriedade é composta por dois complexos de edificações (ao noroeste e leste do terreno), construídas em 1905 pela família Myers (impossível não se lembrar de Michael Myers!).

O nome ‘skinwalker’ é de origem indígena. Segundo os nativos norte-americanos da tribo Navajo, ‘skinwalkers’ são bruxos malignos que, ao alcançar o mais alto nível sacerdócio da tribo, mataram um membro de sua família para adquirirem a capacidade de se transformarem em qualquer animal (relatado principalmente como coiote, coruja, raposa, lobo ou corvo). Segundo a lenda, um skinwalker é capaz de manter sua consciência humana mesmo quando transformado, fato que difere de outros seres místicos que perdem totalmente o discernimento, como lobisomens. Dizem que a fraqueza de um skinwalker se manifesta quando alguém descobre seu verdadeiro nome: o fato de pronunciá-lo na sua presença pode ser fatal à criatura.

Corroborando com a lenda do skinwalker, o aparecimento de estranhas criaturas é um dos vários fenômenos inexplicáveis que ocorrem no local, o que provavelmente contribuiu para que a propriedade recebesse essa denominação.

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Família Gorman e início de manifestações paranormais

Ao longo dos anos, a posse dessas terras foi mudada de dono com certa frequência. Na década de 30 ainda há relatos de que a propriedade pertencia aos Myers, sendo ocupada pelo casal       Kenneth e Edith Myers. Lá eles permaneceram até 1987. No outono de 1994, a propriedade foi comprada pela família Gorman (composta por pai, mãe e dois filhos), que planejavam criar gado no local. Desde então, o local foi batizado como Rancho Sherman, já que esse era o nome verdadeiro da família compradora (o nome real do casal é Terry e Gwen Sherman). Gorman foi apenas um sobrenome falso, adotado para preservar a identidade da família no momento em que começaram a surgir os boatos sobre a aptidão sobrenatural da propriedade.


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Terry Sherman / Tom Gorman


O rancho sempre foi uma fazenda como qualquer outra. Esse seria só mais um lugar no qual nunca iríamos ouvir falar. Mas no dia 30 de junho de 1996 foi publicado um artigo no jornal Deseret News, sob autoria de Zack Van Eyck, revelando ao mundo alguns fenômenos ocorridos no Rancho Skinwalker durante a estadia da família Gorman no local.

Um fato que surpreendeu a família, logo na chegada ao local, foi a presença de muitas trancas nas portas e nas janelas da casa, além de pinos de ferro e correntes. Logo eles descobririam o porquê de tanto zelo na proteção da casa. Desde o primeiro dia, a família Gorman vivenciou alguns acontecimentos que fugiam da normalidade. Entre os eventos, destacaram-se a existência de uma inteligência invisível que atormentavam suas mentes, o surgimento de sombras no interior da casa (povo das sombras), a movimentação de objetos inanimados (atividade poltergeist), a presença de vozes nos cômodos e o desaparecimento ou mutilação (de forma cirúrgica) dos bovinos ali criados. Além desses fenômenos, uma série de outros acontecimentos foi relatada, como o avistamentos de OVNIs e orbes coloridos no céu, a aparição de um skinwalker (na forma de um lobo gigante à prova de balas, como será melhor detalhado no próximo tópico), a visita de homens de preto e aparições criaturas sobrenaturais (pé grande e do homem mariposa).

O registro de tais fenômenos era muito dificultado devido o caráter esporádico com que aconteciam. Muitos desses ocorreram uma única vez e, quando algum fenômeno se repetia, ele não seguia uma frequência ou padrão definidos.




O lobo gigante

Um dos relatos sobrenaturais mais impressionantes ocorreu logo no primeiro dia após a mudança da família. Mesmo com o tempo chuvoso, a família afirmou ter avistado um gigantesco lobo no pasto que ficava bem em frente ao rancho. Em certo momento, a criatura decidiu ir até próximo da casa e permitiu não apenas que os Gorman se aproximassem, mas também que eles o tocassem e o adulassem, como se ele fosse uma mascote. A família conseguia até mesmo sentir o cheiro de “cão molhado” que o animal exalava naquelas condições climáticas.

Após algum tempo, o animal decidiu percorrer a propriedade, indo até o curral onde mordeu e puxou um novilho pelo focinho através da grade de uma baia. Tom Gorman (ou Terry Sherman), o patriarca da família, tentou salvar seu novilho golpeando o dorso do lobo com um pedaço de pau. Como a criatura não soltava o novilho, Tom decidiu tomar uma medida mais drástica ao disparar com uma Magnum 357 à queima-roupa contra o lobo. Porém, os tiros não surtiam nenhum efeito no animal.

Tom não desistiu e continuou a atirar contra o lobo. Em certo momento, a criatura decidiu soltar o novilho e ao encarar seu agressor, adotando uma postura de pé sobre as patas traseiras. Intrigado, o fazendeiro, que era um exímio atirador esportivo, decidiu usar algo mais potente. Foi aí que ele pegou seu rifle, capaz de derrubar até mesmo um alce, e disparou contra a criatura. No quinto tiro, um tufo de pelo do animal foi arrancado, mas mesmo assim, ele parecia não estar nem um pouco incomodado com aquela situação. Com o 6º tiro o animal enfim mostrou um comportamento condizente com a situação: ele começou a fugir.

Tom e seus filhos decidiram seguir os rastros do lobo por cerca de 1,5 km. A partir daí, as pegadas na lama inexplicavelmente desapareceram, como se o animal tivesse simplesmente sumido (ou flutuado).

Voltando à propriedade, Tom recolheu e examinou os pelos deixados pela criatura. Neles havia um pedaço do corpo da fera aderido, que aparentava e cheirava como carne estragada e que também exalava cheiro de enxofre. Nos dias subsequentes, o fazendeiro perguntou aos vizinhos se algum deles tinha avistado uma criatura com aquelas características. Porém, nenhuma resposta nesse sentido foi obtida.


Alguns semanas depois, a esposa de Tom se deparou com outro lobo gigante, muito maior que o primeiro. Segundo a própria, o dorso do animal atingia a altura da borda superior das janelas do carro. Dessa vez, a criatura estava acompanhada de outro ser, parecido com um cão.


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Animal fotografado nas imediações da propriedade



Outras criaturas

Além de lobos gigantes, outras criaturas supostamente também rondaram a propriedade de acordo com a família. Foi o caso, por exemplo, de pássaros com cores exuberantes que nada se pareciam com os da fauna nativa de Utah. Bestas escuras de aproximadamente três metros de altura, com características físicas semelhantes às dos sasquatches (vulgo pé-grande), também foram avistadas diversas vezes.

Certo dia, Tom e sua esposa estavam transitando por uma das estradas do rancho de carro, quando perceberam um ser muito estranho atacando os cavalos. Com aspecto animalesco que lembrava uma hiena, a criatura era bastante musculosa e repleta de pelos ruivos cacheados ao longo do corpo. Imediatamente Tom foi de encontro àquele ser, mas ao chegar bem perto, a criatura simplesmente desapareceu de forma inexplicável. Porém, marcas de feridas em formato de garras puderam ser notadas nas patas dos cavalos. Tempos depois, uma criatura com as mesmas características foi avistada pela esposa de um policial local em sua propriedade.

