domingo, 12 de fevereiro de 2023

CHUVA DE ANIMAIS – Um fenômeno mais comum do que se imagina!

 Tsug

 

O fenômeno

 

A “Chuva de Animais” foi um fenômeno caracterizado pela queda de peixes, sapos e aves do céu, que acontecia em algumas cidades ao longo da história. A maioria dos animais se apresentavam mortos congelados, envoltos em blocos de gelo ou apenas em pedaços. Em alguns casos, principalmente os peixes, se apresentam vivos e sobrevivam à queda.




 

 

Relatos

 

Um dos primeiros relatos acerca da ‘Chuva de Animais’ data do antigo Egito. Em registros de um papiro egípcio (precursor do papel usado para a escrita dessa civilização) indicava a ocorrência de queda de peixes e pássaros do céu. Na Bíblia, mais especificamente Êxodo 8:5,6, há o relato da precipitação de rãs, como uma das 10 pragas do Egito. No século IV a.C. o autor grego Ateneu mencionou a ocorrência de uma chuva de peixes que durou três dias na região de Queronea na península de Peloponeso. No século I, o escritor e naturalista romano Plínio descreveu uma chuva de pedaços de carne e pedaços de animais, sangue e rãs. Na Idade Média esse fenômeno era tão recorrente que muitas culturas começaram a crer que peixes nasciam no céu e só então caiam no mar.

 

Na era moderna também existem diversos relatos sobre a ocorrência da ‘Chuva de Animais’. Em 1578 na cidade norueguesa de Bergen, grandes ratos amarelos caíram do céu. Em uma carta datada de 11 de julho de 1836, um professor relata à Academia de Ciências Francesa que presenciou uma chuva de sapos na cidade francesa de Cahors. Em 16 de fevereiro de 1861 a cidade de Singapura foi acometida por terremotos e chuvas. Em muitos locais em que se acumulou água foram encontrados peixes, que de acordo com algumas testemunhas, caíram junto ao dilúvio. A revista Scientific American registrou um fenômeno parecido, no qual foram encontradas serpentes em poças de acúmulo de chuva na cidade de Memphis, em 15 de janeiro de 1877. Considerando apenas os Estados Unidos, houve o registro de mais de quinze eventos de chuvas de animais apenas no século XIX. Em junho de 1880 Valência foi assolada por uma chuva de codornas. Em 1978 houve uma chuva de caranguejos no estado australiano de Nova Gales do Sul. Em 2007, foi registrada a queda de minhocas do céu na cidade de Jennings, em Louisiana. No estado da Dakota do Norte, Estados Unidos, testemunhas afirmaram que encontram várias minhocas na aba de seu chapéu após tomarem chuva. Até mesmo animais marinhos como águas-vivas, polvos, estrelas-do-mar e ostras caíram do céu em Bath (Inglaterra) no ano de 1894 e em Qingdao (China) em 2018.

 

Chuvas de sapos e rãs também foram registradas em Leicester (Massachusetts, Estados Unidos) em 7 de setembro de 1953, em Birmingham (Inglaterra) em 1954, em El Rebolledo (Espanha) em 2007, em Ràkòczifalva (Hungria) em 2010 e em Acle (Norfolk, Inglaterra). Em Ishikawa (Japão) foi observada a chuva de girinos em 2010. Relatos de chuvas de aves foram obtidos em St. Mary's City (Maryland, Estados Unidos) no ano de 1969, em Schenectady (Nova York, Estados Unidos) em 2006 e em Beebe (Arkansas, Estados Unidos) em 2011. Chuvas de peixes foram registradas na cidade de Essex (Inglaterra), em Korona (Grécia) no ano de 2002 e em Lajamanu (Austrália) em 2010, no qual muitos animais ainda estavam vivos.

 

Em um relato de 1947, AD Bajkov, um biólogo do Departamento de Vida Selvagem da Louisiana afirmou que em uma chuva de peixes “havia locais na Main Street, nas proximidades do banco (a meia quadra do restaurante), com média de um peixe por metro quadrado. Automóveis e caminhões os atropelavam. Peixes também caíam nos telhados das casas ... Eu pessoalmente coletei na Main Street e em vários metros da Monroe Street, um grande frasco de espécimes perfeitos e os conservei em formal, a fim de distribuí-los entre vários museus”.

