quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

CAPETA DO VILARINHO - A manifestação do diabo em um baile!

Gustavo Valente


Avenida Vilarinho e a Quadra do Vilarinho

A Avenida Vilarinho é uma das principais avenidas do bairro Venda Nova em Belo Horizonte. Por lá, sempre funcionaram muitos forrós, gafieiras e bailes de todos os tipos e gostos. Foi num desses bailes no final da década de 80, mais precisamente em um baile de forró da Quadra do Vilarinho, que teria acontecido a história que deu origem a essa lenda.

Dentre todos os salões, a “Quadra do Vilarinho” se destacava quanto à popularidade. Inaugurado em outubro de 1982 como um conjunto de quadras de futsal, a “Quadra do Vilarinho” começou a receber bailes populares em janeiro de 1983, quando o proprietário (Francisco Filizzola) passou a ser procurado por donos de equipes de som interessados em realizar esse tipo de eventos para atrair os jovens.  

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O dançarino misterioso

Em um sábado à noite, dezembro do ano de 1988, um rapaz bem apresentado adentrou o salão da famosa “Quadra do Vilarinho”, usando chapéu e gravata. Não demorou muito para que ele convidasse uma das moças presentes para dançar. Apesar do indivíduo ser estranho à comunidade que sempre frequentava o salão, ele não despertou nenhum tipo de estranheza entre os presentes, dada a forma cordial apresentada por seu comportamento e modo de vestir. Por causa disso, a garota aceitou o convite.

Após dar os primeiros passos da dança, a moça imediatamente percebeu que o rapaz tinha uma desenvoltura acima da média. Dessa forma, ela decidiu participar de um concurso de dança que iria ocorrer na quadra naquela noite, e ele a acompanhou. O casal dançou por longo tempo, com o rapaz demonstrado um excelente desempenho em vários estilos de danças diferentes, surpreendendo a todos os presentes. Mesmo sem um entrosamento prévio da dupla, eles conseguiram ficar em 2º lugar no concurso.


O capeta se revela

Resultado de imagem para capeta vilarinhoUm 2º lugar em um concorrido concurso de dança seria motivo de orgulho e alegria para a maioria das pessoas, mas essa colocação se tornou o motivo o terror e medo acontecido naquela noite. Ao saber o resultado, o rapaz alterou completamente seu comportamento e se enfureceu por não ter ficado em 1º. Após o ataque de nervos, ele voltou sua atenção para sua parceira, olhando-a como um semblante como se estivesse culpando-a pela perda do concurso. Na sequência, o indivíduo deixou enfurecido, a pista de dança. A moça então teria tentado puxá-lo pelo braço (ou acariciar seu rosto) numa tentativa de acalmá-lo. Nesse momento tudo se revelou! Sem querer, sua parceira fez com que o chapéu caísse ao chão, revelando a presença de chifres na cabeça do homem. A moça então disparou um grito apavorante que chamou a atenção de todos na quadra. Após as pessoas também observarem aquela visão assustadora, uma histeria coletiva foi iniciada no local. Em meio à confusão, o capeta teria começado a correr pela quadra, buscando refúgio em um dos banheiros da quadra. Relatos indicam que alguns dos presentes conseguiram perceber durante a fuga que o dançarino tinha patas de bode. A própria parceira de dança após ter visto os chifres também teria percebido essa característica. Alguns corajosos ainda tentaram ir atrás do capeta no banheiro, mas ao entrarem, os perseguidores nada encontraram. Misteriosamente o dançarino havia sumido e o local estava com um cheiro de enxofre muito forte. Enquanto voltavam para a quadra, eles perceberam que o capeta ainda estava lá, correndo em direção à saída. Um dos porteiros que controlava o fluxo de pessoas na quadra ainda tentou deter o dançarino, se colocando entre ele e a saída. Mas o capeta desferiu um golpe que deixou o porteiro no chão, conseguindo dessa forma ter uma fuga bem sucedida. A partir daí, o Capeta do Vilarinho nunca mais foi visto.


