terça-feira, 1 de setembro de 2020

O GAROTO NA CAIXA – O mistério insolucionável!

 

                               Gustavo Valente

 

Uma terrível descoberta

 

Créditos: William H. Kelly
Em 1957, um jovem de 18 anos chamado John Powroznik era residente do município da Filadélfia, situado no estado norte americano na Pensilvânia. Ele tinha o hábito de ir até a mata às margens da estrada Susquehanna, no bairro de Fox Chase, onde ele armava várias armadilhas para capturar ratos almiscarados. Nessa época, essa região era pouco povoada, conforme pode ser observado na imagem ao lado. Parecia até mesmo uma área rural da Filadélfia, bem diferente do cenário urbano encontrado lá atualmente. No dia 23 de fevereiro, ele encontrou uma caixa de papelão na mata que chamou sua atenção. Ao abri-la, ele se assustou com seu conteúdo e correu daquele local, deixando todas as armadilhas para trás. Ele nunca mais teve coragem de retornar àquela mata.



Dois dias depois, Frederik J. Benois (um universitário local de 26 anos) também foi até essa mata. Algumas fontes afirmam que ele ia até aquela mata para bisbilhotar garotas que moravam no Good Shepherd School (um colégio interno religioso voltado para meninas problemáticas), situado na margem oposta da estrada Susquehanna. Enquanto caminhava para o seu esconderijo, ele encontrou a fatídica caixa na mata. Ele reparou que aquela era uma caixa de papelão usada para embalar berços. Nela estava escrito “Móvel frágil. Não abrir com faca”. Frederik sentiu-se instigado e logo abriu a caixa. Dentro dela ele encontrou algo que, incialmente, acreditou ser um boneco enrolado em um cobertor de flanela xadrez. Quando ele tentou tirá-lo da caixa, teve uma mórbida surpresa: aquilo na verdade era um cadáver de um garoto.

 


Inicialmente Frederik não relatou isso a ninguém. Ele sabia que o que estava fazendo naquela mata era algo errado. Então ele teve medo de isso causar constrangimento a ele, ou pior, o envolver naquele assassinato. Mas guardar aquilo somente para si seria um fardo muito grande a carregar. Então depois dele ver no noticiário que uma criança estava desparecida na região, ele decidiu confessar tudo isso a dois padre da sua faculdade (LaSalle College), que os incentivaram a contar às autoridades.

 

Para a polícia, Frederik disse que estava passando pela estrada Susquehanna por volta das 15h, quando viu um coelho adentrar a mata. Então ele foi atrás do pequeno mamífero e essa perseguição o levou a encontrar a caixa. Ele foi exaustivamente interrogado pelos investigadores e submetido a um detector de mentiras para que fosse totalmente afastado de qualquer suspeita de envolvimento nesse homicídio.

 

 

Investigação policial

 

24 horas após Frederik descobrir a caixa com um cadáver de garoto dentro, a polícia foi até a mata fazer suas averiguações. Chegando ao local, eles encontraram a caixa de papelão com o corpo de um garoto caucasiano e loiro envolto de um cobertor em seu interior, conforme descrito por Frederik. Ao retirar a vítima de lá eles notaram que o corpo estava seco e limpo, e os braços da vítima haviam sido cuidadosamente cruzados sobre o estômago. Eles também verificaram que existia uma trilha que terminava na caixa. Provavelmente ela tinha sido arrastada até ali de algum ponto até aquele local. Seguindo essa trilha, os policias encontraram um chapéu azul (a 5 metros de onde a caixa havia sido deixada), um cachecol, um lenço branco com a letra “G”, uma camisa infantil de flanela amarela, um par de sapatos infantis pretos. Um pouco mais longe, a 400 metros daquele local, também foram encontrados algumas evidências, como um pedaço de manta rasgada e manchada, além de um gato morto envolto em um suéter cinza. Digitais e pegadas também foram encontradas e colhidas no local.

 

No dia seguinte, as investigações para tentar identificar a criança ou seus pais iniciaram. Inicialmente, nenhum registro daquela criança foi encontrado. William H. Kelly, supervisor da Unidade de Identificação do Departamento de Polícia da Filadélfia, chegou examinar cerca de 11.200 registros de berçários da região para tentar identificar aquela vítima. Mas era como se ele nunca tivesse existido.

