Tsug
O blog "Cabana do Terror" agora tem um canal no Youtube! Confira a matéria a lenda da Loira do Bonfim, clicando no play abaixo:
✞ Bairro Bonfim ✞
Bairro Bonfim - BH |
O cemitério, marco inicial do
bairro, foi construído pela determinação da Comissão Construtora da Nova
Capital, como forma de evitar que os defuntos fossem sepultados na região
central. Inicialmente os mortos eram enterrados no adro da Matriz de Nossa
Senhora da Boa Viagem, mas logo foi ordenada a utilização de um cemitério
provisório no espaço onde hoje cruzam as ruas Rio de Janeiro, Tamoios, São
Paulo, Tupis e Avenida Amazonas. Após o erguimento do Cemitério do Bonfim
(170.036 m²) numa área além do perímetro urbano (delimitado pela atual Avenida
do Contorno) conhecida como "Alto dos Meneses", os sepultamentos foram
transferidos para lá.
Em 1909 foram instaladas linhas
férreas que ligavam o bairro Bonfim ao centro de Belo Horizonte. Esse foi o
principal meio de transporte coletivo do município até a década de 60, já que,
no dia 30 de julho de 1963, as seis linhas remanescentes de bondes fizeram sua
última viagem e os trilhos foram retirados das ruas da capital.
A boemia é outro traço marcante
do bairro Bonfim. Tradicionalmente, a região sempre foi conhecida pelos
numerosos bares e cabarés, que agitavam a vida noturna da cidade de Belo
Horizonte.
Atualmente, o bairro Bonfim mantém a paisagem urbana da
época de sua fundação, ilustrada pelos antigos galpões, lojas, casarões e casas
centenárias. Segundo estimativas, o bairro possui cerca de 6 mil moradores.
✞ Loira do Bonfim ✞
Uma lenda urbana surgida na
década de 40, talvez a mais conhecida de Belo Horizonte, também é muito
marcante na história do bairro Bonfim. Segundo relatos, existia uma mulher
loira muito atraente que usava vestido branco e frequentava bares e pontos de bonde
da região central da cidade pela madrugada. Após atrair a atenção de boêmios,
ela pedia para que eles a acompanhasse com o bonde até sua casa, situada no
bairro Bonfim. Sem resistir ao assédio, as vítimas seguiam com a loira até esse
destino. Mas ao chegar à porta do cemitério, a mulher revelava que aquela era
sua morada e misteriosamente desaparecia, causando pavor nos acompanhantes.
Inicialmente, condutores do bonde
temiam o expediente de madrugada e as pessoas buscavam outros meios de
transporte para evitar a loira. Com o passar dos tempos e a popularização dos
automóveis, a lenda começou a assombrar os taxistas de Belo Horizonte. Diversos
taxistas já relataram ter transportado loiras até o Bonfim durante a madrugada,
que simplesmente desapareciam após passar pelo portão do cemitério.
✞ Relatos ✞
Em certa ocasião, uma loira se
dirigiu a uma delegacia do bairro Lagoinha (bairro ao lado do Bonfim) onde
pediu a um policial que a acompanhasse a sua casa. Porém, chegando ao Cemitério
do Bonfim, ela anunciou que aquela era sua casa e novamente desapareceu.
Um taxista também admitiu ter
conduzido uma loira, que usava roupas brancas, do bairro Mangabeiras até o
Cemitério do Bonfim, onde tudo teria acontecido. Durante o percurso, ele tentou
puxar papo com ela, mas a mulher dava curtas respostas e demonstrava ansiedade
em chegar ao destino. Assim que o táxi entrou pela Rua Bonfim (a principal rua
do bairro que leva até ao cemitério), o carro se encheu de um perfume muito
forte de cravo, e a loira passou a falar com uma voz diferente, melancólica, se
mantendo sempre cabisbaixa e evitando respostas muito longas. Chegando ao
endereço passado pela loira, o taxista percebe que se tratava da porta do
Cemitério do Bonfim. Encabulado com aquilo, o motorista olhou para o cemitério,
e logo voltou sua atenção para o retrovisor para ver a moça no banco de trás.
Mas para aumentar seu pavor, a passageira não estava no interior do carro. Ela
já se encontra fora do veículo, de costas, vestindo uma camisola longa desfeita
em trapos, com os cabelos desgrenhados e cheios de terra, caminhando rumo aos
portões do cemitério. Por impulso, ele saiu do carro e foi até ela. Mas quando
ela se virou, o taxista percebeu que seu rosto tinha uma aparência macabra: com
olhos fundos e roxos, algodão nos ouvidos e nariz e marcas de pontos no pescoço
descendo ao peito. Ao ver essa cena, o taxista fugiu, enquanto a loira
continuou sua caminhada até o interior do cemitério.
Há também os que juram que a
loira não passa de um vulto meio indefinido que aparece para os frequentadores
das regiões boêmias existentes nas imediações do bairro do Bonfim
Em abril de 2001, uma mulher
loira vestida de branco, com chumaços de algodão no ouvido e aparência
assustadora foi vista ao arredor do cemitério, tentando invadir casas do bairro
Bonfim. Uma das moradoras, Maria das Graças Rodrigues dos Santos (40 anos), relatou
o que seu marido viu após sair para trabalhar:
"Ele disse que achou estranho porque viu uma mulher com aparência de fantasma andando pela rua."
