segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

PROCISSÃO DAS ALMAS - Assombrando as ruas de cidades históricas!

Tsug

O blog "Cabana do Terror" agora tem um canal no Youtube! Confira a matéria sobre a Procissão das Almas em formato de vídeo, clicando no play abaixo:






Tradição religiosa de Sabará

Sabará é um tricentenário município do estado de Minas Gerais, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Assim como os demais municípios históricos mineiros, em Sabará as festividades religiosas, basicamente as católicas, são celebradas a partir da realização de procissões. Procissões religiosas geralmente são caracterizadas por uma marcha solene em que padres e outros clérigos desfilam carregando imagens veneráveis, seguidos pelos fiéis que acompanham o cortejo rezando e com velas acessas.
A maioria das procissões católicas concentram-se no período da quaresma, que compreende os 40 dias entre a quarta-feira de cinzas e a Páscoa. E foi em uma dessas procissões quaresmais ocorridas em Sabará que um fato incomum veio a ocorrer, segundo o arquivo “Assombrações, Minas de Ouro, Anedotas e Tipos Populares de Sabará”, publicado pela professora sabarense, Maria de Lourdes Guerra Machado.


Procissão da Sexta-feira da Paixão de Cristo

Lendas Brasileiras] "Procissão das Almas" | Verbalizando 📚 AminoNo século XVIII, havia uma senhora que morava na Rua Dom Pedro II, uma das principais vias do centro histórico de Sabará. Maria Leocádia, mais conhecida como Dona Sinhá, era uma costureira solteira e sem família, que morava só em uma humilde casa. Porém, ela tinha uma fama de fofoqueira e bisbilhoteira, por sempre ficar na janela de sua casa observando tudo que acontecia na rua.

Na Sexta-Feira da Paixão, à meia-noite, dona Sinhá começou a ouvir uma movimentação vinda da rua. Para não perder o costume, logo ela abriu a janela para fuxicar o que estaria acontecendo naquela hora. Tratava-se de uma procissão que seguia ladeira acima, assim como as demais que ocorriam na Semana Santa que subiam a Rua Dom Pedro II na direção da Igreja de Nossa Senhora do Rosário ou da Igreja de São Francisco. Os fiéis estavam vestidos de branco, e todo o cortejo era liderado pelo único indivíduo que segurava uma vela acessa e estava de vestes pretas. Ao passar próximo à casa de dona Sinhá, ele se aproximou da janela entregando a vela a ela e dizendo para não apaga-la, pois eles iriam retornar para busca-la no sábado de Aleluia. Feito isso, a procissão seguiu normalmente pela Rua Dom Pedro II.

Intrigada com o acontecido, a velha pôs a vela sobre a mesa e a apagou.

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Procissão do Sábado de Aleluia

Após acordar no outro dia, Dona Sinhá havia percebido que a vela não estava mais na mesa. No local onde ela havia a deixado, estava um osso de perna humana. Mesmo assustada com o que havia acontecido, ela esperou a procissão passar no Sábado de Aleluia, para entregar o osso ao homem de manto preto.

Conforme prometido, à meia-noite novamente o cortejo passou pela ladeira, e dona Sinhá teve a chance de devolver o osso. Ao recebê-lo, o líder da procissão disse que aquela tinha sido a primeira e última vez que ela os veria pela janela. Dito isso, a procissão seguiu seu rumo.

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Consequências

Após esses acontecimentos, todos os dias à meia-noite, dona Sinhá ficava na janela de sua casa na esperança de ver a procissão novamente. Porém, após 3 meses, ela faleceu. Após sua morte, algumas pessoas relataram já terem presenciado algumas procissões pela Rua Dom Pedro II no período de quaresma,  com Dona Sinhá sendo um dos fiés que seguia ladeira acima de vestes brancas.

Desde então, essa lenda ficou conhecida como “A Procissão das Almas de Sabará”






Procissão do Miserere em Mariana

No livro “Lendas Marianenses” de 1966, escrito por Waldemar de Moura Santos (um dos fundadores da Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras)  e editado pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, há o relato de uma lenda no município de Mariana-MG bastante parecida com “A Procissão de Almas de Sabará”, chamada de “Procissão do Miserere” (Miserere: do latim, misericórdia). A principal diferença entre os contos, além do local de ocorrência, se dá pelo fato da velha fofoqueira ter morrido de susto ao ver que a vela havia se transformado em osso.

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Desde então, uma das principais atrações da Semana Santa de Mariana há quase quatro décadas, é a realização da “Procissão das Almas” que ocorre na madrugada entre a Sexta-feira da Paixão e Sábado de Aleluia. Na ocasião, pessoas tem a oportunidade de reviver a “Procissão do Miserere” e saem nas ruas históricas do município vestidas de branco, com velas nas mãos e arrastando correntes. O cemitério da Igreja de Nossa Senhora dos Anjos é o ponto de partida e chegada do cortejo, e a duração do evento é de aproximadamente 2 horas. Durante o trajeto, a banda União XV de Novembro acompanha os participantes ao som da marcha fúnebre “O Lamento” (Aníbal Walter), entoada por bumbos, matracas e instrumentos de sopro. A escolha da marcha é uma homenagem ao músico Antônio Norberto, que costumava percorrer os cemitérios da região tocando os mesmos acordes, relembrando seus colegas de profissão que já haviam partido.