 


Na autopsia realizada pelo legista Joseph W. Spelman algumas informações importantes foram obtidas. Estimou-se que a idade da criança era de 4 a 6 anos. Ele tinha 1,03 metros de altura e olhos azuis. Também demonstrava uma desnutrição severa (o cadáver tinha apenas 13,6 kg, um peso equivalente a uma criança de dois anos e dois meses). Foi observado que o garoto havia sido circuncisado e ele tinha três pintas do lado esquerdo do rosto, uma abaixo da orelha esquerda, três do lado direito do peito e uma pinta grande no braço direito, bem acima do pulso. Suspeitou-se também que o cabelo da criança era bastante grande e havia sido cortado após ele ser morto. Seu cabelo estava cortado de forma grosseira e amadora. Além disso, havia mechas loiras longas grudadas em sua pele. Posteriormente as análises laboratoriais determinaram que aquelas mechas eram do seu próprio cabelo, confirmando a hipótese. As unhas dos pés e das mãos também haviam sido cortadas recentemente. No esôfago havia uma substância amarronzada, assim como no estômago, que posteriormente seria identificada como feijão. Foi estimado que ele havia se alimentado cerca de duas a três horas antes de perder a vida e, provavelmente, vomitou pouco antes da sua morte.

 

Exames toxicológicos e microscópicos de sangue e outros fluidos corporais, conteúdo gástrico, coração, fígado e pulmão foram feitos. Mas nenhum resultado que determinasse um envenenamento foi obtido.

 

Quando se incidiu luz ultravioleta nos olhos foi possível perceber a presença de resíduos de um corante usado para tratamento de afecções oculares. Um total de sete cicatrizes foi identificado no seu corpo. Três delas apreciam ter sido feitas cirurgicamente (no peito, virilha e tornozelo esquerdo). Também havia outras cicatrizes no lado esquerdo do peito, uma redonda irregular no cotovelo esquerdo e uma cicatriz no queixo em formato de “L”. Por outro lado, não havia cicatriz de vacinação e as amígdalas não haviam sido removidas. O menino tinha um conjunto completo de dentes de leite e também estava com os dentes um pouco mais largos que o habitual para a idade.

 

A presença de um pouco água no pulmão era sugestiva de que ele tinha sido submerso pouco antes ou pouco depois do assassinato. Corroborando com isso, as palmas das mãos e solas dos pés estavam enrugadas, indicando que haviam ficado submersos por algum tempo ainda em vida.

 

Ao final do exame necroscópico, a causa mortis foi determinada como traumatismo craniano, devido a grande quantidade de contusões do lado esquerdo do rosto. A hora exata da morte não foi possível ser determinada, uma vez que o corpo estava conservado pela exposição a um frio rigoroso que estava na Filadélfia nesse período.




 

Em busca de respostas

 

A investigação não teve nenhum êxito em procurar informações dessa criança em listas de pessoas desaparecidas nos Estados Unidos nos últimos anos e em registros médicos de hospitais da região. Pela falta de respostas concretas e pelo ótimo estado de conservação do corpo, a polícia decidiu apostar em uma estratégia incomum para tentar localizar algum conhecido. Eles a vestiram com diferentes roupas e a fotografaram para divulgar as imagens pelas mídias. O pôster original feito pela polícia local pode ser verificado na imagem a seguir. Entretanto, ninguém contatou a polícia para reclamar a identidade do garoto.




 

Créditos: Tom Augustine
Outra pista em que os investigadores se debruçaram foi em relação à caixa de papelão onde o corpo havia sido deixado. Era uma caixa de berços que media 38cm x 50cm x 89cm, comercializado por uma loja chamada ‘JC Penney’, pelo preço de U$ 7,50. Conforme já abordado, era estampada uma mensagem de “Frágil” nessa embalagem. A polícia descobriu que, entre três de dezembro de 1956 e 16 de fevereiro de 1957, 12 berços daquele lote (datado de 27 de novembro) tinham sido vendidos no município Upper Darby, situado na região metropolitana da Filadélfia. Localizar os compradores foi muito difícil, pois todos os 12 pagaram em dinheiro. A JC Penney tinha a política de só aceitar essa forma de pagamento. Portanto não havia registros de cartões ou cheques. Mesmo assim, depois da polícia divulgar essas informações na mídia, 11 dos compradores se apresentaram, mas nenhum deles havia nenhuma conexão com a vítima. A caixa estava seca por dentro, mas seu exterior estava úmido e um pouco desgastado. Dentro dela ainda havia traços de tinta branca, o que levou a suspeita de que talvez o berço poderia ter sido pintado dessa cor. A caixa chegou a ser enviada para análises em laboratórios do FBI, mas não foram identificadas nenhuma impressão digital.

