Gustavo Valente
Origem e
características

Na versão escrita pelo gaúcho
João Simões Lopes Neto (autor das obras ‘Contos Gauchescos’ de 1912 e ‘Lendas
do Sul’ de 1913), o protagonista é um pequeno escravo, que trabalhava para um
fazendeiro perverso. Por não ter nem padrinhos e nem nome, o garoto se dizia
afilhado da Virgem Maria e era conhecido como Negrinho.
A lenda

Com a perda da corrida, Negrinho
foi cruelmente punido pelo estancieiro, recebendo chibatadas e sendo colocado
para tomar conta de 30 cavalos no meio de uma mata durante uma fria noite de
inverno. Com muito medo e frio, o Negrinho apenas conseguia rezar para sua
madrinha. Sem perceber, caiu no sono não se dando conta que o cavalo baio adentrava
a mata fechada e acabou se perdendo. Dessa forma, ele foi novamente castigado
fisicamente pelo fazendeiro que berrava: "Você vai me dar conta do baio,
ou verá o que acontece!".
Após muita procura, alguns
relatos indicam que o Negrinho não conseguiu localizar o baio, enquanto outros
contam que o garoto conseguiu encontra-lo e o laçou. Considerando a versão que
ele encontra o cavalo, a estória prossegue narrando que, durante o caminho, a
corda se rompeu e o animal fugiu novamente para a mata. Sendo assim, mais uma
vez, o pequeno escravo foi castigado com chibatadas e deixado na mata para
tomar conta da tropa. Não aguentando de cansaço e dor, o Negrinho dormiu outra
vez e não percebeu a fuga desta vez não só de um, mas de todos os cavalos. Após
o estancieiro chegar à mata e perceber a ausência de seus animais, voltou a
agredir severamente o negrinho e o jogou sobre um formigueiro totalmente nu. O
estanceiro partiu enquanto as formigas cobriam todo o corpo do garoto e
começavam a devorá-lo.
Três dias se passaram desde esse
incidente e, o fazendeiro continuava a explorar a área a procura de seus
cavalos. Foi então que para sua surpresa, ele viu o Negrinho em pé, com a pele
lisa, removendo as últimas formigas do seu corpo. Atrás do garoto podiam-se ver
todos os cavalos pastando calmamente, e à sua frente estava uma mulher branca
usando um longo manto e véu. Imediatamente o fazendeiro se deu conta que aquela
era a Virgem Maria e se jogou aos pés do Negrinho lhe pedindo desculpas. O
pequeno escravo nada falou, apenas beijou as mãos de Nossa Senhora, montou o baio
e saiu de lá, sendo seguido por todos os cavalos.
Como entrar em contato com o Negrinho do pastoreio?

O Negrinho do Pastoreio é um saci?
Ambos os personagens apresentam
algumas semelhanças como o habitat (matas e áreas rurais), são garotos negros
que podem estar montados em cavalos e ajudam as pessoas a encontrar objetos
perdidos. O próprio Barbosa Rodrigues, famoso folclorista brasileiro, menciona
que os dois seres são símiles. Mas as semelhanças param por ai. Além do saci
ter várias particularidades que o difere do Negrinho (falta de uma perna, mãos
furadas, criador de redemoinhos), este não está associado ao conceito cristão.
Basta lembrar-nos que, ao invés de rosas e velas que seriam destinadas à
Virgem, o saci pede ovos frescos em benefício próprio em troca do objeto
perdido. Se ainda considerarmos o comportamento habitual do saci, a diferença
entre os dois se torna ainda mais significativa.
Mídia

No livro de Clarice Lispector
intitulado como ‘Como Nasceram as Estrelas’, são abordadas várias lendas, entre
elas, a história ‘O Negrinho do Pastoreio’. Diferente da lenda descrita
inicialmente por João Simões Lopes Neto, na versão de Lispector, que tinha um público-alvo
infanto-juvenil, a narração foi mais branda. Isso foi necessário uma vez que a
lenda original possui muitas cenas fortes. Assim como esses contos, a lenda
gaúcha possui algumas adaptações que abordam a história de forma branda e
bastante lúdica, em formato de livro infantil ou história em quadrinho. Segue esse
mesmo modelo as obras ‘Lendas Brasileiras da Turma da Mônica’ (Editora Girassol)
e ‘Coleção Folclore Mágico’ (editora Ciranda Cultural). Nessas adaptações
infantis os castigos aplicados pelo fazendeiro são bem menos violentos e as
formigas são amigas do Negrinho. Em muitos dos contos, o filho do estancieiro é
o principal responsável pelos infortúnios ocorridos com o Negrinho. Nesse caso,
o garoto era responsável pela fuga dos cavalos na mata, e ia rapidamente ao
encontro do pai para culpar o pequeno escravo.
A lenda do Negrinho do Pastoreio
também foi contada na forma de música de mesmo nome, interpretada por diversos
artistas tais como Barbosa Lessa, Liu e Léu, Kleiton e Kledir, Inezita Barroso,
Joca Martins, Jayme Caetano Braun entre outros. Confira a letra da canção e uma
das performances abaixo:
Negrinho do Pastoreio
Negrinho do PastoreioAcendo esta vela pra tiE peço que me devolvasA querência que eu perdiNegrinho do pastoreioTraze a mim o meu rincãoEu te acendo esta velinhaNela está meu coraçãoQuero ver meu lindo pagoColoreado de pitangaQuero ver a gaúchinhaA brincar n'água da sangaQuero trotear pelas coxilhasRespirando a liberdadeQue eu perdi naquele diaQue me embretei na cidadeNegrinho do pastoreioAcendo esta vela pra tiE peço que me devolvasA querência que eu perdiNegrinho do pastoreioTraze a mim o meu rincãoA velinha está queimandoAquecendo a tradição
Lendas parecidas
Na Argentina, existe um
personagem folclórico que apresenta muitas semelhanças com o Negrinho do
Pastoreio. Seu nome é ‘El Quemadito’ e sua história teve início durante a
guerra civil ocorrida em 1830. Confira abaixo de forma resumida a lenda do ‘El
Quemadito’:
Durante a feroz luta entre
unitários e federais, José María Paz (comandante das forças Unitárias) aprisionou
um homem chamado José Carrizo. Embora eles achassem que Carrizo fosse um
rastreador de abelhas negras que fabricam um delicioso mel, o coronel Mariano
Acha o acusou de ser espião de Facundo Quiroga (comandante das forças federais
chamadas ‘Tigre de los Llanos). Por conta disso, Carrizo foi queimado em na
fogueira e seus restos mortais foram enterrado em uma cova marcada por uma cruz
de madeira. Desde então, relatos indicam que ‘El Quemadito’ possui poderes
mágicos e aparece nesse local. Muitos populares vão até sua cruz acender velas
e segundo a lenda, ‘El Quemadito’ sempre os ajuda a encontrar animais perdidos.
REFERÊNCIAS
Wikipédia à
https://goo.gl/vJg47D