Tsug
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Introdução✞
A franquia “Sexta-feira 13”
talvez seja a série de filmes de terror mais famosa do subgênero slasher e
apresentou um dos personagens mais icônicos da cultura pop: o antagonista
mascarado Jason Voorhees.
Sucesso de público e bilheteria,
“Sexta-feira 13” rendeu 12 filmes e diversos outros produtos como action
figures, souvenirs, histórias em quadrinho e jogos eletrônicos. Entretanto, o
último filme da franquia estreou no ano de 2009 e, desde então, não houve mais nenhum
lançamento. Diante disso, fica a pergunta: por que uma franquia tão famosa e
com um público tão robusto está há tanto tempo sem lançar um filme, enquanto
outros filmes slashers como “Halloween” e “Massacre da Serra Elétrica”
continuam a produzir filmes nos dias de hoje? É exatamente sobre isso que vamos
discutir agora.
Essa seção pode conter alguns
spoilers sobre a franquia. Para evita-los, sugiro pular para a próxima seção.
Conforme abordado, a franquia
“Sexta-feira 13” conta com 12 filmes oficiais. O primeiro deles foi lançado em
1980 e é chamado apenas de “Sexta-feira 13”. Ele conta a história da reabertura
do acampamento Crystal Lake, que estava fechado há vários anos em virtude de
uma tragédia ocorrida com um casal que estava no local. Ao longo do filme, os
novos funcionários contratados vão desaparecendo um por um, e no final
descobre-se que a responsável por isso era Pamela Voorhees, ex-cozinheira de
Crystal Lake e mãe de Jason, um garoto que se afogou no acampamento há vários
anos devido negligência dos monitores.
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Pamela Voorhees, mãe de Jason |
Em “Sexta-feira 13 - Parte II” de
1981, vemos que Jason estava vivo e atacou um acampamento vizinho a Crystal
Lake para vingar sua mãe. Uma curiosidade desse filme é que Jason escondia sua
face com um saco de pano.
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Primeira máscara de Jason |
“Sexta-feira 13 - Parte III” foi lançado no ano seguinte, em 1982, e seguiu a saga de Jason perseguindo os jovens que buscavam por diversão em Crystal Lake. Nesse filme Jason começa a usar a famosa máscara de hockey após atacar um jovem que a usava.
O filme seguinte é intitulado
“Sexta-feira 13 – O Capítulo Final”. Lançado em 1984, ele mostra Jason
escapando do necrotério no qual ele havia sido levado no final do filme
anterior. Após sua fuga ele volta até Crystal Lake, onde continuou a onda de
barbáries até finalmente ser derrotado. Nesse filme é introduzido o personagem
Tommy Jarvis, que seria uma espécie de antagonista do Jason nos próximos
filmes.
No ano seguinte (1985) foi
lançado “Sexta-Feira 13 - Parte V: Um Novo Começo”. Mesmo após Jason partir,
Tommy ainda sofre alguns distúrbios devido às tragédias que ele vivenciou em
Crystal Lake. Então ele é levado a uma clínica psiquiátrica para se reabilitar,
mas os pacientes vão sendo encontrados sem vida um a um. Tommy suspeita que
Jason poderia ter voltado à vida e ser o responsável por aquilo, mas no final é
descoberto que o autor dos incidentes era o pai de um paciente que havia
falecido no local.
Em 1986 estreou “Sexta-Feira 13 -
Parte VI: Jason Vive”, no qual Tommy teve a brilhante ideia de desenterrar Jason em plena
sexta-feira 13 para ter certeza que ele não estava vivo. Nesse momento um raio
atinge Jason que milagrosamente volta à ativa. Mas no final Tommy consegue
aprisiona-lo no fundo do lago de Crystal Lake.
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Tommy Jarvis, arqui-inimigo de Jason |
“Sexta-Feira 13 - Parte VII: A Matança Continua” foi lançado em 1988. Nesse filme a adolescente Tina involuntariamente desperta Jason no fundo do lago com suas habilidades psíquicas. No final Tina usa os mesmos poderes para conseguir aprisiona-lo novamente no fundo do lago. Esse filme foi considerado uma tentativa velada de fazer um crossover entre Jason e Carrie a estranha.
Em “Sexta-Feira 13 - Parte VIII:
Jason Ataca em Nova York” (1989) um barco atracado em Crystal Lake atinge um
cabo de eletricidade e a descarga elétrica gerada revive Jason novamente. Jason
acaba como um tripulante da embarcação que tem Nova Iorque como destino final,
onde Jason faz o que ele sabe fazer de melhor nas ruas de Manhattan.
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Jason em Manhattan - NY |
Após o baixo desempenho de bilheteria e críticas da “Parte VIII”, o estúdio responsável pelos filmes, o Paramount Pictures, vendeu os direitos da franquia para a New Line Cinema. O primeiro filme produzido pelo novo estúdio foi “Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira” (1993). Por ser o filme de um novo estúdio alguns aspectos antigos da franquia foram ignorados enquanto outros novos foram introduzidos. Agora Jason possui a capacidade de se incorporar em outras pessoas, e seu objetivo principal é possuir sua meia-irmã. No final Jason é derrotado e acaba sendo puxado para o inferno por demônios.