 

Créditos: Temple University Library
Então a polícia focou em outra evidência encontrada no local do crime: o chapéu de veludo azul royal. Era uma peça de do tamanho 7 1/8 com tira de couros e alça na parte de trás. Pela etiqueta foi possível determinar que ele tinha sido produzido em uma fábrica da própria Filadélfia, chamada ‘Robbins Bald Eagle Hat and Cap Company’. Os investigadores conversaram diretamente com a proprietária da indústria, chamada Hannah Robbins. Ela informou que apenas 12 modelos como aquele tinham sido confeccionados. Ela também informou que aquele chapéu era vendido junto com um cordão de couro afivelado, sendo aquele kit uma tiragem exclusiva e limitada. Recordou também que um dos compradores havia retornado à loja para solicitar que uma alça fosse costurada nele. Era um homem loiro, que aparentava ter mais de 20 anos e tinham alguns traços de semelhança com a vítima. Mas novamente não existia nenhum tipo de registro do nome ou endereço desse indivíduo.

 

O cobertor de flanela no qual o corpo foi enrolado também foi analisado. Pela sua dimensão (193 cm x 84 cm), foi constatado que ele havia cortado. Pelo seu estado de limpeza, sugeriu-se que ele havia sido lavado recentemente. Também foi detectado um remendo feito com linha de algodão de baixa qualidade, provavelmente feito em máquina de costura doméstica.  Mas por ser um cobertor produzido nacionalmente e em larga escala pelas indústrias ‘Beacon Mills’ e ‘Esmond Mills’, era praticamente impossível rastrear todos os compradores.

 


O lenço encontrado no local (aquele que tinha estampado a letra “G”) tinha alguns fios de cabelo grudados nele. Em laboratório, foi feito um teste químico buscando comprar aqueles cabelos com os do garoto, mas o resultado foi negativo. A camisa de flanela amarela e cachecol encontrados na cena do crime tinham tamanho compatíveis ao da vítima, entretanto não foi possível determinar se aqueles itens pertenciam a ele ou não. Da mesma forma, o par de sapatos encontrado tinha dimensões incompatíveis aos pés do menino (no sistema de numeração de calçados americano, aquele item era do tamanho 1, enquanto os pés do garoto era do tamanho 8-D). O manto encontrado a 400 metros da caixa tinha o mesmo estilo e qualidade do cobertor usado para enrolar o corpo da vítima. Logo, suspeitou-se que ambos tivesse se originado do mesmo pedaço de tecido. No entanto, a análise laboratorial descartou essa hipótese.

 

As impressões digitais e pegadas encontradas no local do crime não levaram os investigadores a lugar nenhum. Nunca foram encontradas impressões correspondentes.

 

Estima-se que cerca de 300 oficiais se envolveram com o caso e milhões de cartazes com o rosto do garoto foram distribuídos. Apenas o jornal “Philadelphia Inquirer” imprimiu 400 mil panfletos com a fotografia e os enviaram junto com as contas de gás de toda Filadélfia.

 


 

Suspeitas e teorias

 