Em outra oportunidade, Tom e seu filho estavam mostrando a propriedade para um visitante, quando viram um vulto se movendo velozmente entre as árvores do rancho. Os três decidiram seguir aquela movimentação, mas quando se aproximaram da criatura ela soltou forte rugido, lembrando os rugidos de ursos. Assustado, o visitante deixou aquele local e nunca mais voltou.


Manifestações sensoriais, físicas e mutilação de gado

Além dos mais variados encontros com criaturas estranhas, a família Gorman também alega ter tido algumas experiências sensoriais na propriedade.

Inexplicavelmente, em alguns momentos surgiam cheiros fortes que lembravam a fragrância de almíscar (perfume obtido a partir de substâncias encontradas em algumas plantas, que também é secretada por glândulas de animais como o cervo-almiscarado). Além dos odores característicos, luzes também apareciam durante a noite e clareavam grandes áreas de pastagem. Em algumas ocasiões, até mesmo fazendeiros vizinhos presenciavam tais fenômenos. Eles afirmaram ter ouvido sons de maquinário pesado em funcionamento e vozes em momentos em que não havia atividade no rancho.

Em certa ocasião, Tom e um sobrinho afirmaram ter ouvido uma conversa em um idioma irreconhecível para eles. As vozes pareciam masculinas, tinham um tom bastante irônico e ecoavam do alto, cerca de 10 metros acima de suas cabeças. Ambos procuraram ao redor da propriedade em busca da origem daquelas vozes, mas nenhum indício foi encontrado. Durante essa busca, os cães do rancho os acompanharam, latindo sem parar. Mas em certo ponto, os animais mudaram totalmente seu comportamento, dando meia-volta e fugindo em pânico do local em que estavam.

Em outro relato, Tom afirma que ao verificar o gado como fazia todo dia, presenciou vários buracos cavados nos pastos, estimando que cerca de 1 tonelada de terra tivesse sido removida. Segundo o mesmo, os buracos tinham características peculiares e que seguiam um padrão, sendo que, “suas extremidades se pareciam com círculos concêntricos perfeitos, como se alguém tivesse enfiado um cortador de biscoitos gigante no chão”.

Frequentemente a família Gorman presenciava a movimentação de objetos no rancho. Janelas e portas se abriam e fechavam sozinhas e com muita brutalidade. Além disso, alguns objetos misteriosamente desapareciam e depois apareciam em um local improvável. Mesmo com a casa toda fechada, era comum presenciar o desaparecimento de roupas, ferramentas e aparelhos, que posteriormente reapareciam em outros locais. Certa vez, uma pá desaparecida foi encontrada nos galhos de um arbusto de algodão. Até mesmo algumas lenhas sumiram apenas meia hora após serem empilhas. O desaparecimento mais curioso não foi de nenhum objeto, mas sim de animais! Quatro touros supostamente teriam desaparecido enquanto pastavam e, posteriormente, foram encontrados totalmente mutilados na caçamba de um caminhão.


Mutilação de gado era outro fenômeno bem recorrente no Rancho Skinwalker. Foram encontrados animais ausentes de orelhas, olhos, glândulas mamárias, genitálias, coração, ânus e alguns totalmente sem sangue. Um bezerro foi encontrado morto, com apenas 40% de sua massa corpórea e sem sangue. O mais curioso é que 45 minutos antes disso o animal tinha sido visto com vida. Outros fatos surpreendentes relacionados a esse incidente foi a ausência de rastros de sangue e o padrão de cortes no corpo do bezerro, que sugeriam o uso de lâminas e dentes.  Estima-se que cerca de 20% do rebanho tenha se perdido em função dos episódios de mutilação.

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Mesmo nas horas de sono a família era atormentada por essas forças paranormais. Pesadelos terríveis eram frequentes em todos os membros da família. Tais fenômenos começaram a afetar diretamente na vida deles. Antes bons alunos, os dois filhos começaram a apresentar uma queda no desempenho escolar. As faltas no trabalho custaram o emprego da esposa de Tom em um banco local. Na tentativa de reverter essa situação, ou ao menos se protegerem, a família passou a dormir unida no chão da sala do rancho.


Fenômenos ufológicos

É importante ressaltar que relatos de avistamentos de OVNIs ocorrem naquela região desde a década de 50. Registros dos ancestrais da tribo nativa Ute também já indicavam a ocorrência de tais fenômenos naquela área. Até mesmo os colonizadores espanhóis já registraram algumas ocorrências dessa natureza por volta de 1700. Estima-se que cerca de 50 mil residentes daquela região já tiveram alguma experiência de avistamento de objetos estranhos no céu. Joseph Junior Hicks, professor local aposentado, catalogou cerca 400 incidentes envolvendo relatos de OVNIS e/ou alienígenas. A incidência desses fenômenos é tão grande, que a polícia e patrulha rodoviária, desde a década de 70, desistiu de registrar ocorrências dessa natureza.

Seguindo a tradição da região, fenômenos ufológicos marcantemente se mostraram presentes durante a permanência da família Gorman no rancho. A esposa de Tom foi a primeira a ver objetos estranhos no céu daquele lugar. Antes dos fenômenos começarem a se intensificar, ela afirmou ter visto um objeto triangular preto (semelhante aos caças Stealth F-117), rodeado por luzes em forma discoide que piscavam intermitentemente. Em seguida, todos os objetos pararam no ar, a uns 7 metros de altura, e lá permaneceram sem emanar nenhum som. Depois de permanecerem algum tempo imóveis no ar, os OVNIs partiram em alta velocidade até desaparecer pela imensidão do céu. As aparições começaram a ficarem mais frequentes a partir da primavera de 1995. Ao verificarem o gado, Tom e seu sobrinho avistaram de longe um estranho veículo parado na fazenda. Tinha as dimensões de um caminhão, mas o formato de geladeira. Emanava uma luz branca na parte dianteira e uma vermelha na traseira. Ao se aproximarem, imaginando que o motorista precisaria de algum auxílio mecânico, o veículo flutuou sobre eles sem fazer qualquer ruído e desapareceu.

Depois desse acontecimento, os avistamentos passaram a ser cada vez mais frequente. Certa vez, foram observados objetos esféricos azuis sobrevoando o pasto do rancho. Incomodados com aquela atividade, cinco cães começaram a perseguir os objetos, mas os animais foram desintegrados ao se aproximarem dos orbes. A família Gorman também afirmou que uma nuvem sempre pairava sobre a propriedade, Nela era possível observar luzes cintilando, embora nenhum som fosse emanado dali.

Círculos nas plantações também se formaram nos pastos da propriedade. Foram contabilizados um total de três círculos de três metros de diâmetro, aproximadamente. Entre cada um dos círculos havia uma distância de 10 metros, sendo que cada um deles formava a ponta de um triângulo. Apesar de esse ser um dos fenômenos mais passíveis de fraudes, a família Gorman afirmou não ter envolvimento com a construção dos círculos. Além disso, pelo fato de existir apenas uma estrada de acesso à fazenda, eles controlavam a aproximação de qualquer pessoa que pudesse ir até lá com esse intuito.