La Biblioteca de Laura: La Santa Compaña


Quando a procissão começou, as matracas cantavam e ecoavam pelas ruas, criando um imponente cenário sonoro que não acabava por ali. Num determinado momento, elas paravam e as almas choravam. Como eu não esperava toda essa sonoplastia, isso me surpreendeu. Me arrepiei diversas vezes (...) Percebo que a Procissão das Almas é muito importante para a cultura de Mariana. Durante os dois anos em que vivi lá, pude reparar que as lendas sobrevivem graças a expressões espontâneas da comunidade. Durante a procissão, é difícil perceber quem são os participantes fantasiados, mas ainda que nem todos estejam a caráter, muitos acompanham e demonstram o respeito aos mortos. Os que não participam efetivamente ficam nas janelas aguardando a procissão passar” - Taciana Sene, de Poços de Caldas, mestranda em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getulio Vargas (FGV), que assistiu à Procissão das Almas no período em que morou em Mariana, em 2013 e 2014.
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Sempre ouvi essas lendas. Morei durante muitos anos na rua onde a procissão se inicia, na Dom Silvério, que tem um histórico de assombrações e situações que aconteciam. Quando criança tinha muito medo, mas a gente cresce e vê que são lendas e descobre outras histórias também” - Érica Chaves Pinto, turismóloga da Secretaria de Cultura, Turismo e Desportos de Mariana, já participou da procissão em 2011 e 2012.

 



Na frente de cada igreja, paramos para fazer uma prece aos mortos. As orações são todas cantadas, pedindo que as pessoas rezem para as almas que morreram sem pedir confissão” - Hebe Rôla, professora emérita da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e coordenadora do evento.
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Hebe Rôla também destaca a importância do evento do ponto de vista cultura e as dificuldades encontradas em realizá-lo:

Houve épocas, inclusive, conforme o padre, em que fomos combatidos e tivemos dificuldades. Não paramos, mas não éramos bem vistos aos olhos da Igreja. Agora isso não acontece mais. É a nossa identidade, a única hora em que o povo fala sem amarras, por isso, acho importante. (...)Nós representamos as lendas, não as encenamos. Às vezes, encenamos fora da procissão, durante o ano, em escolas e outras organizações. (...)Não existe uma versão definitiva sobre a Procissão das Almas e muito menos uma interpretação imutável sobre o significado da mesma e de sua representação. Mariana é uma cidade universitária, então vem muita gente de fora, querendo acabar com os hábitos e com a tradição, não frequentando a missa e os eventos da igreja, além das festas noturnas. Os moradores usam muito as lendas para tentar resgatar alguns princípios e manter a tradição da cidade. Por exemplo, a professora conta na escola com a finalidade de manter a obediência. O mais velho conta para o neto tentando mantê-lo longe das farras, sempre com a intenção de passar algum valor no qual ele acredita. Por trás da recontagem deles, via muito esse sentimento de manter as tradições e o patrimônio. (...)Vi que há uma relação íntima entra a Procissão das Almas, que é folclórica, e uma procissão muito antiga de franciscanos que saía de madrugada em Mariana, com caveiras, pois São Francisco fala muito que as pessoas vivem pensando na morte. Outra coisa que percebi é que há uma relação muito grande entre a Procissão das Almas e o período do padroado. Na nossa região havia a delação. Quem a fizesse ganharia a indulgência e iria para o céu. As pessoas eram obrigadas a fazer a confissão para a Igreja e a Coroa ficarem sabendo se havia roubo de ouro das minas. (...)As pessoas vêm uma vez e voltam, há uma continuidade na presença. Algumas já conhecem as lendas, mas como vem quem quer, às vezes aparecem participantes novos. Então eu renovo a contagem. É um trabalho muito espontâneo, já é uma coisa inata do folclore. Acho que a vantagem é essa. É uma preservação da tradição e a participação é espontânea”.


Nessa mesma procissão, outra lenda é retratada: “O Balaio da Pena”. Porém, dada sua importância, esse será retratado em um artigo específico. O evento é organizado pelo “Movimento Renovador” e pela “Academia Marianense Infanto-Juvenil de Letras”, sendo aberto ao público e totalmente gratuito. Caso tenham intenção de participar da festividade, mais informações podem ser obtidas no site do Idas Brasil, referenciado ao final desse artigo. 



Procissão das Almas não acontece mas segue conectada e presente à ...


Referências

Conheça Minas à https://goo.gl/ZDpvwo
Festas no Brasil à https://goo.gl/zsUJKo
Folha de Sabará à https://goo.gl/ri4EbM
Idas Brasil à https://goo.gl/Z9NXSf

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