Com a falta de respostas concretas nas investigações, muitas teorias e boatos começaram a surgir. A maioria delas era infundada e descartas. A primeira hipótese que surgiu abordava a possibilidade do garoto ser de um orfanato próximo do local onde corpo foi achado. Essa teoria surgiu quando Remington Bristow, auxiliar de um legista relacionado à investigação do caso, estava inconformado com a não solução do caso. Boa parte da sua vida foi dedicada a tentar resolver esse mistério. Ele chegou a ir até uma médium em Nova Jersey, chamada Florence Sternfeld, para tentar obter informações. Durante as seções, ela teria dito que a solução para o mistério estaria em uma casa grande com grades e paredes de madeira. Ela também afirmou que nessa propriedade havia várias crianças brincando. Baseado nessa “pista”, um lar adotivo gerenciado por uma família, localizado a 2,4 km de onde o menino na caixa foi encontrado, foi colocado sob suspeita. A família proprietária do local era composta pelo casal Arthur e Catherine Nicoletti, e por Anna Marie Nagle (filha de 20 anos de um casamento anterior de Catherine). Bristow acreditava que o garoto era filho de Anne e que Arthur teria cometido o crime para que a moça não fosse vista pela sociedade como uma “mãe solteira”. Corroborando com a suspeita, em 1961 a família encerrou as atividades no local e colocou a propriedade a leilão. Bristow participou do leilão apenas para poder adentrar a propriedade. Ele percebeu que os berços usados pelo orfanato eram os da ‘JC Penney’ e que havia cobertores em xadrez pendurados no varal. No local ainda havia um lago, que de acordo com Bristow, foi o local usado para afogar o garoto. Até em sua morte, em 1993, ele tentou convencer a polícia que aquela família tinha envolvimento com o caso. Mesmo com todas essas coincidências, a polícia não conseguiu encontrar evidências definitivas que comprovassem o crime e nem mesmo associar o garoto na caixa a algum dos órfãos abrigados naquele recinto. Em 1984, dois detetives conseguiram entrevistar Arthur, mas nada incriminador foi obtido. Entretanto, Arthur se contrapôs a ideia de se submeter a um detector de mentiras. Alguns anos depois, Catherine faleceu e Arthur se casou com a enteada. Em 1998, o proprietário do orfanato e sua enteada foram entrevistados pelos membros da Vidocq Society (um grupo privado de policiais e ex-policiais especialistas em resolução de crimes, sediado na Filadélfia) e pelo tenente da polícia da Filadélfia, Tom Augustine. Pela falta de evidências, a investigação sobre o envolvimento do lar adotivo no crime foi encerrada.

 

Em março de 1957 uma testemunha relatou, após identificar o corpo, ter visto aquele garoto no colo de um homem durante uma viagem de ônibus que fez da Filadélfia até Nova Jersey. Ela chegou até desenhar um esboço do homem, mas os investigadores não tiveram progresso seguindo essa evidência. Nesse mesmo período, a gerente de um restaurante de Nova Jersey acreditava ter visto o garoto e um homem de 40 anos em duas ocasiões no restaurante. Ela teria escutado que o garoto pedia insistentemente para conversar com a “mamãe”, então o homem teria feito uma ligação interurbana daquele local. Entretanto, durante a investigação não foram constatadas a realização de ligações interurbanas nos registros daquele período. Então essa pista também foi descartada.

 

Posteriormente uma “teoria da conspiração” surgiu quando um membro de um fórum online chamado AMW afirmou que conhecia Dianne, uma suposta mulher que frequentava a mesma escola dos órfãos do lar de adoção. De acordo com ele, Dianne havia lhe afirmado que a família tinha vários parentes na força policial da Filadélfia, e por causa disso, várias provas e evidências foram ocultadas. As autoridades entraram em contato com o responsável pela postagem do fórum AMW buscando identificar “Dianne”. Entretanto, desculpas sempre eram dadas para impedir que “Dianne” conversasse diretamente com eles. Após várias tentativas frustradas, essa ideia foi abandonada e presumiu-se que “Dianne” jamais existiu: tudo aquilo não passou de uma estória inventada em um fórum.

 

Em 1960, uma mulher de 30 anos chamada Margaret Martinez foi presa após admitir ter colocado o corpo de sua filha de três anos em uma lata de lixo em Thornton, Colorado. Logo, esse caso foi associado ao caso do garoto na caixa. Após Margaret ser interrogada por Joseph Komarnicki (ex-chefe da divisão de desaparecidos do Departamento de Detetive da Filadélfia), qualquer tipo de conexão entre os crimes foi descartada. Da mesma forma, tentaram associar o caso do menino da caixa com outros crimes (como uma menina morta encontrada em um parque de Nova Iorque e o desaparecimento de uma mãe e seu filho em Rhode Island), mas nunca foram encontrados nenhum tipo de elo entre as ocorrências.

 

Em 1961, outra suspeita foi levantada. O casal Kenneth E. e Irene Adelle Dudley foram presos em Lawrenceville depois que ambos deixaram a filha de sete anos morrer de desnutrição. A investigação descobriu que o casal tinha deixado seis dos seus 10 filhos morrerem de desnutrição. Os corpos eram descartados em vários estados do sul. Naturalmente, imaginou-se que o garoto na caixa poderia ser uma dessas vítimas. Mas após uma investigação completa, essa conexão foi refutada.

