segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

MOÇA FANTASMA DA SAVASSI – A assombração que busca um amor!

 

Gustavo Valente

 

O Bairro Savassi de Belo Horizonte

 

A Savassi é um dos bairros mais nobres e boêmios da região centro-sul de Belo Horizonte. A origem do nome do bairro data da década de 1930, quando os três irmãos imigrantes italianos, chamados Achille, Arturo e Angelo Savazzi, fundaram uma padaria na região.  Com o passar do tempo, a praça Treze de Maio (hoje chamada de praça Diogo de Vasconcelos), onde a padaria se localizava, ficou popularmente conhecida com o sobrenome da família, que foi abrasileirado de “Savazzi” para “Savassi”.

 

Se Belo Horizonte é conhecida como a capital mundial dos bares, muito se deve a essa região. A Savassi é uma região que mais concentra os famosos e marcantes bares e botecos que caracterizam a capital mineira. Mas o que poucas pessoas sabem é que além das várias lojas, restaurantes e bares presentes no local, as ruas da Savassi também são alvo de uma entidade sobrenatural que por anos assombra esse bairro em busca de um amor.

 

 

Bairro Savassi - Belo Horizonte


A assombração apaixonada

 

Diz a lenda que durante as madrugadas, uma moça fantasma usando vestido branco surge entre a neblina da Serra do Curral (cadeia montanhosa presente na região sul de Belo Horizonte) e desce até a Savassi, onde caminha à procura de um amor. Essa mulher teria morrido jovem, sem tempo de viver um grande romance. Seu espírito então continuou nesse plano e assombra as ruas da Savassi em busca de um amor. Dizem que um forte cheiro de dama da noite, magnólia e jasmim fica impregnado no local por onde ela passa. Além disso, sua presença também é capaz de causar falhas na rede elétrica. Por algum motivo, ela nunca avança além da Rua Ceará e misteriosamente desaparece quando surge o primeiro raio de sol ao amanhecer.

 

Segundo a pesquisadora Heloísa Maria Murgel Starling (Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais), “a Moça Fantasma representa os amores sem dia seguinte, a fugacidade das relações modernas, as histórias que podem durar só uma noite”.

 




 

A moça fantasma na cultura popular

 

A lenda urbana da Moça Fantasma foi utilizada até mesmo por Carlos Drummond de Andrade para compor a “Canção da Moça Fantasma”. O poeta aborda metaforicamente a solidão da assombração para comparar com o seu isolamento e de toda humanidade. No poema também são abordadas algumas informações interessantes sobre essa manifestação sobrenatural, como as possíveis ruas onde o espectro aparece (Rua do Chumbo, Rua Cláudio Manuel da Costa e Avenida Paraúna), seu nome real (Maria) e sua aparência (branca, de cabelos compridos). Carlos Drummond de Andrade também aborda e ratifica alguns pontos já conhecidos no imaginário popular, como o fato dela descer pela Serra do Curral, dela não avança pela Rua Ceará e dela desparecer com o raiar do sol.


Ficou curioso e com vontade de ler o poema de Drummond? Então o confira abaixo, na íntegra!

 

Canção da Moça Fantasma

 

Eu sou a Moça-Fantasma

que espera na Rua do Chumbo

o carro da madrugada.

Eu sou branca e longa e fria,

a minha carne é um suspiro

na madrugada da serra.

Eu sou a Moça-Fantasma.

O meu nome era Maria,

Maria-Que-Morreu-Antes.

 

Sou a vossa namorada

que morreu de apendicite,

no desastre de automóvel

ou suicidou-se na praia

e seus cabelos ficaram

longos na vossa lembrança.

Eu nunca fui deste mundo:

Se beijava, minha boca

dizia de outros planetas

em que os amantes se queimam

num fogo casto e se tornam

estrelas, sem irônia.

 

Morri sem ter tido tempo

de ser vossa, como as outras.

Não me conformo com isso,

e quando as polícias dormem

em mim e foi-a de mim,

meu espectro itinerante

desce a Serra do Curral,

vai olhando as casas novas,

ronda as hortas amorosas

(Rua Cláudio Manuel da Costa),

pára no Abrigo Ceará,

nao há abrigo. Um perfume

que não conheço me invade:

é o cheiro do vosso sono

quente, doce, enrodilhado

nos braços das espanholas.

Oh! deixai-me dormir convosco.

 

E vai, como não encontro

nenhum dos meus namorados,

que as francesas conquistaram,

e cine beberam todo o uísque

existente no Brasil

(agora dormem embriagados),

espreito os Carros que passam

com choferes que não suspeitam

de minha brancura e fogem.

Os tímidos guardas-civis,

coitados! um quis me prender.

Abri-lhe os braços… Incrédulo,

me apalpou. Não tinha carne

e por cima do vestido

e por baixo do vestido

era a mesma ausência branca,

um só desespero branco…

Podeis ver: o que era corpo

foi comido pelo gato.

 

As moças que ainda estão vivas

(hão de morrer, ficai certos)

têm medo que eu apareça

e lhes puxe a perna… Engano.

 

Eu fui moça, Serei moça

deserta, per omnia saecula.

 

Não quero saber de moças.

Mas os moços me perturbam.

Não sei como libertar-me.

Se o fantasma não sofresse,

se eles ainda me gostassem

e o espiritismo consentisse,

mas eu sei que é proibido

vós sois carne, eu sou vapor.

 

Um vapor que se dissolve

quando o sol rompe na Serra.

 

Agora estou consolada,

disse tu do que queria,

subirei àquela nuvem,

serei lâmina gelada,

cintilarei sobre os homens.

 

Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna

(estrelas não se compreendem),

ninguém o compreenderá.

 

 

Referências

G1 à https://cutt.ly/Wfue4J1

Fantasmas da Cidade Moderna à https://cutt.ly/LfiDVM6

Passei Web à https://cutt.ly/OfurHmr

Sesc à https://cutt.ly/kfiDSFq

Wikipédia à https://cutt.ly/NfueOZ5