O décimo filme da franquia é “Jason
X” (2002) e se passa em um futuro longínquo. Jason é abduzido para uma nave,
onde desperta e é derrotado pelos tripulantes. Mas ele é regenerado por um
equipamento futurístico e se transforma em um ciborgue imparável.
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Versão ciborgue de Jason em Jason X |
No ano seguinte foi lançado o crossover “Freddy vs. Jason” (2003). Freddy Krueger invade o sonho de Jason sob a forma de Pamela Voorhees e o faz cometer atrocidades pela cidade para as pessoas pensarem que Freddy estava de volta e assim ele ganhar mais força pelo medo gerado. Mas Freddy não consegue manipular Jason por muito tempo e após o zumbi de Crystal Lake saber que foi usado pelo mestre dos pesadelos, o confronto entre os dois fica inevitável.
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Freedy vs. Jason |
O último filme produzido foi o reboot de 2009 que recebeu o título simples de “Sexta-Feira 13”. O filme se foca em um jovem que vai até a abandonada Crystal Lake a procura da irmã desaparecida e se junta a um grupo que está no local à diversão. Mas a diversão dá lugar ao terror quando Jason entra em ação.
Atualmente a franquia está sob
posse da Horror Inc., estúdio cujo dono
é Sean S. Cunningham (diretor do filme original e produtor de várias
sequências), e a Warner Brothers é coproprietária da série. Mesmo
com mais uma mudança de estúdio, a franquia está a mais de 10 anos sem produzir
um novo filme. O motivo de um hiato tão prolongado pode ser explicado
por duas vertentes diferentes: batalhas jurídicas a dificuldades criativas.
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Batalhas Jurídicas ✞
Nos últimos anos a franquia teve que se manter congelada devido a uma disputa legal pelos direitos autorais da obra, iniciada em 2016 entre Sean S. Cunningham (diretor do filme original e produtor de várias sequências) e Victor Miller (roteirista do primeiro episódio da franquia). Victor Miller tenta a posse da franquia com base na Lei de Direitos Autorais de 1976, que diz que o autor original de uma obra pode solicitar o cancelamento de uma transferência dos direitos autorais 35 anos após a publicação original. Cunningham por sua vez afirma que Miller foi contratado apenas para prestar um serviço à produtora, no caso, escrever o roteiro, e portanto não tem nenhum direito de posse sobre a obra. Apesar disso, Cunningham afirma que Miller recebeu excessivas bonificações no passado que podem ter sido interpretadas como royalties e isso pode ter feito o roteirista imaginar que fosse um criador ou co-criador da obra. Caso seja provado que Miller exerceu apenas a função de roteirista contratado pelo estúdio, Cunningham provavelmente ganhará a causa e deterá os direitos autorais do filme e de seus personagens.
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Sean S. Cunningham |
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Victor Miller |
O tribunal inicialmente decidiu
que Miller detinha os direitos sobre “Sexta-feira 13”. Mas Cunningham apelou e
o caso voltou ao tribunal em fevereiro de 2020. Desde então ainda não houve uma
decisão oficial. Embora possam existir interesses em produzir novos filmes, o
processo entre Miller e Cunningham até agora impediu qualquer progresso
significativo nesse sentido.
Ainda não há algum posicionamento
oficial, mas um áudio gravado durante a Segunda Corte de Apelações em 13 de
fevereiro de 2020 sugere que os juízes não acreditavam no argumento de
Cunningham e estavam inclinados a decidir a favor de Miller (caso desejam ouvir
o áudio na íntegra, acessem o link colocado ao final do texto, na seção de
‘Referências’).
O tribunal pode decidir por três
caminhos diferentes: pode reafirmar a decisão inicial (a favor de Miller), pode
reverter a decisão e dar os direitos a Cunningham, ou devolver o caso para
julgamento no tribunal distrital. Independentemente da decisão, Cunningham ou
Miller tentarão apelar e mais rounds jurídicos acontecerão, atrasando ainda
mais qualquer projeto que envolva a produção de um novo filme.
A decisão estava prevista para
ser dada em junho de 2020, mas alguns fatores fizeram com que ela tivesse que
ser adiada. Um dos três juízes que avaliaram o caso (Ralph K. Winter) faleceu
no final de 2020. Como a decisão exige maioria de votos, é possível que os
outros dois juízes tenham tomado decisões distintas e com isso Winter daria o
voto de minerva. Mas com a morte de Winter, o caso foi considerado indeciso e
precisou ser transferido para análise por outro tribunal. Ainda é possível que Winter
fosse o juiz considerado redator principal do caso, ou seja, responsável por
redigir o texto com a chamada “decisão longa”. Nesse texto o juiz detalha e
fundamenta a decisão que ele achou mais justa, enquanto os outros dois juízes
(que não são considerados redatores) apenas concordam ou discordam com a
decisão do redator e não precisam elaborar uma resposta tão robusta. Se for
esse o caso, o processo pode demorar ainda mais, pois outro juiz deve assumir o
papel de redator e elaborar uma nova “decisão longa”. Outro motivo para a
demora judicial seria a pandemia pelo coronavírus. Muitos sistemas judiciais
norte-americanos sofreram bloqueios sanitários que culminaram no atraso de
prazos.