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Relatos

O professor Ricardo Malta afirma em entrevista ao programa “Terra de Minas” da Rede Globo Minas que estava presente na quadra no dia do ocorrido, sendo ele o vencedor do concurso de dança daquela noite. Ele ainda relata que o capeta era um cara “diferente do meio que frequentava a quadra e chamava muito atenção das mulheres”. Ainda segundo Ricardo, o indivíduo era “Loiro, com olhos claros, alto, de chapéu e bem vestido”. Ele ainda reparou que o rapaz tinha os pés muito pequenos para altura. Cerca de 5 anos após ver o capeta, Ricardo perdeu a visão, e ele não descartou a possibilidade disso ter relação com o ocorrido naquela noite de 1988.

Maciel da Trindade, o porteiro da quadra do Vilarinho, até hoje tem a cicatriz em sua perna proveniente do golpe recebido enquanto tentava impedir a fuga do capeta. Ele ainda afirma que não sabe se o individuo que o atacou era o capeta ou não, mas todos que estavam na quadra naquele dia diziam ter certeza que se tratava do Capeta do Vilarinho.





Repercussão

A notícia se espalhou rapidamente em Venda Nova, chegando ao conhecimento de estações de rádio e canais de TV da cidade. Repórteres foram enviados ao local para tentar captar, sem sucesso, uma nova aparição do capeta. Mesmo com a falta de provas concretas, a história ganhou grande conhecimento e fama na cidade, sendo conhecida como “A lenda do Capeta do Vilarinho”.

Na mídia, o tradicional quadrinista Celton (Lacarmélio Alfeu de Araújo), que percorre os semáforos de Belo Horizonte vendendo seus HQ’s, já desenhou 3 edições contando a história do Capeta do Vilarinho.

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O humorista e radialista mineiro Pascoal compôs um funk em homenagem ao suposto capeta. O refrão de tal funk repetia:

"só quero dançar…
só mais um pouquinho
só quero dançar…
só quero dançar…
lá no vilarinho!"



A loja online "Made in BH", especializada na fabricação e comércio de produtos que remetem à temática de Belo Horizonte, vendem um molho de pimenta chamado de  "Capeta do Vilarinho", em alusão a famosa lenda da cidade

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A verdade

Se você quer continuar achando que a lenda do Capeta da Vilarinho tem todo um lado místico e oculto, talvez seja melhor encerrar sua leitura por aqui. Mas se deseja acompanhar a conclusão da investigação, faz-se necessário a leitura dos parágrafos a seguir.

Segundo o professor Ricardo, que havia derrotado o capeta no concurso de dança, tudo não passa de uma história entre amigos, que após ser contada e recontada várias vezes, acabou se tornando uma “verdade”. Em 1988, um dos frequentadores da quadra havia consumido uma quantidade considerável de bebida alcóolica e ao final do baile, ele colocou em sua cabeça que havia ladrões dentro da quadra. Mas após chamar a polícia seu relato mudou, pois ele informava aos policias que estava vendo vultos. Na presença dos policiais, o indivíduo também começou a dizer que o capeta estava por ali. Ao perceber o estado do rapaz, os policiais não deram mais atenção a ele e voltaram para a delegacia, onde eles contaram a história para os outros policiais, que contaram para outras pessoas, e assim a lenda foi tomando forma e se espalhando.

O proprietário da quadra, Francisco Filizzola, também confirma que a lenda foi apenas uma história inventada: "Por volta de 1989 estávamos passando por dificuldades financeiras, precisávamos de uma história que nos daria mídia espontânea. Criamos então o capeta da Vilarinho, ligamos para um jornalista e deu certo, depois que o boato se espalhou, vários jornais e rádios nos procuraram". Francisco também confirma a versão contada pelo professor Ricardo, em que um amigo embriagado, conhecido como ronda Barão, inventou para policiais que havia um capeta na quadra: “Mandei ligar para a polícia e para uma emissora de rádio, que jogou a notícia imediatamente no ar”.




Referências

Jornal O Tempo à https://goo.gl/r7iTCa
Made in BH à https://goo.gl/2RdXBw
O Calafrio à https://goo.gl/2h8vba
Portal R7 à http://r7.com/d5RZ
Portal Uai à https://goo.gl/fKYxut

Um comentário:

  1. Adorei aprender mais sobre lendas urbanas da minha cidade!
    Parabéns pelo blog e sucesso

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