Tsug
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✞Chapada
do Zagaia✞
Serra da Canastra - MG |
A região mineira da Serra da
Canastra parece um paraíso na terra! Encantadoras cachoeiras, deliciosos
queijos e belíssimas montanhas são apenas algumas das várias atrações que podem
ser encontradas no local. Mas é justamente em uma dessas montanhas, mais
especificamente na Chapada do Zagaia, que surgiu uma das mais misteriosas
lendas que circundam o local.
A Chapada do Zagaia é um local
situado dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, mais especificamente entre
os municípios de São Roque de Minas e Sacramento. Muito antes de ele receber
esse nome, por volta do século XVIII, vários tropeiros, garimpeiros e
capangueiros utilizavam essa região como rota de suas jornadas. Ela era
considerada um ponto comercial estratégico devido proximidade com o Desemboque,
a comunidade mais próspera da região na época (atualmente Desemboque é
considerado um distrito do município de Sacramento). Além disso, esse era um trajeto
usado por muitos para transportar ouro escondido da coroa portuguesa, de forma
a evitar tributações como o quinto.
✞Uma
fazenda bem acolhedora! Mas...✞
Isolada no meio da chapada, havia
uma propriedade rural na qual muito desses transeuntes buscavam abrigo para
descansar e/ou pernoitar para depois continuarem sua jornada. Os proprietários
sempre recebiam todos com muita cordialidade, dando-lhes alimento e abrigo. Por
serem tão bem tratados, os visitantes mal imaginavam qual era a real intenção
daqueles anfitriões.
Os donos da fazenda sabiam que
aquela rota era de grande interesse comercial, logo os viajantes sempre levavam
consigo bens muito valiosos. Eles traziam consigo mercadorias para serem
comercializadas em outros povoados ou portavam o ouro resultante da venda
desses produtos. Com essas informações em mente, os fazendeiros elaboraram todo
um plano para atrair esses viajantes, ganhar sua confiança e depois se livrarem
deles para ficarem com seus pertences.
A estratégia era bastante
simples, mas infalível: os fazendeiros amarravam zangaias (armadilhas feitas
com uma roda de carro de boi repleta de lanças) acima de um teto falso (como se
fosse um forro de palha), bem na direção das camas. A outra ponta da corda
ficava no quarto dos anfitriões. Eles seguravam as zagaias pela corda,
utilizando-se em um sistema de roldanas. Assim que eles ouviam seus hóspedes
deitarem sob os colchões de palha, as cordas eram soltas e as zagaias caíam bem
no centro da cama, ceifando a vida de quem estivesse nela repousando. Depois
disso os fazendeiros pegavam tudo que tinha algum valor e os corpos das vítimas
eram desovados nos precipícios dessa chapada, eliminando qualquer evidência da
barbaridade que ali acontecida. Segundo relatos, várias ossadas foram
encontradas nos penhascos daquela região, dando ao local a fama de mal
assombrado.
De acordo com alguns relatos,
quando os fazendeiros percebiam que a mercadoria que os viajantes traziam não
era do seu interesse, a zagaia não era solta e era permitido que eles fossem
embora no dia seguinte. Quando eles retornassem de viagem e repousassem novamente
na fazenda, estariam repletos de ouro da venda dos produtos. Dessa forma, os
fazendeiros poderiam colocar o maléfico plano em prática e subtrair o ouro dos
viajantes.
✞Um
viajante põe fim àquela barbárie✞
Essa carnificina foi repetida
diversas vezes e perdurou por vários e vários anos, até que um dos viajantes
conseguiu por fim àquela brutalidade. Um tropeiro e dois filhos montados em
mulas haviam saído de Desemboque com uma carga de três carros puxados por bois.
A jornada tinha como destino o município de São João Del Rei, trajeto que
levaria aproximadamente um mês. Mas vários meses se passaram e eles ainda não
tinham voltado dessa empreitada. O filho mais novo, que havia ficado em casa,
decidiu então fazer o mesmo trajeto a procura de respostas sobre esse
desaparecimento. A única informação concreta que ele conseguiu foi que o grupo
havia sido visto pela última vez próximo ao município de Sacramento, ainda na
região da Serra da Canastra.
Após ele explorar exaustivamente
a região, ele encontrou a fatídica fazenda e decidiu pernoitar nela para
continuar com as buscas no dia seguinte. Ao questionar os proprietários sobre a
tropa liderada por seu pai, eles não souberam (ou melhor, não quiseram) informar
nada a respeito. Antes de ele seguir para seu quarto, uma jovem escrava o serviu
uma refeição. A beleza e bons modos daquela criada encantou o jovem tropeiro,
que a cortejou com presentes como fumo e tecidos. Ele também prometeu a ela que
depois de encontrar seus familiares desaparecidos, ele retornaria ali apenas
para revê-la.
Toda essa demonstração de carinho
tocou o coração da escrava. Ela então começou a chorar e implorou a ele que não
deitasse sobre a cama do seu quarto, mas sim debaixo dela. O jovem teria
estranhado e a questionou sobre o porquê daquele incomum pedido. A escrava não
encontrou outra alternativa a não ser revelar as perversidades que aconteciam
naquela fazenda. Além disso, ela também contou que o pai e irmãos dele haviam
sido vítimas da zagaia.
Saber tudo isso despertou uma
sede de vingança do jovem tropeiro. À noite ele cautelosamente mudou a posição
da cama dentro do quarto e, após deitar nela, os fazendeiros ouviram o som da
palha se mexendo e soltaram a zagaia. Dessa vez, ao invés de ceifar uma vida, a
zagaia chocou-se contra o chão. Na mesma noite, o jovem teria rendido e matado
os fazendeiros e seus comparsas, poupando apenas a escrava que foi embora da
fazenda junto a ele. E assim terminou a série de assassinatos que aconteciam entre
as montanhas da Serra da Canastra. Há também a versão “politicamente correta”
de que ele não teria se vingado dos fazendeiros com as próprias mãos, mas sim
ido até a localidade mais próxima para delatar aquelas barbáries às
autoridades.
De acordo com alguns registros,
alguns membros da fazenda conseguiram escapar do ataque do jovem. Eles teriam fugido
e se estabelecido posteriormente no Engenho de São João das Antas, onde hoje
fica o município de Anápolis-GO. Nesse local eles teriam retomado a nefasta
prática de atrair e assassinar viajantes para tomar os seus bens.
✞Atualmente✞
Por causa dessa lenda, o local
onde a fazenda era situada começou a ser chamado de Chapada da Zagaia. Atualmente,
algumas ruínas da antiga fazenda ainda podem ser encontradas no Parque Nacional
da Serra da Canastra, como pode ser observada nas fotos abaixo.
Como consequência dessa lenda, na
região da Serra da Canastra existe um ditado popular quando se alguém se refere
a algo ou algum acontecimento muito antigo: “Isso é da época do Zagaia!”
✞Referências✞
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