Tsug
✞O
fenômeno✞
A “Chuva de Animais” foi um
fenômeno caracterizado pela queda de peixes, sapos e aves do céu, que acontecia
em algumas cidades ao longo da história. A maioria dos animais se apresentavam
mortos congelados, envoltos em blocos de gelo ou apenas em pedaços. Em alguns casos,
principalmente os peixes, se apresentam vivos e sobrevivam à queda.
✞Relatos✞
Um dos primeiros relatos acerca
da ‘Chuva de Animais’ data do antigo Egito. Em registros de um papiro egípcio (precursor
do papel usado para a escrita dessa civilização) indicava a ocorrência de queda
de peixes e pássaros do céu. Na Bíblia, mais especificamente Êxodo 8:5,6, há o
relato da precipitação de rãs, como uma das 10 pragas do Egito. No século IV
a.C. o autor grego Ateneu mencionou a ocorrência de uma chuva de peixes que
durou três dias na região de Queronea na península de Peloponeso. No século I,
o escritor e naturalista romano Plínio descreveu uma chuva de pedaços de carne
e pedaços de animais, sangue e rãs. Na Idade Média esse fenômeno era tão
recorrente que muitas culturas começaram a crer que peixes nasciam no céu e só
então caiam no mar.
Chuvas de sapos e rãs também foram registradas em Leicester (Massachusetts, Estados Unidos) em 7 de setembro de 1953, em Birmingham (Inglaterra) em 1954, em El Rebolledo (Espanha) em 2007, em Ràkòczifalva (Hungria) em 2010 e em Acle (Norfolk, Inglaterra). Em Ishikawa (Japão) foi observada a chuva de girinos em 2010. Relatos de chuvas de aves foram obtidos em St. Mary's City (Maryland, Estados Unidos) no ano de 1969, em Schenectady (Nova York, Estados Unidos) em 2006 e em Beebe (Arkansas, Estados Unidos) em 2011. Chuvas de peixes foram registradas na cidade de Essex (Inglaterra), em Korona (Grécia) no ano de 2002 e em Lajamanu (Austrália) em 2010, no qual muitos animais ainda estavam vivos.
Em um relato de 1947, AD Bajkov,
um biólogo do Departamento de Vida Selvagem da Louisiana afirmou que em uma
chuva de peixes “havia locais na Main Street, nas proximidades do banco (a meia
quadra do restaurante), com média de um peixe por metro quadrado. Automóveis e
caminhões os atropelavam. Peixes também caíam nos telhados das casas ... Eu
pessoalmente coletei na Main Street e em vários metros da Monroe Street, um
grande frasco de espécimes perfeitos e os conservei em formal, a fim de distribuí-los
entre vários museus”.
O jornalista norte-americano Charles
Hoy Fort foi uma das pessoas que mais documentou o fenômeno. Na Biblioteca
Nacional de Nova Iorque há cerca de 60 mil fichas desse autor sobre a chuva de
animais.
No Brasil, há um relato de chuva
de carne e sangue em 1968. Em 2013 foi registrada uma chuva de aranhas em Santo
Antonio da Platina, Paraná.
✞Explicações✞
A primeira tentativa de
explicação do fenômeno data do século V, quando o filósofo grego Teofrasto
afirmou que os sapos não caiam junto à chuva. Para ele, a chuva encharcava o
solo e isso fazia com que os sapos saíssem de seus esconderijos subterrâneos,
fazendo com que houvesse a falsa ligação de um acontecimento com o outro. Já no
século XVI o inglês Reginald Scot se baseou na teoria da abiogênese (origem da
vida a partir de matéria não viva) para explicar como surgiam animais em meio
às chuvas. De acordo com outra teoria surgida no século XIX, quando a água de
lagos ou rios evaporavam, o vapor arrastava junto ovos de rãs que haviam sido
colocados ali. Nas nuvens esses ovos eclodiam e os animais caíam na terra junto
com a chuva. Em 1859, após uma chuva de peixes em Mountain Ash, País de Gales, muitos
chegaram a acreditar que o fenômeno foi armado por pessoas que esvaziaram
baldes com peixes fazendo testemunhas acreditarem que eles caíram do céu.
O físico francês André-Marie
Ampère foi o primeiro a tentar explicar cientificamente o fenômeno da “Chuva de
Animais”. De acordo com ele, a densidade populacional de sapos e rãs segue uma
sazonalidade. Nas épocas do ano de maior contingente, fortes tornados podem
capturar e dispersar os anfíbios a grandes distâncias. O fato desses anfíbios
se locomoverem por meio de pulos faz com que eles sejam alvos fáceis para
tornados. Esse fenômeno climático, que consiste em arrastar objetos do solo por
um vórtex de ventos, é conhecido como corrente ascendente e a força desses
ventos pode alcançar cerca de 100 km/h. Caso o tornado atravessasse um bando de
aves em pleno voo, essas também seriam envolvidas no fenômeno. Existem dados de
um instituto meteorológico do Texas, chamado National Weather Service, mostrando
que um grupo de morcegos foi alvo de um tornado, sendo arrastados por ele
durante todo seu percurso. Esse achado confirma que esse fenômeno poder ser
replicado na prática. Embora a teoria seja bem fundamentada, ela não explica o
envolvimento de outros animais no fenômeno, como os peixes.
