Tsug
✞A
história de Amélia Machado✞
A viúva Machado é uma das mais
famosas lendas de Natal, capital do Estado do Rio Grande de Norte. Quem
inspirou a origem dessa lenda foi Amélia Duarte Machado, nascida em 1881. Em
1904, Amélia se casou com Manoel Duarte Machado, um rico português que tinha
posse de várias terras (dizem que todo o terreno dos bairros Morro Branco e
Nova Descoberta pertenciam a ele) e era proprietário da “Despensa Natalense”,
uma dos maiores comércios do bairro da Ribeira. Lá eram vendidos diversos gêneros
alimentícios como farinha de trigo e de mandioca, açúcar e sal, verduras,
frutas, conservas e carnes, além de bebidas nacionais (cachaça) e importadas
(vinho português). Também vendia alguns materiais para construção, como a
madeira cedro, originada da Índia. Manoel também foi conhecido por ser um
incentivador da aviação, ao doar algumas de suas terras para construção do campo
de pouso de Parnamirim.
✞Amélia
fica viúva e se transforma na “Papa-Figo”✞
Apesar de não ter filhos, Amélia
gostava muito de crianças e sempre convidava os filhos de parentes e amigos
próximos para irem até sua casa comer doce e brincar. Amélia tentou por algumas
vezes ser mãe, mas vários abortos a acometeram até que ela desistisse da ideia.
Algumas fontes afirmam que ela chegou a sofrer mais de dez abortos.
As pessoas que se incomodavam com
o sucesso da viúva se aproveitaram da aproximação dela com as crianças para
fomentar histórias que manchassem sua reputação. De acordo com os boatos, ela
atraia as crianças ou as raptava das ruas com o intuito de comer seus fígados! O
objetivo de Amélia com isso seria atenuar os sintomas de uma maldição que caiu
sobre ela. Dizem que ela teria feito pacto com o diabo para poder ficar rica.
Em troca disso, as forças demoníacas havia roubado toda sua beleza, deixando-a
deformada. Apenas o consumo regular de fígado de crianças era capaz de evitar
que essas mudanças físicas se expressassem.
Amélia realmente teve uma doença,
chamada Síndrome de Treacher Collins, que causou uma deformação em sua face,
deixando suas orelhas grandes e disformes. Isso fomentou a parte da lenda que
ela se tornava um ser deformado e que tinha que comer os fígados para se curar
dessa moléstia.
Algumas vezes que saiu de casa, Amélia
chegou a ser agredida verbalmente com frases como “Lá vem a papa-figo!”. Todos
esses boatos associado com o acometimento da doença fizeram com que Amélia se
tornasse uma pessoa ainda mais reclusa. Esse distanciamento social aumentou
ainda mais o mistério que a cercava. De acordo com o pesquisador Rostand
Medeiros, “consta que ela recebia poucas visitas, saía pouco de casa (até
porque tinha uma igreja na porta) e ainda sofria de uma estranha doença, onde
se comentavam que suas orelhas eram muito grandes”. Ela passou grande parte da
vida reclusa e isolada até sua morte, aos 100 anos de idade. Muitos se
questionaram se o hábito de comer o fígado das crianças teria sido o segredo de
tamanha longevidade.
Com o passar do tempo, a
Papa-Figo se transformou em uma ferramenta usada pelos pais para tentar domar e
educar seus filhos. Muitas mães para tentar corrigir seus filhos ainda noi dias
de hoje falam: “Me obedeça, menino, ou vou chamar a Viúva Machado para comer o
teu fígado!”.
Em certa ocasião Amélia chegou a
comentar sobre sua fama de Papa-Figo. Isso aconteceu quando o jornalista
Vicente Serejo do jornal “O Poti” a entrevistou em 1978. A matéria mostra que
Amélia era uma mulher muito reservada, mas muito sensível e bondosa, o que contrastava
com a imagem dela construída pelo imaginário popular.
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Amélia Duarte Machado - foto real |
✞A
casa da Viúva Machado✞
A casa onde a viúva Machado viveu
acabou se tornando um ponto turístico de Natal. Ela foi construída em 1910 por Jorge
Maranhão, irmão de Alberto Maranhão (ex-governador do Rio Grande do Norte) e
ficava no bairro Guarapes, bem a frente da Igreja do Rosário dos Pretos. Tem o
estilo Art Decó, com falsas colunas e falsas varandas. Manuel Machado adquiriu
esse imóvel em 1920 e nele viveu até sua morte, em 1934. Por muito tempo,
muitas pessoas evitaram passar em frente a casa, temendo a assustadora
Papa-Figo.
O palacete ainda existe e
pertence à família Machado. Por ser um imóvel particular não está aberto à
visitação. Além disso, empregados já relataram que a família não gosta muito
que aquele local seja associado com a lenda da Papa-Figo.
✞Estudo
da vida de Amélia✞
Toda a vida de Amélia Duarte
Machado, incluindo seu nascimento, matrimônio, viuvez e o surgimento da lenda
da “papa-figo” foi extremamente explorados e detalhadamente analisados em uma
dissertação de mestrado defendida por Ariane Medeiros na Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, intitulado como “Amélia Duarte Machado, a Viúva
Machado: a esposa, a viúva e a lenda na Cidade do. Natal (1900-1930)”. A autora
ainda contextualiza como eram as relações sociais da época, que culminaram com
o surgimento de toda a lenda. O trabalho pode ser consultado na íntegra no link
referenciado ao final desse texto.
✞Referências✞
A história está nos detalhes à https://cutt.ly/ogPiLOS
Amélia Duarte Machado, a Viúva
Machado: a esposa, a viúva e a lenda na Cidade do. Natal (1900-1930) à https://cutt.ly/YgGvbZk
Avante à https://cutt.ly/vgVQgah
Brechando à https://cutt.ly/9gJY0NW
Lendas do Rio Grande do Norte à https://cutt.ly/rgKOMxH
Natal das Antigas à https://cutt.ly/TgSW7CI
Nisia Floresta por Luis Carlos Freire
à https://cutt.ly/IgHswMQ