Recentemente uma informação de
bastidores sobre o caso veio à tona. Corey Feldman que interpretou “Tommy
Jarvis”, admitiu ter novidades sobre o caso. Feldman afirmou ter obtido
informações de um advogado envolvido na batalha judicial. Segundo o relato,
todas as questões legais já estavam resolvidas e Feldman já estava na
expectativa de novamente confrontar Jason na pele de Tommy.
Outra batalha jurídica,
independente da briga entre Cunningham e Miller, ocorre na justiça desde
janeiro de 2021. De acordo com a revista “The Hollywood Reporter”, Cunningham
lançou um processo contra os estúdios Paramount e Warner Bros para discutir a
divisão dos lucros líquidos referente ao remake lançado em 2009. O produtor
afirma que os estúdios usaram deduções impróprias de taxas e bônus, licenças
subvalorizadas, subnotificação de receita de merchandising e receita de TV paga
para diminuir sua parcela do lucro.
É certo que enquanto essas
disputas jurídicas não forem resolvidas não há a possibilidade de se pensar na
realização de um novo “Sexta-feira 13”.
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Dificuldades Criativas✞
Obviamente que uma paralisação de
10 anos é um tempo suficiente para que os fãs se oxigenassem e sentissem falta
da franquia. A dificuldade agora seria o que abordar em um novo filme. Como já
mostrado, Jason já foi exaustivamente usado nas mais diversas situações, dando
as caras desde Manhattan e até no espaço sideral. Apresentar uma ideia criativa
após enredos discrepantes como esses seria um enorme desafio. Outra ideia seria
abordar um roteiro mais clássico, com Jason voltando a aterrorizar o
acampamento de Crystal Lake. Mas o excesso de filmes com essa temática, como
“Acampamento Sinistro”, “Rua do Medo” e os próprios filmes iniciais da franquia
“Sexta-feira 13” pode fazer com que o interesse do público não seja o esperado.
Nenhuma das abordagens parece perfeita, então os cineastas podem ter alguma
dificuldade em qualquer tentativa de fazer outro filme de “Sexta-feira 13”.
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Jogos✞
Apesar das batalhas judiciais que
obrigaram a franquia permanecer paralisada no momento, alguns jogos envolvendo
o filme “Sexta-feira 13” e o personagem Jason foram lançados. Como isso foi
possível?
Em maio de 2017 foi lançado o
game “Friday the 13th : The Game”. A essa altura os direitos ainda estavam em
segurança, o que permitia com que o lançamento fosse legal. Entretanto, com o
prolongamento da disputa jurídica qualquer tipo de lançamento foi impedido. Por
causa disso, o game continua existindo, mas não pode receber nenhuma
atualização. Esse mesmo motivo permitiu que Jason fosse colocado como um
personagem de “Mortal Kombat X” (2015). Mas no “Mortal Kombat 11” (2019) o
personagem não estava mais incluído.
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Novos filmes?✞
Para aqueles que são fãs de
filmes de terror, a perspectiva em relação a um novo “Sexta-feira 13” a
curto-médio prazo são baixas. Entretanto existem algumas alternativas para que
os órfãos da franquia possam matar um pouco da saudade enquanto as pendências
jurídicas são resolvidas. O canal do Youtube “Womp Stomp Films” já produziu
dois filmes não oficiais baseados na história original de Jason. Trata-se de “Never Hike Alone”
(2017) e “Never Hike in the Snow” (2020). O canal “Wet Paint Pictures” lançou
filme intitulado “Voorhees” (2020)
Da mesma forma, no Youtube também
foi lançado o filme “Jason Rising: A Friday the 13th” (2021) pelo canal que
leva o mesmo nome. Apesar de serem filmes independentes, o produto apresenta
uma grande qualidade cinematográfica, à altura de vários filmes que são
lançados nas telonas. Para conferir esses filmes, basta preparar a pipoca e dar
play nos vídeos a seguir:
Never Hike Alone (2017)
Never Hike in the Snow (2020)
Voorhees (2020)
Jason Rising: A Friday the 13th(2021)
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Referências✞
Adoro Cinema à https://bit.ly/3iEFfJR
Certified Forgotten à https://bit.ly/3izOwTo
Comic Con à https://bit.ly/3jEw9fp
Horror Inc v. Miller Oral
Argument (Áudio da Corte) à https://bit.ly/3xBE1TX
Jason Rising: A Friday the 13th à https://bit.ly/3j4jx1V
Looper à https://bit.ly/3AmArP7
Never Hike Alone à https://bit.ly/3AyDeVF
Never Hike in the Snow à https://bit.ly/3CDa2yB
Voorhees à https://bit.ly/2XFV76F
Wikipedia à https://bit.ly/3xI8H5R
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