Uma explicação diferente foi dada no caso da chuva de aves que ocorreu em Arkansas em 2011. O incidente ocorreu coincidentemente no Reveillon pouco depois da meia-noite. Levantou-se a possível hipótese de que fogos de artifício tenham causado a mortalidade de pássaros no céu, fazendo com que eles caíssem aos montes no solo.
Muitos céticos não creem na
ocorrência da chuva de animais. De acordo com o naturalista francês Francis de
Laporte, a ocorrências de peixes em poças d’água (como o incidente de Singapura
em 1861) foram em virtudes da capacidade de alguns peixes migrarem pelo solo
(como por exemplo, os peixes-gato, os lúcios e as enguias que são capazes de
percorrer quilômetros em solo úmido). Além disso, as tempestades preenchem
tocas de minhocas e larvas, além de derrubarem pássaros das árvores e telhados,
dando a falsa impressão que eles caíram junto com a água.
Apesar das várias teorias, alguns
aspectos do fenômeno seguem sem uma explicação lógica. Por que na Chuva de
Animais há o envolvimento de apenas uma espécie animal de cada vez? Por que
alguns animais permanecem vivos e em perfeito estado após a queda? A primeira
questão é, em parte, respondida. Na natureza, os animais tendem a competir
muito entre si, seja por alimento e/ou território. Isso faz com que uma área em
específico seja mais concentrada quanto a uma única espécie. Portanto, essa
área ao ser alvo de um tornado, este acabaria arrastando predominantemente a
espécie mais estabelecida no local. Além disso, espécies diferentes têm
densidades e aerodinâmicas também muito diferentes o que faria com que, caso
fossem capturadas juntas por tornados ou trombas d’águas, caíssem em pontos
diferentes. É o que afirma o professor da Universidade de Washington, William
Hayden Smith: objetos de tamanho e peso semelhantes seriam naturalmente
depositados juntos. À medida que os ventos perdem sua energia, os objetos mais
pesados caem primeiro e os menores caem depois.
✞Cultura
popular✞
Existe uma famosa expressão na
língua inglesa que faz menção a esse fenômeno: “It's raining cats and dogs”
(está chovendo cães e gatos). A primeira citação foi na obra de Jonathan Swift,
intitulada “A Complete Collection of Polite and Ingenious Conversation”, de
1738. A expressão é popularmente utilizada para descrever uma chuva muito
forte.
No filme “Magnolina” (1999) há a
representação de uma chuva de sapos, enquanto que no filme “Le Dernier Combat”
(1983) é representado uma chuva de peixes.
No livro “Sido”, a autora Colette
escreve “Ao passarem as nuvens, tomei um
banho sentada, Antoine molhado, e a capa cheia de água, uma água quente, uma
água a dezoito ou vinte graus. E quando Antoine quis virar a capa, o que
encontramos? Rãs minúsculas, vivas, pelo menos trinta trazidas pelos ares por um
capricho do Sul, por uma tromba de água quente, um desses tornados que em
espiral reúne e leva a cem lugares um penacho de areia, sementes, insectos…”.
Já em “Le Capitaine Pamphile”, Alexandre
Dumas escreve “[…] lembrava-se de ter
lido, alguns dias antes, sobre o episódio de Valenciennes, que esta cidade fora
local de um fenómeno fortemente singular: uma chuva de sapos caíra com trovoada
e relâmpagos, e em tal quantidade, que as ruas da cidade e os tectos das casas
estavam cobertos. Imediatamente depois, o céu, que duas horas antes era cor de
cinza, era agora azul indigo. O contratado do Constitutionnel olha para cima,
e, vendo o céu negro como tinta e Tom no seu jardim, sem saber o modo como ele
tinha entrado, começou a acreditar que um fenómeno parecido com o de
Valenciennes estava a ponto de se repetir, com a única diferença de que em vez
de sapos, choveria ursos. Um não era mais surpreendente que outro; o granizo
era mais grosso e perigoso: e é tudo.”
A chuva de peixes também é
descrita na literatura japonesa, em Kafka à beira-mar, do autor Haruki Murakami.
✞Referências✞
Brasil Escola à https://cutt.ly/4zFuVt7 e https://cutt.ly/hzVMQHN
Library of Congress à https://cutt.ly/pxf6Z7b
National Geographic à https://cutt.ly/IxeK006
Showers of Organic Matter à https://cutt.ly/6xUSI55