Ao total, a família Gorman e seus vizinhos relataram 12 incidentes que sugeriam atividade ufológica entre os anos de 1995 e 1996. O principal e mais frequente deles era o avistamento de orbes. Certa vez, a família Gorman e alguns de seus vizinhos presenciaram esferas alaranjadas e azuladas percorrendo o céu. Um vizinho chegou a dizer que pareciam bolas de basquete voadoras. Tom por sua vez afirmou que pequenas esferas saíam do interior do orbe maior. Alguns desses orbes eram descritos como transparentes e continham o que parecia ser um vórtex líquido em seu interior. Quando esses objetos apareciam, coincidentemente a rede elétrica era afetada: as luzes da propriedade começavam a piscar intermitentemente. Conforme já relatado, houve um incidente envolvendo orbes que supostamente teriam causado a morte de vários cães de forma brutal.

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O rancho é vendido – pesquisas científicas iniciam no local

Diante de tantos acontecimentos, a família não suportava mais permanecer no rancho. Então após apenas 20 meses de estadia no local, Tom Gorman colocou a propriedade à venda.

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Robert Bigelow
No ano de 1995 o Racho Skinwalker foi adquirido por Robert Bigelow por 200 mil dólares. Bigelow é um magnata do ramo da hotelaria e grande entusiasta da temática ufológica. Ele também era proprietário do ‘National Institute for Discovery Science’ (NIDS) e, por meio dessa instituição, realizou diversos estudos científicos na propriedade. O NIDS era conhecido por financiar estudos paranormais, e aquele local apresentava uma variedade de fenômenos que atendiam os anseios do instituto.

Encabeçado por Colm Kelleher, o NIDS iniciou as pesquisas com a construção de postos de observação com câmeras distribuídas ao longo da fazenda. A família Gorman foi convencida a permanecer certo tempo no local mesmo após a venda da propriedade, para auxiliar os pesquisadores na observação e registro dos eventos. Segundo Kelleher, “não tínhamos nenhuma ideia pré-concebida sobre o que estava ocorrendo, mas decidimos usar uma abordagem de ‘filtro aberto’ para juntar informações. (...) Tínhamos muitos relatos sobre lendas de skinwalkers, avistamentos de pés-grandes e aquelas coisas que a família alegava estar vendo. Mas decidimos colher toda à informação que pudéssemos, sem desconsiderar nada de imediato, e avaliar tudo mais tarde”.

Os membros do NIDS ressaltaram que durante os estudos eram frequentemente alertados por Bigelow para que seguissem à risca as metodologias científicas reconhecidas. Essa seria a única forma de obter resultados com certa credibilidade no meio científico, uma vez que pesquisas paranormais ainda não eram (e nem são) bem vistas e aceitas na comunidade acadêmica. Todos (ou melhor, quase todos) os resultados obtidos pelo NIDS são mantidos em sigilos até hoje. O NIDS jamais permitiu sequer a aproximação de curiosos. Quando algum civil se aproximava, a equipe de patrulha logo os rendiam e o intimidavam, ameaçando prendê-los ou processá-los.

Resultado de imagem para skinwalker ranch ufoMas em 2002 o NIDS permitiu que um jornalista do ‘Las Vegas Mercury’, chamado George Knapp, tivesse acesso ao rancho e escrevesse uma matéria sobre ele. Knapp destacou que a equipe do NIDS era composta por pesquisadores sérios, com formação em áreas como física, biologia e veterinária. O grupo tinha como maior foco a documentação de fenômenos ao invés de buscar uma explicação lógica para eles. Ainda segundo o jornalista, alguns ex-funcionários (principalmente do setor de segurança) alegaram que nunca mais gostariam de voltar àquele local. A publicação do artigo inspirou Kelleher a escrever o livro “Hunt for the Skinwalker: Science Confronts the Unexplained at a Remote Ranch in Utah” em 2005, no qual ele relata sua experiência como pesquisador do local.





Fenômenos presenciados pelo NIDS

Conforme já destacado, a maior parte das pesquisas e registros do NIDS é mantido sob sigilo. Por causa disso, alguns céticos famosos, como James Randi, encontraram a oportunidade perfeita para taxar aquelas pesquisas como um “estudo inútil de um sobrenatural, paranormal ou oculto”. Entretanto, no artigo de Knapp e no livro de Kelleher é possível ter acesso a algumas informações sobre eventos ocorridos no rancho durante a estadia do NIDS no local.

Segundo essas fontes, o local parecia ser dotado de uma inteligência pré-cognitiva, uma vez que, seja lá o que provocava os fenômenos, parecia gostar daquilo e ser capaz de prever os anseios dos cientistas. Com o passar do tempo, a natureza divertida dos fenômenos, muito evidente na época em que família Gorman estava presente, começou a mudar para um tom mais sombrio.

Um dos fenômenos observados pelo NIDS foi abertura de um portal em uma das pastagens à meia-noite. Ele emitia um forte brilho e tinha aproximadamente 1,5 metros de diâmetro. Um ser não identificado chegou a sair desse portal, rastejando, e depois se levantou e correu até desaparecer. Outro fenômeno que continuou ocorrendo após a saída da família foi as mutilações de gado.

Quando o NIDS assumiu a posse do rancho, foram instalados postes com câmeras em vários pontos da propriedade. Com muita frequência, algumas dessas câmeras eram totalmente destruídas. O mais curioso é que as imagens registradas indicaram que o responsável por aquilo era uma força invisível.

Kelleher e Knapp também relataram a ocorrência de outro evento bastante surreal. Dois policias estavam patrulhando aquela região quando se depararam com dois indivíduos trajando sobretudos e fumando cigarro, bem na frente da porteira da propriedade. Ao iluminá-los com lanternas, os dois misteriosos homens se viraram e os policiais puderam perceber que eles tinham rostos de cães. Os policiais se olharam, desesperados, e nem perceberam o desaparecimento dos homens-cães. Apesar de eles terem desaparecidos, as bitucas de cigarro foram encontradas bem sobre o solo onde ambos se encontravam anteriormente.

A partir dos anos 2000, a ocorrência de fenômenos diminuiu consideravelmente, culminando no fechamento do NIDS. Contundo a propriedade seguiu sob a posse e vigilância de Robert Bigelow até 2016.


O rancho atualmente

Em abril de 2016 o rancho foi adquirido pela imobiliária Adamantium Real Estate pela bagatela de 4,5 milhões de dólares (montante aproximadamente 20x maior que o valor pago por Bigelow!). De acordo com Thomas Winterton, represente da imobiliária, a identidade do proprietário seria mantido em sigilo por razões comerciais. Uma das primeiras ações da nova proprietária foi aumentar o perímetro de proteção do rancho, bloqueando estradas, espalhando mais câmeras e cercando o terreno com arame e placas. Mesmo assim, segundos algumas autoridades como o tenente local, Brian Fletcher, e o chefe do Departamento de Assuntos Indígenas, Erick Blackburn, nos últimos anos têm sido relatado muitos casos de invasão, roubos e vandalismo na propriedade.

Os próprios zeladores do rancho, em entrevista ao site Ubmedia em 2016, afirmaram que frequentemente eram incomodados por curiosos e pessoas más intencionadas. Eles afirmaram ainda que esses acontecimentos os deixavam mais temerosos do que qualquer suposto evento paranormal que ocorra ali. O mais curioso é que a entrevista teve que ser interrompida justamente pelo fato de algumas pessoas tentarem invadir o local naquele momento.

