Gustavo Valente
Avenida Vilarinho e a Quadra do Vilarinho
A Avenida Vilarinho é uma das
principais avenidas do bairro Venda Nova em Belo Horizonte. Por lá, sempre
funcionaram muitos forrós, gafieiras e bailes de todos os tipos e gostos. Foi
num desses bailes no final da década de 80, mais precisamente em um baile de
forró da Quadra do Vilarinho, que teria acontecido a história que deu origem a
essa lenda.
Dentre todos os salões, a “Quadra
do Vilarinho” se destacava quanto à popularidade. Inaugurado em outubro de 1982
como um conjunto de quadras de futsal, a “Quadra do Vilarinho” começou a
receber bailes populares em janeiro de 1983, quando o proprietário (Francisco
Filizzola) passou a ser procurado por donos de equipes de som interessados em
realizar esse tipo de eventos para atrair os jovens.

O dançarino misterioso
Em um sábado à noite, dezembro do
ano de 1988, um rapaz bem apresentado adentrou o salão da famosa “Quadra do
Vilarinho”, usando chapéu e gravata. Não demorou muito para que ele convidasse
uma das moças presentes para dançar. Apesar do indivíduo ser estranho à
comunidade que sempre frequentava o salão, ele não despertou nenhum tipo de
estranheza entre os presentes, dada a forma cordial apresentada por seu comportamento
e modo de vestir. Por causa disso, a garota aceitou o convite.
Após dar os primeiros passos da
dança, a moça imediatamente percebeu que o rapaz tinha uma desenvoltura acima
da média. Dessa forma, ela decidiu participar de um concurso de dança que iria
ocorrer na quadra naquela noite, e ele a acompanhou. O casal dançou por longo
tempo, com o rapaz demonstrado um excelente desempenho em vários estilos de
danças diferentes, surpreendendo a todos os presentes. Mesmo sem um
entrosamento prévio da dupla, eles conseguiram ficar em 2º lugar no concurso.
O capeta se revela

Relatos
O professor Ricardo Malta afirma
em entrevista ao programa “Terra de Minas” da Rede Globo Minas que estava
presente na quadra no dia do ocorrido, sendo ele o vencedor do concurso de
dança daquela noite. Ele ainda relata que o capeta era um cara “diferente do
meio que frequentava a quadra e chamava muito atenção das mulheres”. Ainda
segundo Ricardo, o indivíduo era “Loiro, com olhos claros, alto, de chapéu e
bem vestido”. Ele ainda reparou que o rapaz tinha os pés muito pequenos para
altura. Cerca de 5 anos após ver o capeta, Ricardo perdeu a visão, e ele não descartou
a possibilidade disso ter relação com o ocorrido naquela noite de 1988.
Maciel da Trindade, o porteiro da
quadra do Vilarinho, até hoje tem a cicatriz em sua perna proveniente do golpe
recebido enquanto tentava impedir a fuga do capeta. Ele ainda afirma que não
sabe se o individuo que o atacou era o capeta ou não, mas todos que estavam na
quadra naquele dia diziam ter certeza que se tratava do Capeta do Vilarinho.
Repercussão
A notícia se espalhou rapidamente
em Venda Nova, chegando ao conhecimento de estações de rádio e canais de TV da
cidade. Repórteres foram enviados ao local para tentar captar, sem sucesso, uma
nova aparição do capeta. Mesmo com a falta de provas concretas, a história ganhou
grande conhecimento e fama na cidade, sendo conhecida como “A lenda do Capeta
do Vilarinho”.
Na mídia, o tradicional
quadrinista Celton (Lacarmélio Alfeu de Araújo), que percorre os semáforos de
Belo Horizonte vendendo seus HQ’s, já desenhou 3 edições contando a história do
Capeta do Vilarinho.
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O humorista e radialista mineiro
Pascoal compôs um funk em homenagem ao suposto capeta. O refrão de tal funk
repetia:
"só quero dançar…
só mais um pouquinho
só quero dançar…
só quero dançar…
lá no vilarinho!"
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A verdade
Se você quer continuar achando
que a lenda do Capeta da Vilarinho tem todo um lado místico e oculto, talvez
seja melhor encerrar sua leitura por aqui. Mas se deseja acompanhar a conclusão
da investigação, faz-se necessário a leitura dos parágrafos a seguir.
Segundo o professor Ricardo, que
havia derrotado o capeta no concurso de dança, tudo não passa de uma história
entre amigos, que após ser contada e recontada várias vezes, acabou se tornando
uma “verdade”. Em 1988, um dos frequentadores da quadra havia consumido uma
quantidade considerável de bebida alcóolica e ao final do baile, ele colocou em
sua cabeça que havia ladrões dentro da quadra. Mas após chamar a polícia seu
relato mudou, pois ele informava aos policias que estava vendo vultos. Na
presença dos policiais, o indivíduo também começou a dizer que o capeta estava
por ali. Ao perceber o estado do rapaz, os policiais não deram mais atenção a
ele e voltaram para a delegacia, onde eles contaram a história para os outros
policiais, que contaram para outras pessoas, e assim a lenda foi tomando forma
e se espalhando.
O proprietário da quadra,
Francisco Filizzola, também confirma que a lenda foi apenas uma história
inventada: "Por volta de 1989 estávamos passando por dificuldades
financeiras, precisávamos de uma história que nos daria mídia espontânea.
Criamos então o capeta da Vilarinho, ligamos para um jornalista e deu certo,
depois que o boato se espalhou, vários jornais e rádios nos procuraram".
Francisco também confirma a versão contada pelo professor Ricardo, em que um
amigo embriagado, conhecido como ronda Barão, inventou para policiais que havia
um capeta na quadra: “Mandei ligar para a polícia e para uma emissora de rádio,
que jogou a notícia imediatamente no ar”.
Referências
Adorei aprender mais sobre lendas urbanas da minha cidade!
ResponderExcluirParabéns pelo blog e sucesso