 

Em 1965 surgiu uma teoria que abordava a possibilidade do garoto na caixa ser um imigrante húngaro. Bill Kelly (investigador da Vidocq Society) se apoiava nisso para explicar porque não existiam registros de seu nascimento nos hospitais da região, bem como registros da impressão dos pés. Kelly verificou que, em jornais de 1956, havia reportagens sobre uma onda de imigrantes húngaros que chegaram à região. Algumas características do garoto (caucasiano e de cabelos loiros) também eram bem condizentes às características físicas dos húngaros. Com o auxílio do Serviço de Imigração e Naturalização, Kelly verificou cerca de 11.200 fotos de passaportes de imigrantes húngaros. Ele encontrou uma foto bastante parecida com a vítima e foi atrás dessa família. Ela foi localizada no estado da Carolina do Norte. Entretanto, a criança suspeita ainda estava viva e essa teoria foi deixada de lado.

 

Um soldado da Filadélfia chamado Edward J. Posivak também foi colocado como suspeito durante uma investigação sobre o desaparecimento de sua namorada. Quando os investigadores foram averiguar seu carro, encontraram vários recortes de matérias jornalistas sobre o garoto na caixa. Posivak negou qualquer envolvimento com esse crime e disse que tinha aqueles recortes pois eram notícias de interesse geral. Entretanto, a suspeita só foi deixada de lado após um extensivo interrogatório mediante detector de mentira.

 

Um barbeiro chamado Max Schellinger contatou a policia, pois acreditava ter cortado o cabelo de um garoto parecido com aquele, uma semana antes da vítima ser encontrada. Mas após seguir todas as pistas e informações relatadas Schellinger, as respostas obtidas foram infrutíferas.

 

Seis pessoas distintas chegaram a identificar aquele garoto como “Terry Lee Speece”, que morava com seu pai Charles Lee Speece, carpinteiro itinerante. A polícia tentou chegar até Charles, mas o fato dele ser um trabalhador itinerante impossibilitou que ele fosse encontrado imediatamente. A mãe e avós maternos de Terry negaram essa teoria quando foram verificar o corpo da vítima. Semanas depois, Terry foi encontrado junto com seu pai na Filadélfia. Ambos nem estavam sabendo de todo esse reboliço envolvendo eles.

 

Uma ligação anônima foi feita para o departamento de polícia da Filadélfia em 1999. O interlocutor afirmou que conhecia uma mulher que na época do crime morava a poucos quilômetros da área onde o garoto foi encontrado. Ele afirmou que essa mulher tinha um filho da mesma idade da vítima e que essa criança tinha misteriosamente desaparecido. Entretanto a investigação policial rapidamente comprovou que a criança havia “sumido” na época porque a família se mudou daquele local.

 

Outro informante anônimo chegou a vender para a polícia uma suposta foto ante mortem daquele garoto enrolado em um cobertor de flanela xadrez. Apesar da incrível semelhança, mas mais uma vez a possibilidade de resolver o caso foi frustrada quando os investigadores conseguiram localizar o garoto da foto.

 

Em dezembro de 1999 um informante anônimo contatou o site America's Unknown Child e a Vidocq Society para relatar que, na época do crime, sua família alugou uma casa na Filadélfia para uma família muito reservada. Os inquilinos teriam ficado na casa por nove meses e se mudado repentinamente logo após a descoberta do corpo do garoto. Eles saíram de lá tão as pressas que deixaram vários itens pessoais no local (incluindo peças de vestuário infantil) e até mesmo restos de comida na mesa de jantar. A investigação determinou que essa família realmente tinha uma criança, mas essa tinha apenas dois anos na época, sendo essa idade incompatível à idade do garoto na caixa. Além disso, ambos os garotos tinham aparência bem distintas.

 

Em setembro de 2000, uma mulher residente de Michigan notificou a polícia, pois acreditava que era vizinha do garoto em 1950, quando morou em Detroit. Por volta de 1957, esse garoto teria tentado cortar o próprio cabelo e isso enfureceu seu padrasto. Pouco depois, eles teriam viajado para visitar seus parentes em Kentucky. Quando eles retornaram, o garoto não estava junto. O padrasto teria alegado que o garoto tinha sido adotado por um médico de Tennessee. Após uma exaustiva investigação, foram localizadas as prováveis duas meias-irmãs do garoto que ratificaram essa estória. Mas após comparar a foto desse garoto com a vítima, foi comprovado que eles eram pessoas distintas.