Para contornar tal problema, Thomas Winterton chegou a solicitar ao governo local a concessão de uma parte da rodovia que levava até o rancho, visando ampliar o monitoramento da propriedade. Mesmo com o pedido negado, a estrada atualmente encontra-se fechada ilegalmente sem causar grandes impactos no transito local, uma vez que essa via é praticamente deserta e abandonada.

A Adamantium Real Estate recentemente também registrou os termos “Skinwalker” e “Skinwalker Ranch” como marcas comerciais. Isso abre margem para que, futuramente, a empresa utilize da fama do local para realizar alguma atração de entretenimento envolvendo o rancho. É evidente que, pelo valor pago e interesse dela no rancho, a Adamantium seja uma empresa de fachada. Tal afirmação se fundamenta ainda mais pelo fato de não ser de conhecimento publico quem é o dono dessa empresa (quem sabe não seja o próprio Bigelow!?).

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Bloqueio na estrada próximo ao Rancho Skinwalker


Por que os fenômenos aconteciam nesse local?

Uma das explicações para a ocorrência dos diversos e variados fenômenos paranormais naquele local, seria a provável existência de uma fenda dimensional que permite a entrada de entidades de outras dimensões. Tal fenômeno já foi presenciada até mesmo pelos pesquisadores do NIDS, conforme detalhado anteriormente.

Resultado de imagem para terry sherman skinwalker ranchOutra explicação mística para tais ocorrências pode ter ligação com as tribos indígenas que habitavam a região desde os primórdios, mais especificamente as tribo Ute e Navajo, citadas ao longo do texto. De acordo com o professor Hicks (o mesmo que catalogou centenas de experiências ufológicas), antes mesmo da colonização norte-americana, ambas as tribos já não conviviam em harmonia. As desavenças tomaram uma nova proporção com a colonização na América do Norte, quando os Ute fizeram uma aliança com os espanhóis. O trato era muito simples: os colonizadores forneciam cavalos enquanto os Ute retribuíam sequestrando Navajos e os entregando para que os espanhóis os usassem como mão de obra escrava. Alguns anos depois, os Navajos foram totalmente expulsos da região. Isso aconteceu na época da Guerra Civil, quando os Ute se associaram com Kit Carson (famoso nome do velho oeste norte-americano, envolvido em muitas guerras contra indígenas) e tiveram acesso à força militar suficiente para expulsar seus rivais. Isso deu origem à famosa “Longa Caminhada dos Navajos” até Fort Sumner, Novo México, onde se estabeleceram.

Entretanto, a retaliação pela derrota veio logo na sequência: a tribo Navajo teria supostamente rogado a maldição ‘skinwalker’ sobre a tribo Ute, ou seja, eles mandaram um ser em forma de lobo para atormentar todos que desfrutassem daquela área. O povo Ute acredita que a presença de skinwalkers na bacia de Uintah remonta ao menos 15 gerações. A convicção nesse ser é tamanha, quee os povos nativos da região evitam se aproximar de um pequeno monte dentro do rancho, batizado como ‘Skinwalker Ridge’ (cume do skinwalker), onde supostamente o lendário ser habita.




Na mídia

Em 2013 foi lançado o filme ‘Skinwalker Ranch’ que conta a história de uma equipe de investigadores que instalam câmeras na fazenda após o filho do proprietário desaparecer. O filme mostra muitos dos fenômenos que ocorreram segundo relato da família Gorman, como aparição de luzes, OVNIs, criaturas gigantes e fenômenos poltergeist. O filme mistura elementos footages como os vistos em ‘Atividade Paranormal’ (utilização de câmeras fixas em ambientes fechados) e ‘A Bruxa de Blair’ (exploração de ambientes abertos em primeira pessoa).


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Referências consultadas

Assombrados à https://bit.ly/2P7rmXZ
Extraterrestres à https://goo.gl/8yoYv8
Noite Sinistra à https://goo.gl/iFA1Xc
Thought Catalog à https://bit.ly/2kreAoJ
Wikipedia à https://bit.ly/2c2q3Vf

terça-feira, 13 de agosto de 2019

BOITATÁ – A serpente que sobreviveu ao dilúvio bíblico!


Gustavo Valente


Origem e características

O boitatá também é conhecido pelos nomes de mboitatá, baitatá ou batata (região Sul), biatatá (Bahia), bitatá, bata (São Paulo e Minas Gerais) e batatão (região Norte e Nordeste). Trata-se de um personagem do folclore brasileiro, descrito como uma grande serpente de fogo que protege as matas e campinas contra pessoas intencionadas a queimá-las.  

Tal lenda tem origem indígena, assim como seu nome. Do tupi-guarani, boitatá vem de cobra (boi) e fogo (tata). O folclorista brasileiro Couto Magalhães destacou em sua obra “O Selvagem” (1876) que “como a palavra o diz, boitatá é cobra-de-fogo”. O primeiro registro histórico acerca da lenda encontra-se numa carta do padre jesuíta José de Anchieta, escrita em 31 de maio de 1560, no qual ele cita algumas lendas relatadas pelos indígenas: "Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados ‘baetatá’, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza”.


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Na obra “Lendas do Sul” de 1913, escrita por João Simões Lopes Neto, é descrita algumas características físicas dessa criatura. O boitatá se apresenta como uma grande serpente que emana fogo, concentrado principalmente em sua cabeça. Em meio a essa chama, é possível ver diversos olhos. Segundo a lenda, o boitatá era uma boiguaçu (sucuri) que permaneceu adormecendo em um tronco dentro de uma caverna durante o grande dilúvio de 40 dias retratado no Antigo Testamento da Bíblia (o mesmo dilúvio da conhecida estória da Arca de Noé!). A enchente decorrente da chuva foi fatal para a maioria todos os animais da floresta, exceto essa sucuri. Quando despertou, estava faminta e resolveu caçar. Ao ver os animais mortos, a sucuri decidiu comer apenas seus olhos, já que eles permaneciam brilhando devido aos resquícios da última vez que o sol raiou. Na medida em que os predava, a cobra começou a ficar paradoxalmente transparente e intensamente luminosa, até se tornar uma cobra de fogo com diversos olhos. Como forma de pagar pelo pecado da gula, ele se tornou uma alma penada que vaga pelas florestas, protegendo-as contra a devastação e queimadas.


Da mesma forma, outras vertentes históricas da lenda também atribui a origem do boitatá ao grande dilúvio bíblico. Entretanto, tais relatos apontam que outros animais também foram capazes de sobreviverem à tempestade. A sucuri ao despertar deu seu sono tinha a vantagem de enxergar muito bem na escuridão, fato que conferiu uma facilidade em predar os demais animais sobreviventes. Com a grande oferta de alimento, ela decidiu comer apenas as partes que julgava mais apetitosas: os olhos. De tanto comê-los, a sucuri foi adquirindo a luminosidade de tais estruturas. Quando essa serpente morreu, sua alma foi amaldiçoada, pelo pecado da gula, a vagar pelas matas, como uma serpente toda iluminada.