 

O jornalista norte-americano Charles Hoy Fort foi uma das pessoas que mais documentou o fenômeno. Na Biblioteca Nacional de Nova Iorque há cerca de 60 mil fichas desse autor sobre a chuva de animais.

 

No Brasil, há um relato de chuva de carne e sangue em 1968. Em 2013 foi registrada uma chuva de aranhas em Santo Antonio da Platina, Paraná.

 



 

Explicações

 

A primeira tentativa de explicação do fenômeno data do século V, quando o filósofo grego Teofrasto afirmou que os sapos não caiam junto à chuva. Para ele, a chuva encharcava o solo e isso fazia com que os sapos saíssem de seus esconderijos subterrâneos, fazendo com que houvesse a falsa ligação de um acontecimento com o outro. Já no século XVI o inglês Reginald Scot se baseou na teoria da abiogênese (origem da vida a partir de matéria não viva) para explicar como surgiam animais em meio às chuvas. De acordo com outra teoria surgida no século XIX, quando a água de lagos ou rios evaporavam, o vapor arrastava junto ovos de rãs que haviam sido colocados ali. Nas nuvens esses ovos eclodiam e os animais caíam na terra junto com a chuva. Em 1859, após uma chuva de peixes em Mountain Ash, País de Gales, muitos chegaram a acreditar que o fenômeno foi armado por pessoas que esvaziaram baldes com peixes fazendo testemunhas acreditarem que eles caíram do céu.

 

O físico francês André-Marie Ampère foi o primeiro a tentar explicar cientificamente o fenômeno da “Chuva de Animais”. De acordo com ele, a densidade populacional de sapos e rãs segue uma sazonalidade. Nas épocas do ano de maior contingente, fortes tornados podem capturar e dispersar os anfíbios a grandes distâncias. O fato desses anfíbios se locomoverem por meio de pulos faz com que eles sejam alvos fáceis para tornados. Esse fenômeno climático, que consiste em arrastar objetos do solo por um vórtex de ventos, é conhecido como corrente ascendente e a força desses ventos pode alcançar cerca de 100 km/h. Caso o tornado atravessasse um bando de aves em pleno voo, essas também seriam envolvidas no fenômeno. Existem dados de um instituto meteorológico do Texas, chamado National Weather Service, mostrando que um grupo de morcegos foi alvo de um tornado, sendo arrastados por ele durante todo seu percurso. Esse achado confirma que esse fenômeno poder ser replicado na prática. Embora a teoria seja bem fundamentada, ela não explica o envolvimento de outros animais no fenômeno, como os peixes.

 


Nesse sentido, surgiu a teoria do envolvimento de trombas marinhas. Tornados que se originam em um corpo d’água formam as chamadas “trombas”, que também são capazes de arrastar a água e tudo nela contida, incluindo os peixes.  Algumas evidências sugerem que esses tornados são capazes de até mesmo secar um pequeno lago, dada a grande quantidade de água que podem carrear. De acordo com Ernest Agee, professor da Universidade Purdue (Estados Unidos), ele viu “pequenos lagos literalmente serem esvaziados por um tornado que passou. Portanto, não seria irracional que sapos (ou outros seres vivos) 'chovessem' dos céus”. As trombas d'água podem girar até 160 km/h, exercendo assim um efeito de arraste pelo vácuo criado em seu interior. Conforme as trombas d'água ascendentes se movem sobre a terra, elas perdem sua energia turbulenta, então todas as partículas arrastadas por ela começam a cair. Essa teoria é reforçada pelo fato de que, com frequência, a chuva de animais é precedida de uma grande tempestade associada a fortes ventanias.  

 

Uma explicação diferente foi dada no caso da chuva de aves que ocorreu em Arkansas em 2011. O incidente ocorreu coincidentemente no Reveillon pouco depois da meia-noite. Levantou-se a possível hipótese de que fogos de artifício tenham causado a mortalidade de pássaros no céu, fazendo com que eles caíssem aos montes no solo.

 

Muitos céticos não creem na ocorrência da chuva de animais. De acordo com o naturalista francês Francis de Laporte, a ocorrências de peixes em poças d’água (como o incidente de Singapura em 1861) foram em virtudes da capacidade de alguns peixes migrarem pelo solo (como por exemplo, os peixes-gato, os lúcios e as enguias que são capazes de percorrer quilômetros em solo úmido). Além disso, as tempestades preenchem tocas de minhocas e larvas, além de derrubarem pássaros das árvores e telhados, dando a falsa impressão que eles caíram junto com a água.