 

Em 2002, uma mulher de Cincinnati, Ohio, identificada como “M” (que de acordo algumas fontes, era uma forma de ocultar o nome Martha) se apresentou à polícia e alegou que sua mãe abusiva teria comprado o garoto de seus pais biológicos em 1954. Ele era chamado de “Jonathan” e sofreu abusos físicos, mentais e sexuais por dois anos e meio. Em certa noite, Jonathan teria vomitado uma sopa de feijão que havia jantado no momento em que tomava banho em uma banheira. A mãe teria ficado transtornada e o puniu com uma agressão muito severa. Depois de ele ficar inconsciente por bater a cabeça ao chão, Jonathan não teria resistido e morrido. Essas informações vão de encontro com alguns achados da polícia, como a presença de feijão no estômago e os dedos estarem enrugados por água. A mãe de “M” teria ainda cortado o cabelo de Jonathan para tentar esconder sua identidade. “M” ainda teria ajudado a mãe a desovar o corpo em Fox Chase. Diante dessa evidência, o detetive Tom Augustine juntamente com investigadores da Vidocq Society interrogaram “M” por três horas. Ela confirmou toda essas informações e ainda disse que por ser muito abusado, Jonathan não sabia falar e era mantido dentro do porão da casa, para que nenhum vizinho soubesse de sua existência (isso explicaria porque várias testemunhas que frequentaram a casa de “M” durante sua infância jamais viram um garoto lá). “M” também afirmou que quando foram desovar o corpo em Fox Chase, um homem parou o carro ao lado do seu para oferecer ajuda para retirar aquele “embrulho” do porta-mala. Essa informação corresponde ao relato de uma testemunha em 1957. A ideia inicial de sua mãe era apenas despejá-lo lá embrulhado no cobertor, mas elas encontraram a caixa de berço descartada no local e acharam mais prudente oculta-lo dentro dela. Apesar de ser um relato que não deixava pontas soltas, essa teoria teve sua credibilidade comprometida uma vez que “M” tinha histórico de doença mental. Mesmo assim, foi realizada uma exaustiva investigação baseada nessas novas pistas. Mas após seis meses sem outras informações contundentes, essa teoria também foi deixada de lado.

 

Foi cogitado que ele poderia ser Stephen Craig Dammon, filho de um aviador de Nova Iorque, sequestrado em 1955 aos dois anos de idade em Long Island. Tanto a idade de ambos como algumas características físicas (como cabelos loiros e altura) eram semelhantes, mas tudo isso não passou de mais uma teoria. O exame de raio-X não revelou a cicatriz de uma fratura óssea que Stephen tinha no braço esquerdo e a impressão da pegada de ambos eram incompatíveis. Além disso, algumas sardas que Stephen tinha (principalmente na panturrilha esquerda) estavam ausentes no corpo da vítima. Outra diferença entre ambos foi determinada pelo exame necroscópico. O garoto da caixa tinha apresentado os rins normais, enquanto Stephen tinha um problema de desenvolvimento dos rins de acordo com seus pais. Em 2003 ainda foi feita uma análise de DNA que determinou de forma conclusiva que o garoto na caixa não era Stephen.

 

Também se suspeitou que ele fosse irmão do marinheiro George Broomall. O próprio George acreditou nisso após ver o corpo no necrotério. Entretanto, seu irmão foi encontrado logo depois vivendo na Califórnia. Em 2004, uma família da Flórida contatou o detetive Tom Augustine alegando serem familiares do garoto da caixa. Entretanto, a análise de DNA não foi compatível. A família insistiu que aquele garoto era um familiar desparecido e repetiram a análise por conta própria. Novamente o resultado foi negativo. Ainda em 2004 uma família de agricultores que moravam na Virginia também foram colocados sob suspeita, após informações determinarem que eles moravam próximos à Fox Chase na época do crime e terem se mudado repentinamente após a vítima ser encontrada. Dizia-se também que a criança mais nova dessa família teria uma idade equivalente ao do garoto na caixa. O filho mais velho da família aceitou se submeter ao exame de DNA, mas o material genético foi incompatível.

 

O escultor forense Frank Bender além de criar um busto baseado nas características faciais da vítima chegou a sugerir que o garoto da caixa poderia ter sido criado como menina. Por isso seu cabelo teria sido cortado de forma a dificultar qualquer tipo de identificação. Em 2008, Bender criou um retrato falado de como seria aquela criança com cabelos longos.