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Existe também uma variação da lenda em Santa Catarina, relatada no livro “Terra Catarinense” por Crispim Mira, em 1920. Nessa, o boitatá não é retratado como uma cobra, mas sim como um touro feroz que disparava chamas pela boca. Além disso, ele tem "pata como a dos gigantes” e “um enorme olho bem no meio da testa”, como um ciclope. Essa criatura já foi visualizada nas praias de Santa Catarina e até mesmo voando por cima de árvores em matas desse estado. Muitos acreditam que esse boi seja a alma de indivíduos que em vida tinham relações incestuosas com suas comadres. Para afugentá-lo ou captura-lo, diz-se que é necessário amarrá-lo com cordas de sino de igreja.

No estado do Paraná temos ainda uma quarta versão da lenda: nessa, o boitatá também é fruto da relação entre compadre e comadre, e sua forma física não é de uma serpente ou bovino, mas sim de esferas de chamas. Tais esferas normalmente não fazem mal para os que se deparam com elas, e estão condenadas a vagarem eternamente nas noites, entre os galhos das árvores de florestas. Por causa dessa outra vertente de origem do boitatá, em alguns lugares ele também é conhecido como “alma dos compadres e das comadres”.

A lenda do boitatá também está presente em algumas regiões do Paraguai e Argentina. Apesar de ter uma origem diferente, a lenda aborda aspectos já retratados nos boitatás brasileiros, como a figura da serpente de fogo e a relação incestuosa entre compadre e comadre. Nessa lenda os indivíduos que cometeram tal transgressão, ao adormecer se transformam em víbora (ou pássaro) com a cabeça em chamas. Em seguida, essas serpentes procuraram uma à outra até se encontrarem e se devorarem mutuamente.

Podemos perceber que de acordo com a região, o boitatá pode ter diferentes origens. Tais relatos ora apresentam muito pontos em comuns, mas ora apresentam muitos aspectos conflitantes. Esse pode ser o resultado de uma história ser passada de geração a geração a partir de relatos orais, sem que um registro escrito definitivo fosse feito. Dessa forma, as diferenças culturais entre cada região podem determinar mudanças consideráveis na estória, sendo mal percebidas uma vez que ocorreram de forma gradativa ao longo do tempo.


Poderes

Geralmente o boitatá habita as águas de rios ou lagoas. A maior parte dos avistamento dessas criaturas ocorre na margem de algum leito d’água. De acordo com a lenda, o fogo emanado por ele é mágico, por isso não provoca incêndios nas florestas e nem se apaga quando se submerge na água. Mas quando alguém entra em sua mata com más intenções, principalmente visando iniciar uma queimada, o boitatá entra em ação. Uma das estratégias utilizadas por essa criatura é a capacidade de se transformar em um tronco em brasas, denominado “méuan”. Quando o malfeitor eventualmente encosta nesse tronco, ele imediatamente entra em combustão, queimando-o em contrapartida. Acredita-se também que quando a pessoa direciona seu olhar diretamente para algum dos vários olhos do boitatá, esta imediatamente se torna cega e louca. Sugere-se ainda que o melhor a ser feito ao se deparar com um boitatá é permanecer parado, com a respiração presa e de olhos bem fechados até ele ir embora. Tentar fugir dele pode não ser uma boa ideia, uma vez tal atitude pode ser o gatilho para que o boitatá inicie um ataque.

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Relatos de testemunhas


Existe um levantamento elaborado por Vanderci de Andrade Aguilera, intitulado como “O baetatá existe realmente?”, no qual um questionário foi aplicado aos moradores de regiões rurais do estado do Paraná, acerca de suas experiências com o boitatá. Dos 130 participantes, 27 (21%) afirmaram ter visto o boitatá pessoalmente, enquanto 25 indivíduos (19%) relataram alguma narrativa ouvida dos ancestrais ou vivenciada por eles. Por outro lado, 34 pessoas (26%) afirmaram não saber do que se tratava o boitatá, embora já tivessem ouvido algo a respeito disso, enquanto 44 pessoas (34%) nunca tinham ouvido nada a relacionado a essa lenda.

O estudo de Aguilera também é rico na descrição de alguns relatos de testemunhas oculares do boitatá. Abaixo coloco algumas dessas narrações. Sugiro que acessem o texto na íntegra para terem acesso aos 16 relatos sobre a criatura colhidos nesse levantamento (o link do artigo “O baetatá existe realmente?” se encontra ao final deste texto).

Resultado de imagem para boitataRelato nº 1: “Ah! meu pai que falava do baitatá. Meu pai falava que um dia ele foi caçar no rio, daí ele chegou lá no rio e diz que começou aquele barulho e aquele fogo. Daí ele disse assim que era o baitatá, ele disse que o baitatá era parte do coisa ruim, né, e estava assustando ele. Daí ele pegou e foi e voltou pra trás por que já era três vezes que ele tinha ido pra lá, e três vezes que ele passava por ali e o baitatá estava atentando ele e era o coisa ruim”.

Relato nº 2: “Ah! Sim, nós vimos uma vez, nós estávamos sentados na área de casa quando chegando daí de noitezinha tinha um fogo na roça do vizinho e desceu aquela fita de fogo naquele um e daí daquele extraviou tudo, de repente subiu um com o outro pra cima daí desceu e se pecharam daí ficaram em dois, daí um ia sozinho, de repente os dois subiram em cima duma serra e sumiram, nós vimos uma única vez, mas aí contaram que era o tal do baitatá”

Relato nº 3: “Volta e meia aí num lugar eu noto aí que dava (o baitatá), eles falavam que tinham visto o baitatá e coisa e eu ficava ‘escuitano’ assim, mas eu mesmo enxergar nunca enxerguei”

Relato nº 12: “Já (vi). Fica nas árvores assim. Diz que se não mexer com ele, diz que ele não mexe com a gente, só quem assobia, daí ele...daí ele vem, e queima. [E a senhora já viu muito?] Já, eu vi bastante já. [Onde?] Ih, assim nos matos, sempre dá, a gente enxerga de longe aquela tocha de fogo, (...) Se assobiar eles vêm, que vêm loucos na gente”



Criador de boitatás?

Visando fomentar a importância cultural da lenda ou apenas fazer uma brincadeira, na internet há o relato de Tiago Scaramella que afirma criar tais criaturas em São José do Timbózinho - SC. Segundo o próprio, é possível pegar o filhote em mãos, já que ele não é agressivo e nem muito quente. Tal criação exige um amplo espaço físico, uma vez que eles tendem a se afastar quando algum desconhecido se aproxima. No inverno, os boitatás tendem a buscar proteção contra um frio embaixo de folhas de fumo. Scaramella afirmou também que certa vez um amigo levou um casal de boitatá para o Acre, visando afugentar o mapinguari (outra criatura do folclore brasileiro que vive na floresta amazônica) de sua propriedade.


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Explicações racionais – o fogo-fátuo

Existem muitas testemunhas, como indígenas e aventureiros que adentram florestas, que relatam presenciar o início de uma combustão instantânea, no qual as chamas se concentram e parecem se locomover arrastando pelo chão. Tal fenômeno obviamente começou a ser associado à aparição do boitatá.