 

Existem também as explicações com apelo sobrenatural. As explicações de natureza religiosa são centradas na crença que a chuva de animais é um castigo divino como o que ocorreu contra o exército amorita no Antigo Testamento. Nas hipóteses ufológicas, acreditam que alienígenas abduzem uma grande quantidade de espécies para estuda-las. A chuva de animais nada mais seria que um descarte de espécies sem interesse por parte deles. O jornalista Charles Hoy Fort chegou a propor que a existência de diferentes dimensões e planos espaço-temporais podem explicar o aparecimento repentino de animais no céu.

 

Apesar das várias teorias, alguns aspectos do fenômeno seguem sem uma explicação lógica. Por que na Chuva de Animais há o envolvimento de apenas uma espécie animal de cada vez? Por que alguns animais permanecem vivos e em perfeito estado após a queda? A primeira questão é, em parte, respondida. Na natureza, os animais tendem a competir muito entre si, seja por alimento e/ou território. Isso faz com que uma área em específico seja mais concentrada quanto a uma única espécie. Portanto, essa área ao ser alvo de um tornado, este acabaria arrastando predominantemente a espécie mais estabelecida no local. Além disso, espécies diferentes têm densidades e aerodinâmicas também muito diferentes o que faria com que, caso fossem capturadas juntas por tornados ou trombas d’águas, caíssem em pontos diferentes. É o que afirma o professor da Universidade de Washington, William Hayden Smith: objetos de tamanho e peso semelhantes seriam naturalmente depositados juntos. À medida que os ventos perdem sua energia, os objetos mais pesados ​​caem primeiro e os menores caem depois.




 

 

Cultura popular

 

Existe uma famosa expressão na língua inglesa que faz menção a esse fenômeno: “It's raining cats and dogs” (está chovendo cães e gatos). A primeira citação foi na obra de Jonathan Swift, intitulada “A Complete Collection of Polite and Ingenious Conversation”, de 1738. A expressão é popularmente utilizada para descrever uma chuva muito forte.

 

No filme “Magnolina” (1999) há a representação de uma chuva de sapos, enquanto que no filme “Le Dernier Combat” (1983) é representado uma chuva de peixes.

 

No livro “Sido”, a autora Colette escreve “Ao passarem as nuvens, tomei um banho sentada, Antoine molhado, e a capa cheia de água, uma água quente, uma água a dezoito ou vinte graus. E quando Antoine quis virar a capa, o que encontramos? Rãs minúsculas, vivas, pelo menos trinta trazidas pelos ares por um capricho do Sul, por uma tromba de água quente, um desses tornados que em espiral reúne e leva a cem lugares um penacho de areia, sementes, insectos…”.

 

Já em “Le Capitaine Pamphile”, Alexandre Dumas escreve “[…] lembrava-se de ter lido, alguns dias antes, sobre o episódio de Valenciennes, que esta cidade fora local de um fenómeno fortemente singular: uma chuva de sapos caíra com trovoada e relâmpagos, e em tal quantidade, que as ruas da cidade e os tectos das casas estavam cobertos. Imediatamente depois, o céu, que duas horas antes era cor de cinza, era agora azul indigo. O contratado do Constitutionnel olha para cima, e, vendo o céu negro como tinta e Tom no seu jardim, sem saber o modo como ele tinha entrado, começou a acreditar que um fenómeno parecido com o de Valenciennes estava a ponto de se repetir, com a única diferença de que em vez de sapos, choveria ursos. Um não era mais surpreendente que outro; o granizo era mais grosso e perigoso: e é tudo.”

 

A chuva de peixes também é descrita na literatura japonesa, em Kafka à beira-mar, do autor  Haruki Murakami.

 



 

Referências

 

Brasil Escola à https://cutt.ly/4zFuVt7 e https://cutt.ly/hzVMQHN

G1 à https://cutt.ly/HzKtIIK

Library of Congress à https://cutt.ly/pxf6Z7b

National Geographic à https://cutt.ly/IxeK006

Showers of Organic Matter à https://cutt.ly/6xUSI55

Wikipedia à https://cutt.ly/vzjWsTW