Mas após investigação da vizinhança,
logo foi descoberto que aquilo não se passava de uma atuação. Um grupo de
atores haviam ido até a região para encenar a lenda da "Loira do
Bonfim". Fantasiados até de policiais, eles circularam pelo local. O
aposentado Marcos William Dias, de 60 anos, contou que viu a mulher e achou
graça:
“Bom, era muita coincidência uma loira no cemitério e logo à noite. Acho que lendas não se repetem"
Já a promotora de vendas, Michele Reis, de 36,
disse que alguns moradores ficaram muito assustados, mas logo acharam graça
quando tudo foi esclarecido:
"Todo mundo saiu para a rua suspeitando da história. Alguns apreensivos e outros doidos para verem a loira".
✞ Teorias ✞
Dirceu Pereira |
Acredita-se que a fama da lenda
da “Loira do Bonfim” tenha apresentado um auge na década de 80, em virtude do
programa “O Povo na TV” da TV Alterosa. Apresentado por Dirceu Pereira, era um
programa muito sensacionalista, que buscava manter e ganhar audiência por meio
de temas polêmicos. Dessa forma, “O Povo na TV” resgatou a lenda da “Loira do
Bonfim”, rendendo-a por vários programas o que contribuiu para sua difusão e
popularização. Em diversas ocasiões, a equipe do programa se reuniu com os
telespectadores em vigílias no Cemitério do Bonfim à meia-noite a procura da
loira. Alguns dos presentes relataram a aparição de vultos, sensações
estranhas, uma atmosfera ruim, ruídos e barulhos de corrente. Mas nunca foi
obtida nenhuma prova mais concreta da existência da loira.
Segundo alguns relatos, essa
loira poderia ser uma noiva que havia sido abandonada pelo amado no altar da
igreja, no dia do casamento. Inconformada com aquele infortúnio, ela cometeu
suicídio e foi sepultada no cemitério do Bonfim. Desde então, a alma vaga por
Belo Horizonte à procura de um noivo.
Alguns coveiros e marmoristas do
Bonfim acreditam que ela seria na verdade uma travesti que perambulava pelo
bairro boêmio, cujo pai trabalhava no cemitério.
Há quem diga que essa loira poderia
ser uma das muitas prostitutas que atuam na região do Mangabeiras, nas
imediações da avenida Afonso Pena, provavelmente morta por ali em seu
"trabalho" e enterrada no Bonfim. Por causa disso, ela pegaria taxis
no bairro das Mangabeiras até o cemitério.
✞ Mídias ✞
A lenda da “Loira do Bonfim” foi
exaustivamente narrada por cronistas e radialistas da cidade, chegando
inclusive às telas do cinema através de um curta-metragem de 10 minutos,
dirigido e produzido por Ricardo Horta em 1998.
O poeta Carlos Drummond de
Andrade faz menção a esse mito belo-horizontino em seu poema “Canção da
Moça-Fantasma de Belo Horizonte”, incluído no livro “O Sentimento do Mundo”,
cujos versos dizem:
“Eu sou a Moça-Fantasma / que espera na Rua do Chumbo / o carro da madrugada. / Eu sou branca e longa e fria, / a minha carne é um suspiro / na madrugada da serra. / Eu sou a Moça-Fantasma. / O meu nome era Maria, / Maria-Que-Morreu-Antes. / Sou a vossa namorada / que morreu de apendicite, / no desastre de automóvel / ou suicidou-se na praia / e seus cabelos ficaram / longos na vossa lembrança. / Eu nunca fui deste mundo: / Se beijava, minha boca / dizia de outros planetas / em que os amantes se queimam / num fogo casto e se tornam / estrelas, sem ironia. / Morri sem ter tido tempo / de ser vossa, como as outras.”
“(...) As moças que ainda estão vivas / (hão de morrer, ficai certos) / têm medo que eu apareça / e lhes puxe a perna... Engano. / Eu fui moça, Serei moça / deserta, per omnia saecula. / Não quero saber de moças. / Mas os moços me perturbam. / Não sei como libertar-me. / Se o fantasma não sofresse, / se eles ainda me gostassem / e o espiritismo consentisse, / mas eu sei que é proibido / vós sois carne, eu sou vapor. / Um vapor que se dissolve / quando o sol rompe na Serra. / Agora estou consolada, / disse tudo que queria, / subirei àquela nuvem, / serei lâmina gelada, / cintilarei sobre os homens. / Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna, / (estrelas não se compreendem), / ninguém o compreenderá.”
O escritor e ilustrador galego
Miguelanxo Prado (Corunha, Galiza, 1958) produziu “Belo Horizonte” para a
coleção Cidades Ilustradas, da editora Casa 21, obra lançada em 2003, cujo
enredo trata de uma mulher loira que morava no cemitério do Bonfim, e por quem
o protagonista, um espanhol enviado a Belo Horizonte por sua empresa, se encheu
de amores.
Lacarmélio Alfeo de Araújo, o
famoso quadrinista de rua da cidade de Belo Horizonte conhecido como Celton,
desenhou uma edição de seus quadrinhos em 1998 no qual a “Loira do Bonfim” era a
protagonista.
Na loja online “Made in BH” é
possível encontrar alguns souvenirs como capinhas de celular e até mesmo
cerveja artesanal em alusão à lenda da “Loira do Bonfim”.
✞ Referências ✞
Nenhum comentário:
Postar um comentário