Embora tais características sejam compatíveis com alguns aspectos do boitatá, a ciência pode também justificar tal ocorrência. Trata-se do fenômeno eletrostático chamado fogo-fátuo, do latim ignis fatuus, também conhecido no interior do Brasil como fogo tolo, fogo corredor ou João-galafoice. Geralmente esse evento ocorre em locais com extensa degradação de matéria orgânica, como pântanos e brejos. A decomposição desses compostos produz moléculas como fosfina (PH3), difosfano (P2H4) e metano (CH4). A oxidação desses compostos, seguida de exposição ao oxigênio atmosférico, é capaz de causar rápidas reações de oxidações, dando origem às chamas (quando na atmosfera há uma concentração de metano de 28%, este se inflama espontaneamente, sem necessidade de uma faísca). Além disso, em locais com muita degradação de animais mortos, há o acúmulo de fósforo branco (P4) originado das ossadas. Quando um raio ou faísca eventualmente entra em contato com essa substância, também há o desencadeamento de surgimento de chamas.

Tal fenômeno também é utilizado para justificar a “manifestação” de outras lendas ao redor do mundo, como os Yakãundys (América do Sul), lutinos (frança), luz-louca (Alemanha) fogo de santelmo, Jack da lanterna (Inglaterra), Moine des Marais (França), alminhas/alma dos meninos pagãos (Portugal), farol dos Andes e luz mala (Argentina e Uruguai), víbora-de-fuego (Argentina), Shinen-Gaki (Japão) e bifrons (antigo império romano).

Cabe lembrar que uma coisa não invalida a outra, ou seja, embora as reações de combustão de matéria orgânica degradada existam, por que o boitatá também não poderia existir?

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Fenômeno do fogo-fátuo


Jean de la foice é o boitatá?

Em muitos textos e livros, a lenda de Jean de la foice (Jean Delafosse ou João Galafuz), originada em estados do nordeste (Pernambuco, Sergipe e Alagoas), é associada erroneamente como outra denominação regional do boitatá. Entretanto, as duas superstições são totalmente diferentes e independentes. A lenda de Jean de la foice retrata a estória de um garoto chamado João Galafuz, que por ter morrido pagão se transformou em um duende que assombra os mares nordestinos. Testemunhas relatam que sua aparência é como a de um facho luminoso e multicor, que prenuncia a chegada de tempestades e ocorrência de naufrágios.

Mais uma vez o fenômeno do fogo-fátuo pode fundamentar uma explicação racional para tal acontecimento. Devido a esse ponto em comum, é bastante difundida a errada ideia de que Jean de la foice é uma sinonímia para a lenda do boitatá. 



Possível erro de tradução do tupi-guarani?

Alguns indícios sugerem que, provavelmente, a associação da cobra à lenda possa ter sido algo acidental. Para ser mais preciso, um erro de tradução de morfemas da língua tupi-guarani. Padre José Anchieta, ao citar a lenda pela primeira vez usa o termo “baetatá” após ter acesso a essa informação junto aos povos indígenas. O fonema “bae” no idioma tupi-guarani pode ser originado dos morfemas “mbói” (que significa “cobra”), ou ainda mais parecido, “mbai” (que simbolizava “coisa”). Diante dessas evidências, não podemos descartar a possibilidade dos indígenas estarem se referindo a “coisa de fogo” ao invés de “cobra de fogo”.

Associado a essa possível falha na tradução, na língua portuguesa ainda existe a palavra “boi”, que todos nós sabemos que se refere ao mamífero ungulado de dois dígitos em cada membro (ou de maneira mais informal, o marido da vaca!). Isso pode ter influenciado alguns escritores a descrever da criatura como um bovino, conforme elucidado por Crispim Mira no livro “Terra Catarinense” e Lindolfo Xavier em “O Folklore no Brasil”. 

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Boitatá nas mídias

Em 2007 o escritor Manuel Filho lançou a obra “Quem tem medo do Boitatá?”, na qual o personagem Sandrinho perde a visão ao se deparar com a criatura. Já na obra “O casamento do Boitatá com a Mula-sem-cabeça”, José Santos aborda a união de vários seres do folclore brasileiro. A lenda também é contada na forma de cordel em “A lenda do Batatão”, de Marco Haurélio. Em “Uaná, um curumim entre muitas lendas” de Alexandra Pericão, a lenda é abordada de uma forma mais contemporânea.


Referências

Comunicação UNIUV à https://bit.ly/2Ki6ebR
Geografia dos Mitos Brasileiros à https://bit.ly/2SZ84Cc
Hipercultura à https://bit.ly/2LSTEmp
Lendas do Sul à https://bit.ly/318Mf6i
O Baetatá existe realmente? à https://bit.ly/2Ymfg1k
Sua Pesquisa à https://bit.ly/2LSDh9k
Toda matéria à https://bit.ly/2NCIjTQ
Wikipedia - Boitatá à https://bit.ly/2SP5Ipm
Wikipedia – João Galafuz à https://bit.ly/2T9DHsV

segunda-feira, 29 de julho de 2019

ANATOLY MOSKVIN – O artesão das bonecas de cadáveres!

Gustavo Valente


 Cemitérios profanados no interior da Rússia

No ano de 2010, Nizhny Novgorod, o quinto maior município da Rússia, foi contemplado com as visitas do presidente Dmitry Medvedev e do primeiro ministro Vladimir Putin. Entretanto, grande parte da mídia local estava mais interessada em cobrir outro acontecimento: de forma inexplicável, alguns túmulos nos cemitérios de Nizhny Novgorod apresentavam-se abertos ao amanhecer e, ainda mais bizarro, completamente vazios. Os cadáveres simplesmente estavam desaparecendo! O que fosse responsável por tais ocorrências, seguia um padrão bem definido: seus alvos eram túmulos de garotas que tinham entre 2 e 18 anos.

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Investigação e suspeitas

A comoção popular em torno de tal incidente foi tamanha que as investigações policiais se iniciarem quase que imediatamente. O Ministério do Interior Russo, responsável pela investigação, inicialmente acreditou que seitas satânicas poderiam ter envolvimento com o caso.  Mas todo o caso teve uma reviravolta quando Anatoly Moskvin, um pesquisador e especialistas em cemitérios russos nascido em 1966, voluntariamente procurou a polícia oferecendo auxílio na investigação.

O grande interesse demostrado por Anatoly Moskvin em participar do caso chamou muito a atenção dos investigadores. Nesse mesmo período, túmulos mulçumanos começaram a serem vandalizados (principalmente por pichações) nos cemitérios da cidade. Então na noite do dia 02 de novembro de 2011 (isso mesmo, no dia de finados!) a polícia decidiu ir até a casa de Anatoly, situada no distrito de Leninsky, uma vez que se suspeitava que ele pudesse estar envolvido nessa ocorrência. Os oito policiais designados para tal tarefa mal imaginavam que resolveria ambos os casos (de profanação de túmulos de jovens garotas e vandalismo de túmulos mulçumanos) ao mesmo tempo. As evidências que encontradas nesse local os deixaram totalmente atônitos.

Anatoly Moskvin - especialista em cemitérios da Rússia



Bonecas são encontradas! Mas dentro delas...