 


Diversas outras teorias e suspeitas foram levantadas ao longo do tempo, mas nenhuma delas se concretizou como uma solução plausível para o mistério. Até mesmo o Brasil teve relacionado em uma teoria sobre o garoto na caixa! Um ano antes desse crime, uma criança havia desaparecido durante uma festa de carnaval em nosso país. Autoridades locais foram contatadas na tentativa de estabelecer algum tipo de conexão entre os garotos. Mas não houve nenhum êxito na tentativa de relacioná-los.

 

 

Enterro

 

Depois de cinco meses sem nenhum tipo de progresso na investigação, o garoto foi enterrado como indigente. Em 1998, após uma exumação para extração de material genético, ele foi transferido para o cemitério Ivy Hill, na Filadélfia. Em seu túmulo, há diversas flores e ursinhos de pelúcia trazidos pelos populares. Em sua lápide, ele está identificado como “Criança Desconhecida da América” e nela anda foi escrito o seguinte epitáfio: “Pai Celestial, abençoe esse Garoto Desconhecido”.

 



 

Atualizações

 

Na década de 50 ainda não existia a tecnologia do DNA. Mas 41 anos depois, e 1998, o caso foi reaberto para realização desse tipo de análise. O corpo do garoto foi então exumado para coleta de DNA. Após várias tentativas, só foi possível extrair o DNA mitocondrial do esmalte dos dentes, uma vez que o restante do corpo já estava bastante degradado. O DNA mitocondrial é uma ferramenta forense limitada, comparada ao DNA nuclear. A partir do DNA mitocondrial é possível apenas determinar ou descartar uma relação genética de parte maternal. Por causa disso, não foram obtidas respostas definitivas na análise do material genético do garoto.

 

Em 21 de março de 2016, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas lançou uma reconstrução facial forense da vítima e o adicionou em seu banco de dados. Ainda nesse ano, dois escritores chamados Jim Hoffmann e Louis Romano teriam sido informados que familiares do garoto estariam morando em Memphis, Tennessee. Eles solicitaram que o DNA do garoto fosse comparado com essa família em questão, mas na análise foi verificado que não havia nenhuma conexão.

 

Em 2018 a renomada genealogista Barbara Rae-Venter ainda realizou pesquisas buscando resolver o caso. Barbara ficou conhecida ao conseguir identificado o serial killer conhecido como “Golden State Killer” usando técnicas de criação de perfil de DNA. Mas até o presente momento ela não teve êxito em solucionar o mistério do garoto na caixa.

 

Grupos amadores que usam bancos de dados online, como o Doe Network e o Websleuths, também tentaram sem êxito resolver esse mistério.

 

 

Ajude a solucionar o mistério - America's Unknown Child

 

O site “America's Unknown Child” foi criado em 1998 por George R. Knowles, que se viu inspirado a isso ao assistir o programa televisivo “America's Most Wanted”, que transmitiu um documentário sobre o caso. Esse site é um compilado de todas as informações que existem acerca do caso. Nele podem ser encontradas todas as principais matérias jornalísticas que envolvem o caso, a lista de todas as pessoas envolvidas (investigadores, testemunhas, suspeitos) e fotos reais do caso e dos indivíduos relacionados. Confesso que não consegui explorar o site em sua totalidade para escrever essa matéria, dada à quantidade exuberante de informações que ele trás. Mas caso o leitor anseia por mais informações, o link do “America's Unknown Child” está presente ao final desse texto.

 

Além de todas essas ricas informações, o “America's Unknown Child” funciona como um canal direto para que testemunhas possam entrar em contato e dar seus relatos e informações que tem sobre o caso.

 



 

O garoto na caixa na mídia

 

O mistério do garoto na caixa foi adaptado e serviu como inspiração para episódios de algumas séries televisas de investigação, como “America's Most Wanted”, “Cold Case”, “CSI: Crime Scene Investigation” e “Law & Order: Special Victims Unit”.

 

O caso também foi contado em programas de investigação policial, como “Buzzfeed Buzzfeed Unsolved” e “NBC 10 Investigators”.

 

 

Referências

 

America's Unknown Child à https://bityli.com/oOkNS

Mega Curioso à https://bityli.com/MSlIK

NamUs à https://bityli.com/hjJFB

Wikipedia à https://bityli.com/dW4Uu