sábado, 1 de agosto de 2020

MULA SEM CABEÇA – A maldição da mulher do padre!

Gustavo Valente

 

Origem

 

A lenda da mula sem cabeça é muito famosa no Brasil. Mesmo ao se pesquisar seu nome em inglês (Headless Mule), todas as páginas atribuem a estória ao nosso país. Entretanto, a lenda provavelmente não se originou aqui. Alguns registros sugerem que ela tenha surgido na Península Ibérica e foi trazida para a América pelos colonizadores portugueses e espanhóis.

 

No México, há uma lenda semelhante chamada ‘Malora’. Na Argentina ela ficou conhecida por nomes como ‘Alma mula’, ‘Mula Ánima’, ‘Tatá Cuñá’, ‘Mula sin cabeza’ ou ‘Mula Frailera’. No Brasil, a lenda da mula sem cabeça foi perpetuada pelas zonas rurais do Nordeste e Sudeste, desde a época do ciclo da cana de açúcar. Em algumas regiões, a mula sem cabeça também é conhecida por outros nomes, como “Burrinha”, “Burrinha do padre”, “Mulher de Padre” e “Mula Preta”.

 

 


Aparência

 

A mula sem cabeça, como sua própria designação propõe, se apresenta como um equídeo decapitado, de pelagem preta ou amarronzada. O espaço que seria destinado à cabeça é composto por densas chamas, que se estendem a partir do pescoço. Em seus cascos há ferraduras constituídas de prata ou aço. Algumas versões menos disseminadas da lenda afirmam que essa criatura tem a aparência de uma mula normal, com cabeça e tudo mais. Apenas seus olhos seriam compostos por chamas ardentes, e não a cabeça inteira.  Em outros relatos, a mula soltaria fogo apenas pelas suas narinas.

 

Durante as noites de quinta-feira, principalmente quando a lua está cheia, a mula sem cabeça surge em encruzilhadas e cavalga por vilarejos e matas. É dito que ela galopa por sete freguesias, assombrando esses povoados. As pessoas e animais que cruzam o caminho dessa criatura são atacados por ela. Dizem que a mula sem cabeça disfere golpes com suas patas até despedaçar totalmente suas vítimas. Acredita-se que ela seja atraída pelo brilho dos dentes, dos olhos e das unhas, uma vez que, de acordo com algumas fontes, essa criatura teria o hábito de sugar essas partes. Por causa disso, ao topar com uma mula sem cabeça, é recomendado que as pessoas se joguem ao chão de bruços para esconder seu rostos e mãos.

 

Mesmo a metros de distância, é possível ouvir tanto o estrondoso relincho que a criatura ecoa quanto a violência com que seu casco se choca contra o solo durante o galope. Os que avistaram a criatura de perto e sobreviveram afirmam que ela também emite um soluço de choro.

 

 

Maldição

 

Como surge uma mula sem cabeça? De acordo com a lenda, essa seria uma maldição que cai sobre mulheres que se relacione sexualmente com algum membro do clero. Existem outras versões, mas todas elas também se baseiam na castidade. Em uma delas, é dita que essa maldição assombra mulheres que se relacionassem com homens antes do casamento.

 

Uma vez amaldiçoada, a mulher se transformaria nessa besta nas noites de quinta-feira. A transformação em mula sem cabeça dura toda madrugada. Quando o galo canta pela terceira vez ao amanhecer de sexta-feira, o encanto desparece e ela volta a sua forma humana, reaparecido despida, machucada, exausta e aos prantos.

 

 

Como quebrar a maldição?

 

A maldição pode ser quebrada de algumas maneiras diferentes. A primeira delas seria a partir da remoção do freio de ferro que a mula sem cabeça carrega em meio às chamas. Dessa forma, a mulher amaldiçoada seria perdoada de todos seus pecados e ela nunca mais voltaria a se transformar.

 

Outra estratégia seria ferir o corpo da mula sem cabeça com algum objeto cortante ou perfurante nunca usado previamente. Acredita-se que se a criatura perder sangue, mesmo que seja uma simples gota, a maldição se cessará.

 

Também é afirmado que se o padre, que se relacionou com a mulher em questão, amaldiçoa-la sete vezes antes de celebrar a missa, o encanto desaparecerá.



 

 Contexto por trás da lenda

 

A lenda da mula sem cabeça nada mais é que um conto inventado na época em que a população vivia sob o domínio da igreja católica. Dessa forma, baseado em princípios morais e religiosos, mulheres eram incentivadas a manter a castidade e respeitar os dogmas da igreja. Esse cenário contribuía para que as fiéis enxergassem os padres apenas como algo sacro e incorruptível, e não como um homem.

 

Da mesma forma, em outras versões da lenda observa-se que sua narrativa estava ligada às tradições das famílias. Essa era uma forma de manter as filhas dentro dos padrões morais que a sociedade estipulava na época.

 

E por que a mula? De tantos animais possíveis para serem escolhidos, por que a mula foi eleita como modelo dessa maldição? De acordo com o folclorista Luís da Câmara Cascudo, essa escolha se baseou no fato das mulas estarem associadas ao clero desde o século XIII. Nesse período, uma lei portuguesa determinava que esses animais fossem utilizados como meio de transporte pelos membros da Igreja Católica. Desde então a figura da mula esteve sempre ligada aos padres e bispos e serviu como um símbolo de punição às mulheres que atentassem contra o celibato.



 

Referências

 

Brasil Escola à https://bityli.com/0stOJ

Escola Kids à https://bityli.com/yaBU8

Hiper Cultura à https://bityli.com/kbeN2

Lendas e mitos do Brasil à https://bityli.com/yf07W

Só História à https://bityli.com/XbJSu

Toda Matéria à https://bityli.com/FgG0b

Uol Educação à https://bityli.com/vCDpD

Wikipedia à https://bityli.com/p9i7F