Logo na garagem da residência de Anatoly, os investigadores encontraram um objeto que chamou a atenção. Tratava-se de uma boneca muito grande, quase do tamanho de uma pessoa, que usava uma espécie de máscara estranha. Para surpresa de todos, ao analisar aquele objeto de maneira mais minuciosa, os policiais descobriram que na verdade aquilo era um cadáver mumificado adornado como uma boneca! O cenário ficaria ainda mais assustador após vasculhar outros cômodos do apartamento. Em meio a várias pilhas de livros os policiais encontraram mais 26 bonecas. A maioria delas estava disposta em sofás, como se estivesse assistindo televisão, celebrando algum encontro social ou tomando chá. Se isso já não fosse perturbador o bastante, dentro de algumas bonecas havia caixinhas de música que entonavam canções infantis. Quando a polícia foi manipular uma das bonecas adornada como um ursinho de pelúcia, a caixinha de música em seu interior disparou. A canção entoada se tratava de “Urso adora mel”, uma tradicional cantiga russa. A própria polícia publicou um vídeo que mostrava as bonecas sentadas em sofás em volta de pilhas de livros, papéis e desordem geral. Durante a busca, também foram encontradas instruções de como fazer as "bonecas", mapas de cemitérios da região e uma coleção de fotografias e vídeos mostrando sepulturas abertas e corpos desenterrados. De acordo com a investigação, os corpos foram removidos de cemitérios da região de Nizhny Novgorod, bem como cemitérios da região ao redor de Moscou. Ao longo de todo processo, Anatoly cooperou ativamente com os investigadores.

Caso tenham curiosidade de saber com exatidão como eram essas bonecas, confiram o vídeo abaixo gravado pela polícia de Nizhny Novgorod:



Logo que o caso se tornou público, a mídia russa o chamou de “O Senhor das Múmias” e “O Perfumista”, em alusão ao romance de Patrick Suskind (Perfume). Um site chamado Criminal Chronicle foi o primeiro a noticiar o fato, no dia 03 de novembro de 2011. Com a notícia de conhecimento público, uma mulher chamada Natalia Chardymova contatou a polícia, alegando que uma das bonecas registradas em imagens se tratava de sua filha Olga, que havia morrido no ano anterior aos 10 anos de idade. 

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Boneca feita com o cadáver da garotinha Olga


A surpresa foi tamanha que até mesmo os pais de Anatoly, que dividiam a mesma moradia, não sabiam da coleção macabra de seu filho. Para eles, aquelas grandes bonecas eram exemplares de uma coleção vintage, então jamais desconfiaram que elas escondiam um segredo tão obscuro. Uma vizinha chamada Galina Riabova afirmou que sempre sentiu um cheiro de podre vindo do apartamento e que sempre via Anatoly carregando pesadas mochilas e sacos plásticos pretos, mas era muito improvável associar tais acontecimentos à presença de bonecas feitas de cadáveres.


Pais de Anatoly Moskvin



Dos cadáveres às bonecas – a arte sinistra de Anatoly

Mas como Anatoly Moskvin conseguia transformar os cadáveres em bonecas? Primeiro temos que entender como ele furtava os corpos. Indícios sugeriram que ele praticava tal ato há quase 20 anos, então como ele não foi descoberto antes? Segundo um policial, a maioria dos túmulos alvos de Anatoly eram profanados de forma tão suave e sutil, que mais pareciam estar sendo restaurados. Por isso a maioria das sepulturas permanecia praticamente intacta após sua atividade, dificultando que suspeitas fossem levantadas contra ele. A descoberta de seu hobbie só foi possível quando justamente ele não demonstrou essa discrição. Como já abordado no início do texto, a polícia só conseguiu chegar até as bonecas por causa das suspeitas de Anatoly estar envolvimento nos atos de vandalismos contra cerca de 150 túmulos muçulmanos. Retaliação contra um atentado terrorista mulçumano ocorrido na capital Moscou em 2011 foi o que teria motivado essa reação.

Após roubar os corpos do cemitério, Anatoly os limpava e os embalsamava, evitando que o processo de putrefação desenvolvesse. Para tal finalidade, ele utilizava sal e bicarbonato de sódio para desidratar os corpos. Anatoly também os envolvia em tiras de pano (como as múmias do Egito) para evitar que os corpos mudassem de forma e tamanho devido o processo de desidratação. Algumas bonecas ainda precisavam ser preenchidas com serragem ou trapos para manter a forma, processo semelhante ao feito na taxidermia. Depois de secos, ele as vestia e as adornava. Os rostos dos cadáveres eram cobertos por perucas e máscaras feitas de cerâmica com detalhes pintados de esmalte. As mãos também eram escondidas, envolvendo-as em tecidos. Anatoly confessou ter feito isso em mais de 150 cadáveres. Quando um processo de mumificação não era bem sucedido, ele retornava com o copo para o cemitério e acondicionava-o novamente em sua sepultura.

Em certa ocasião, Anatoly escreveu um artigo para um jornal local que tratava sobre o tradicional processo de produção de bonecas de pano, ocorrido na região do alto Rio Volga em meados dos séculos XIX e XX. Segundo ele, “Entre as bonecas de pano produziam-se, principalmente as do sexo feminino. Nas aldeias, a imagem preferida das bonecas de pano era a feminina (…). O material básico para fabricação das bonecas era o pano, mas há casos onde foram utilizados paus, galhos, palha, argila, papel e areia (…). O cabelo, muitas vezes, era feito de cabelo humano...”. Obviamente que o texto não deixa transparecer nada demais em sua redação, mas agora que o caso está esclarecido fica claro que ele estava se referindo ao seu estranho hobby.


Na Foto: Imagem do artigo escrito por Anatoly Moskvin e disponível na biblioteca estadual de Nizhny Novgorod. Fonte: KP News.
Artigo escrito por Anatoly Moskvin


Compreendendo as atitudes de uma mente tão mórbida

Um dos pontos sobre Anatoly Moskvin que mais chama a atenção é o fato dele ter um intelecto acima da média. Além de falar 13 idiomas, era doutor em cultura céltica, professor de história, filósofo e escritor, tendo escrito um guia sobre cemitérios russos após visitar aproximadamente 752 cemitérios no país em 2007. Tal pedido foi feito por Oleg Riabov, um colega acadêmico e editor de um jornal local (Nizhny Novgorod Worker). Durante essa jornada, ele percorria a pé cerca de 30 km diariamente. Além disso, chegou a passar noites em palheiros, em fazendas abandonadas, ou nos próprios cemitérios. Certa vez ele teve que até mesmo passar uma noite dentro de um caixão. Por causa disso, Anatoly era considerado a maior autoridade em cemitérios do país, ou seja, um “necropolista”.

Anatoly Moskvin em um cemitério na Rússia


Além de colecionar “bonecas” ele tinha um acervo de aproximadamente 60 mil livros e documentos acumulados em sua casa. No vídeo gravado pela polícia durante a investigação em sua residência, é possível ver várias pilhas de livros e papeis acumulados nos cômodos. Entre os anos de 2006 e 2010, também trabalhou como freelancer para um jornal local (Nizhny Novgorod Worker), publicando matérias regularmente para a coluna semanal “Necrologies”, que abordava temas como obituários, histórias sobre cemitérios e pessoas famosas mortas. Conforme já abordado, Moskvin também escreveu uma extensa série de artigos sobre a história dos cemitérios de Nizhny Novgorod, após visitar centenas de cemitérios. Mesmo depois de sentenciado, ele continuou a publicar matérias, como as intituladas “Great Walks Around Cemeteries” e “What the Dead Said”.

Na Foto: Anatoly Moskvin, data da foto desconhecida.
Foto de Anatoly Moskvin mais jovem
Socialmente, ele era descrito como um cidadão pacato e solitário. Nunca se casou e vivia com seus pais. Em 2016 foi relevado que uma das pessoas presentes no júri de seu julgamento era supostamente uma noiva de Anatoly quando ele tinha 25 anos, mas o casamento nunca se concretizou. Ele também era considerado estranho devido sua ambição pelo oculto. Temos que ressaltar que existe uma enorme diferença entre admirar o incompreendido sobrenatural e fabricar bonecas a partir de defuntos. Este mesmo que lhes escreve, apenas mantém o blog “Cabana do Terror” por se interessar por temas obscuros e macabros. Mas existe um abismo mais do que infinito entre esse gosto e a vontade de profanar cadáveres. Com isso, uma pergunta fica no ar: por que Anatoly fez algo tão extremo como produzir bonecas com corpos humanos?


A resposta pode estar presente em um trauma ocorrido na infância, narrado pelo próprio em uma matéria publicada no Necrologies seis dias antes de ser preso. Quando tinha 13 anos de idade, Anatoly se deparou com um cortejo fúnebre de uma garota, que seguia para um cemitério. Tratava-se do sepultamento de uma amiga próxima, Natasha Petrova, de apenas 11 anos. Um homem presente nessa ocasião teria puxado Anatoly, obrigando-o a beijar a testa da menina. Sentir os lábios encostar-se à pele gelada de uma criança morta pode ter sido o gatilho para que essa estranha obsessão iniciasse. Segundo palavras do próprio Anatoly, “um adulto empurrou meu rosto até a testa da garota (...), e não havia nada que eu pudesse fazer além de beijá-la como ordenado”. Se não fosse o bastante, depois disso a mãe de Natasha colocou uma aliança no dedo de Anatoly e também no dedo da filha, como se realizasse uma união matrimonial. Desde então, ele começou a frequentar regularmente o Cemitério Krasnaya Etna localizado no distrito Leninsky de Nizhny Novgorod.

Outro acontecimento na vida de Anatoly que pode ter incentivado seu comportamento, foi o fato do conselho tutelar russo negar um pedido de adoção de uma garotinha em virtude de sua baixa renda. Em depoimento para a polícia, ele afirmou que “realmente queria uma menina, uma filha. Mas o juizado não deixou. Portanto, eu e todas essas bonecas éramos crianças. Eu vivia com elas como vivia com os vivos, mostrava-lhes desenhos animados, contava histórias de ninar(…)”.



Julgamento, declarações e sentença

Anatoly Moskvin dentro da jaula durante julgamento
Sob a acusação de violação e profanação de túmulos e cadáveres (itens 1 e 2 do artigo 244 do Código Penal russo), Anatoly foi julgado em 2012. Ele permaneceu dentro de uma espécie de jaula gradeada em todo momento ao longo do julgamento. Sua insanidade mental foi detectada logo no princípio do processo. Na maioria das vezes em que se pronunciava, Anatoly dizia frases desconexas em um ritmo bastante acelerado e ininterrupto. Em certa ocasião, ele disse que havia feito isso “para que a ciência pudesse reanimá-las posteriormente (…). A genética desenvolve-se num ritmo muito rápido. Foi somente por isso. Eu fiquei muito triste por todas elas. Eu só queria ter algum material para o futuro da clonagem. Para que todas que essas crianças pudessem viver uma segunda vez”. Embora o psiquiatra Yan Goland, chefe do Centro de Reabilitação Psicológica Korefei levante suspeita de necrofilismo e fetichismo, Anatoly insistiu que nunca havia feito nada de conotação sexual com suas bonecas. De acordo com o próprio, a relação existente entre ele e as bonecas tinha um lado totalmente fraternal. Conversar, cantar músicas, assistir a desenhos animados e celebrar festas eram as únicas atividades que ele declarou ter realizado junto às bonecas. Cabe ressaltar que ele também admitiu que comunicava com as bonecas utilizando uma linguagem própria e que existia uma hierarquia entre elas.

Anatoly Moskvin tinha inteira noção de que estava cometendo um crime, mas o mesmo alegou sentir que as crianças mortas estavam chamando por ele e implorando para serem resgatadas. Para ele, atender esse pedido de resgaste estava acima do cumprimento de qualquer lei. Como grande conhecedor da cultura celta, ele declarou posteriormente que conhecia alguns cultos antigos de druidas que dormiam em sepulturas para se comunicar com os espíritos de seus mortos. Ele também estudou a cultura dos povos da Sibéria (antigo Yakuts) e descobriu que eles praticavam um ritual semelhante. Tendo em mãos tais conhecimentos, ele começou a pesquisar obituários de crianças mortas recentemente. Assim, ele rastreava onde a criança estava enterrada e dormia em seu túmulo, a fim de determinar se o espírito queria ser trazido de volta à vida. Anatoly afirmou que nunca desenterrou um túmulo sem a permissão da criança. Com o passar dos anos e com o peso da idade, era cada vez mais difícil passar a noite nas sepulturas. Então ele começou a levar os corpos para casa, onde seria mais confortável dormir perto deles. Ele esperava que os espíritos estivessem mais dispostos a falar em um lugar seguro e acolhedor, como sua casa.

Muitos acreditaram que provavelmente Anatoly poderia estar atuando, simulando-se de louco para escapar de uma pena pesada. Segundo o psiquiatra forense, Leandro Gavinier, não se poderia descartar a possibilidade de Anatoly estar manipulando suas declarações. Fingindo ou não, o promotor Konstatin Zhilyakov solicitou sua internação compulsória em um hospital psiquiátrico, mediante o diagnóstico de esquizofrenia paranoica. A proposta foi aceita sem objeções pelo juiz. Após a sentença, muitos historiadores que colaboravam em projetos juntos a Anatoly cancelaram a parceria. Um desses pesquisadores era sua colega Yulia Zadozozhna, que pesquisava sobre veteranos de guerra enterrados na região de Balakhna, entre os séculos XVII e XIX. Em um dos últimos contatos entre ambos, Anatoly ainda criticou a colega por sua pesquisa se basear em registros de igrejas ao invés de estudar os cadáveres in loco.  



Anatoly Moskvin sendo levado para o julgamento

Anatoly ainda teve quatro pedidos de liberdade negados além de sucessivas prorrogações de tratamento. Até julho de 2019 (data que escrevo esse artigo), Anatoly continuou internado de forma compulsória. Para Vladimir Stravinskas, chefe do Comitê de Investigação da Federação Russa da região de Nizhny Novgorod, o caso das bonecas de Anatoly pode ser considerado excepcional e inigualável do ponto de vista da análise forense moderna.



Referências

All That’s Interesting à https://bit.ly/2xm1Z8V
Horror em Dobro à https://bit.ly/2NWPEDp
Não Acredito à https://bit.ly/2O9vypG
O Aprendiz Verde à https://bit.ly/2JSRf9l
Vale do Medo à https://bit.ly/2S1r7vr
Wikipedia à https://bit.ly/2JTZEYK